No ano em que Gramado completa 70 anos de história e comemora os 105 anos da chegada do trem, um espaço que valoriza a ferrovia foi reinaugurado no bairro Várzea Grande. O Museu Estação Férrea, conhecido como Museu do Trem, foi reaberto em cerimônia no sábado (14), após passar por processo de revitalização.
Com direito a muita música e cantoria do Grupo Etnias de Gramado, o Grupo Faces também apresentou uma esquete teatral, denominada “Nos trilhos da história”, sobre a importância ferroviária e detalhes importantes desses últimos cem anos. Com texto do historiador Wanderley Cavalcante, a direção do espetáculo foi de Carla Reis.
O público ainda teve a oportunidade de vivenciar uma experiência antiga, através da fotografia de lambe-lambe, com Gustavo Closs De Marchi. Houve, ainda, distribuição de chás da Farmácia Viva.
“Chegamos aqui em Gramado em 2015, 2016, e um dos diagnósticos que fizemos é que Gramado precisava de um plano estratégico para a temática do patrimônio histórico. Sabemos que há muito ainda a ser feito, em atualizar a legislação, mas tenho certeza que nos últimos anos colocamos o corpo inteiro nesse caminho”, explica Cavalcante, que também é o coordenador do espaço.
Wanderley destacou sobre o processo de digitalização do acervo histórico, que não ocorrerá apenas no museu. “Toda fotografia que está em caixa de sapato, gaveta, vamos digitalizar, começando pelo Museu do Trem, que deverá ser em maio, após os outros dois museus, o Arquivo Histórico, o acervo de Iraci Casagrande, Marilia Daros. Sou romântico e otimista, estamos no caminho, trilhando para a profissionalização e efetiva construção de um plano estratégico para a defesa do patrimônio”, pontua.
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O secretário da Cultura Joe Cardoso ressalta que o restauro não foi apenas material. “O museu é um espaço de contar memórias, histórias, que não param de ser escritas. Nosso museu está aberto para a comunidade e como morador da Várzea Grande fico honrado em ter um museu dessa importância e imponência”, coloca.
O vice-prefeito Luia Barbacovi destaca uma de suas memórias sobre o trem. “Eu tinha 5, 6 anos, e fui com a minha mãe a Canela de trem, para fazer compra de tecido. E na viagem, uma fagulha queimou minha camisa. E nos outros convites, eu me negava a ir. E tenho certeza que a grande maioria dos brasileiros tem um sentimento negativo sobre o momento que foi decidido desativar as linhas ferroviárias, talvez por interesse econômico na época. Mas se olharmos o que representa em outros continentes, vemos que o Brasil perdeu muito e aqui, como região turística, perdemos muito mais.”
Em contrapartida, o gestor reitera sobre o futuro, com o projeto que está andamento e poderá ligar a região à capital. “Ao mesmo tempo, ficamos felizes, porque aos poucos estamos resgatando. Há duas semanas, estive com o governador Eduardo Leite, para acompanhar uma reunião, onde oficialmente foi apresentado o estudo de viabilidade socioeconômica para a linha de trem Porto Alegre – Gramado, que está bem adiantado o trabalho”, comenta.
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“Imagino o que será para nós termos uma linha do aeroporto até por volta da Unimed, o que vai mudar. As pessoas vindo almoçar, voltam ao final do dia. Se hoje já somos uma referência, imagina no futuro. A chegada do trem há 105 anos mudou Gramado e talvez sejamos a potência em turismo justamente pela ferrovia, forma de receber veranistas, implantação do comércio, mas acima de tudo, integrou Gramado, Região das Hortênsias, no cenário econômico do Rio Grande do Sul”, complementa o vice-prefeito.
“Não é um prédio onde se guarda as coisas antigas”
Para Wanderley, é preciso lembrar que o local não será apenas um espaço de preservação. “Esse museu é uma experiência de museu novo, não é um prédio onde se guarda coisas antigas, é voltado para a comunidade. Num tipo de concepção, de construção, que não é invenção nossa, é da museologia internacional, um museu voltado para o entorno, para o social. É para trabalharmos, inclusive, as problemáticas contemporâneas da nossa comunidade. Queremos um museu vivo, aberto, transformador.”
O local conta com exposições permanentes de objetos e documentos ferroviários, painéis infográficos didáticos sobre a história ferroviária e cenários de época. As exposições rotativas contam com itens dos projetos “Álbum de Famílias – Memórias da Comunidade”, “Objetos e Coisas da Gente” e “Museu e Escolas”.
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O museu também está comprometido com a pesquisa, sendo um Polo Bibliográfico de História e realizando a integração com museus da região Sinos – Paranhana.
Localizado na Rua Oscar Wille, 165, no bairro Várzea Grande, o local abre de terça a sexta-feira, das 8 horas às 11h45 e das 13h15 às 17 horas. Durante o mês de dezembro e janeiro, o espaço também abre aos sábados, das 8 horas ao meio-dia e das 13 às 16 horas.
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Reformas e melhorias
Foi em 2008 que a antiga estação de trem se tornou um espaço cultural. Fechado para visitação há mais de dois anos, o empreendimento foi reaberto nesse segundo semestre, já com a mudança para se tornar um museu. Desde o fim de 2023, houve revitalização da estrutura, que sofria com goteiras e possuía rede de energia elétrica antiga. Todo o acervo do Museu do Trem está sendo digitalizado pelo coordenador.
Toda parte estrutural teve melhorias, como troca de telhado, expografia nova, aberturas, pintura, divisórias e cercamento da parte externa com paisagismo. A iluminação ganhou destaque, com luzes especiais para os artigos históricos. Foram investidos aproximadamente R$ 200 mil pela Secretaria da Cultura.
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Novos banners informativos sobre o sítio histórico ferroviário, a antiga linha Taquara-Canela e sobre o próprio rabicho foram criados.
Espaços instagramáveis, para atrair os visitantes e turistas, foram criados. “Quisemos reproduzir cenários, como uma venda antiga, com cenografia, uma sala familiar de casa antiga, com rádio, vinis. Também o escritório do agente de linha e recriar uma plataforma, com malas, chapéus antigos, um trilho adesivado”, revela o coordenador.
Wanderley coloca que existem projetos envoltos não apenas no prédio que abriga os artigos. “O museu não é só este espaço aqui, tem toda uma territorialidade. Ele começa desde a localidade Moreira até Canela, e é isso que queremos explorar, mostrar que tem um rabicho, tem as estações. A história está horizontalizada”, explica.
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A ideia é que visitante veja como um museu a céu aberto. Uma valorização e requalificação do rabicho, um espaço de manobra onde locomotiva e vagões em marcha a ré realizavam uma subida, como um morro, sem o uso de túneis.