LOTOU IGREJA

"Não perca a esperança": Coral de crianças órfãs da África leva mensagem em apresentação em Gramado

Com olhos emocionados, gritos de alegria e muitos aplausos. Assim foi a recepção do projeto social Watoto, de Uganda, na cidade da Serra gaúcha

Publicado em: 04/09/2024 12:37
Última atualização: 04/09/2024 21:08

 Com olhos emocionados, gritos de alegria e muitos aplausos. Assim foi a recepção do projeto social Watoto, de Uganda, na África do Sul, em sua apresentação na noite de terça-feira (3), em Gramado. O grupo cantou, dançou e trouxe mensagens de amor, fé e esperança, na igreja Ceac Vida Nações, localizada no bairro Moura.

Coral Watoto se apresentou em igreja de Gramado Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

A instituição lotou de pessoas da comunidade. Foram quase 1 mil pessoas presentes, que também trouxeram donativos para doação. Não havia custo de ingresso, porém, o público era convidado a levar um quilo de alimento não perecível.

As músicas apresentadas pelo coral foram das agitadas e dançantes, para aquelas emocionantes e que arrancaram lágrimas. Entre intervalos, histórias de vida e da realidade existe na localidade da África do Sul eram mostrados em telão.

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As crianças presentes demonstravam muita alegria e arriscavam algumas palavras em português. Ainda, falavam constantemente inglês, que aprendem nas vilas Watoto. "Não fiquem com vergonha, vamos lá, vamos todos ficar em pé e sigam o coral, mostraremos exatamente o que fazer", disse uma das meninas, na introdução de uma canção.

O coral africano está em turnê pelo País há alguns meses. O intuito é divulgar as músicas de seu novo álbum, Better Days - There is Hope (Dias Melhores – Há Esperança). Em cada local onde se apresentam, montam estandes com produtos trazidos de Uganda, confeccionados pelos próprios integrantes da vila Watoto, onde residem. Lá, mais de 3 mil crianças e mulheres recebem casas, famílias e cuidados holísticos, para viverem de forma saudável e integral, com comida, roupas, cuidados médicos e educação. 

Como obtenção de fundos, comercializam em suas apresentações lenços, camisetas, CDs e até mesmo animais, como elefantes, fabricados com tecidos e espuma. Todo o recurso obtido é convertido no próprio subsídio do projeto. 

Nesta quarta-feira (4), o grupo passará por Três Coroas. Na quinta-feira (5), estarão em Gravataí. Já de sexta-feira (6) a domingo (8), terão diversas apresentações em Porto Alegre. De lá, eles seguem para outras cidades em Santa Catarina e Paraná. 

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"Esperança é o que importa"

O africano Solomon Murungi, de 33 anos, é o líder do coral. Apesar de estar há diversos anos, não tinha vindo para o País ainda. "Minha experiência aqui no Brasil está sendo totalmente maravilhosa. Nós aproveitamos praticamente o tempo todo, não apenas a comida, mas as pessoas que fazem a comida, nossa, estão sempre sorrindo, querendo que a gente experimente o prato e desfrute. Eu simplesmente amo o Brasil", conta. 

Solomon e Hasifah fazem parte do coral Watoto Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Entre os lugares favoritos no País, estão as cascatas de Foz do Iguaçu. "Eu vi o arco-íris de muito perto, eu nunca tinha visto assim, são muito bonitas. Também vimos a estátua de Jesus Cristo (Cristo Redentor) no Rio de Janeiro, infelizmente não estava quente naquele dia, estava um pouco frio, então desistimos de ir nas colinas, mas ficamos muito entusiasmados de estar lá e conhecer pela primeira vez", revela.

Sobre a cidade da Serra gaúcha, conta o que chamou a atenção. "Particularmente de Gramado, chegamos hoje, mas podemos dizer que é a mesma linguagem de amor. Vimos que aqui tem influências da colonização alemã, então vamos explorar isso depois do concerto dessa noite", conta. 

A relação com o Watoto surgiu a partir de uma convite por suas habilidades artísticas. "Minha história no Watoto começou em 2009, quando fui convidado pela minha prima, que me pediu para entrar no grupo de danças, pode não acreditar, mas eu era um bom dançarino. Uma coisa levou a outra. Tive a oportunidade, eu estava limpando banheiros, o chão. Então isso passou a ser minha paixão, meu ato de servir. Eu viajo pelo coral desde 2017 e fiz três turnês. Comecei a liderar quando fomos para o Canadá, depois fomos para a Ásia, Europa e aqui", pontua. 

"Esperança é o que importa essa noite. O que o Watoto faz é inspirar esperança e transformação. Todo mundo precisa acreditar, o álbum que compartilhamos hoje ao redor do mundo é sobre melhores dias. Sabemos que muitas pessoas ficam presas em situações em que fazem com que percam a esperança nas vidas, mas Watoto existe para resgatar e ajudar a formar novos líderes africanos. Nós ajudamos milhares e milhares de crianças, que hoje são advogados, médicos, pilotos, possuem diversas profissões. Podemos celebrar, pois várias retornam muito gratas e dizem 'obrigado, Watoto, por tudo de bom que fizeram'. Nós acreditamos que podemos mudar uma nação", explica Solomon.

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O africano também comenta sobre como o projeto mudou sua vida. "Eu era extremamente tímido, muito inseguro. Não tive uma boa base familiar. Eu nunca tinha visto meu pai cara a cara e sabia que ele estava vivo e sei que ele continua vivo. Mas ele me rejeitou, quando cresci comecei a fazer perguntas sobre quem ele era. Tive uma oportunidade de falar com ele por telefone e ele mentiu para mim sobre ir me ver. E o Watoto me recebeu como filho, com pais que cuidaram e acreditaram em mim. Hoje sou um líder, tenho minhas filhas aqui, sou um pai para elas e inspiro elas a serem o que elas quiserem. Sou confiante atualmente, porque um dia fizeram isso por mim", afirma. 

Coral Watoto se apresentou em igreja de Gramado Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

A adolescente Hasifah Nalubega, de 13 anos, é membro do coral há 3. "Watoto mudou minha vida. Meus pais se separaram e minha mãe e eu não tínhamos aonde ficar. O Watoto nos acolheu, ensinou a minha mãe algumas habilidades que permitem ela trabalhar e agora posso ir para a escola", conta. 

Sobre o futuro, é enfática: "Quando eu crescer quero ser médica". 

O projeto

Na região leste do país africano, milhares de órfãos e mulheres são resgatados de um contexto de vulnerabilidade social para receber moradia, educação, cuidado médico e, principalmente, uma família.

São três vilas que existem em Uganda e no Sudão do Sul, com salas de aula, clínicas médicas, igrejas, parquinhos. Em cada casa, uma mãe Watoto cria oito crianças órfãs e vulneráveis. No caso dos bebês, há as babás, que cuidam de até quatro recém-nascidos. 

A educação é trabalhada intensivamente, tanto com crianças, quanto com jovens e mulheres. O ensino é visto como uma quebra no ciclo de violência e pobreza, o que dá dignidade e evita a dor de ter que enfrentar doenças, guerra e os problemas financeiros. Conforme o projeto, "a vulnerabilidade leva à gravidez indesejada, tráfico humano, abuso sexual, violência doméstica, HIV, casamento precoce e uma vida sem escolhas".

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Para levar mensagens de superação, acolhimento e transformação, nasceu o Coral de Crianças, que tem viajado desde 1994. Nos últimos 25 anos, já enviou mais de 100 corais ao redor do mundo. Mulheres, jovens e crianças cantam canções, dançam coreografias e transmitem suas histórias de vida por meio de um espetáculo.

Vinda para a Serra gaúcha

Em Gramado, esta é a terceira vez que o coral se apresenta. Conforme a pastora da igreja, Lisandra Berti Koepsel, é uma honra receber o Watoto. Assim que soube da turnê no Brasil, fez contatos para tentar trazer o projeto social. E deu certo. A vinda deles não tem custos e todas as apresentações são gratuitas.

"A gente conhece o Watoto desde 2019. No último ano ocorreu no Expogramado e desde que conhecemos tínhamos o desejo que viessem aqui, para ter esse momento, admiramos muito o trabalho que eles têm, as influências que eles têm. Então temos nessa noite um sonho realizado", conta. 

Cerca de 1 mil pessoas foram prestigiar o Coral Watoto em GramadoFernanda Fauth/GES-Especial
Coral Watoto se apresentou em igreja de GramadoFernanda Fauth/GES-Especial

Para ela, a mensagem que eles espalham é de extremo poder de influência.  "Acredito que a mensagem que eles têm, mesmo diante de uma realidade de sofrimento, perdas, abandono, por onde eles passam, têm uma alegria. É disso que precisamos nos nossos tempos, não olhar para as dores e para o que nos falta, mas olhar para aquilo que Jesus tem no nosso futuro e pode fazer, uma mensagem de esperança", justifica. 

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