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OUTUBRO ROSA

Moradora de Gramado que tinha cinco meses de expectativa de vida apresenta remissão do câncer do colo do útero

Daiana Dambros, de 40 anos, passou por tratamento e ganhou um recomeço; especialista fala sobre importância do diagnóstico precoce

Mônica Pereira
Publicado em: 28/10/2024 às 14h:06 Última atualização: 28/10/2024 às 14h:13
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“Aproveita a tua filha porque você tem só mais cinco meses de vida”. Essa foi a frase que Daiana Dambros, de 40 anos, ouviu em março de 2022. A “sentença” fez com que ela perdesse o rumo. Depois de meses de investigação, ela foi diagnosticada com câncer do colo do útero. Do choque, ela juntou forças e fé para encarar o desafio de lutar contra a doença. E está vencendo. 

Daiana Dambros



Daiana Dambros

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Natural de Espumoso, no norte do Estado, Daiana e a família moram em Gramado há oito anos. Ela recorda que fazia os exames ginecológicos de rotina e que nunca tinha tido nenhum tipo de alteração. O primeiro alerta para a doença foi um sangramento durante a relação sexual que foi aumentando com o passar do tempo e que não parava.

Daiana diz que a descoberta foi difícil. “Eu passei por cinco médicos e todos diziam que tinha uma alteração e que era preciso investigar. Até que o último me disse aquela frase. Eu saí do consultório desesperada”, lembra.

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Mas a agente de viagens foi buscar ajuda para entender mais o que estava acontecendo e quais os procedimentos que poderiam ser adotados. Ao longo do tratamento, foram 29 sessões de radioterapia, seis de quimioterapia e uma transfusão de sangue. “Os médicos tinham muito medo de eu ter metástase. No meu caso, não tive que remover o útero”, diz.

Apesar desses últimos anos de dificuldade, ela conseguiu vencer a primeira etapa. A doença teve remissão.

“Agora eu continuo em observação, fazendo consultas e exames com frequência. É aquela incerteza, mas eu ganhei uma vida nova”, salienta. Daiana comenta que procurou estudar sobre o tema nesses últimos anos. “É um assunto delicado e as mulheres acabam não falando por vergonha”, acentua.

O que é a doença?

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a infecção persistente pelo HPV (Papilomavírus Humano) é responsável por 99% dos casos de câncer do colo do útero. A doença tem um desenvolvimento lento e tem como sintomas os quadros de sangramento vaginal intermitente ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal e dor abdominal.

“Com aproximadamente 570 mil casos novos por ano no mundo o câncer do colo do útero é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres”, afirma o Inca. O órgão de saúde federal descreve que a infecção pelo HPV é comum e a estimativa é que 80% das mulheres sexualmente ativas vão adquiri-la ao longo da vida. “A infecção pelo HPV é um fator necessário, mas não suficiente, para o desenvolvimento do câncer”, destaca o instituto.

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“É uma vida nova que estou levando”

Daiana Dambros



Daiana Dambros

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Daiana reforça que passou por muitos obstáculos. “Acho que a parte mais difícil foi eu me convencer que eu ia viver, que eu tinha que viver, e que não estava atrapalhando a vida a minha filha e do meu marido”, destaca em lágrimas.

Os julgamentos também estavam sempre presentes. “Como eu não perdi o cabelo, as pessoas diziam que eu ‘nem estava tão doente’, é complicado o que temos que escutar. A gente acha que tem amigos e uma família grande, mas são poucos que permanecem ao nosso lado. Isso dói muito”, frisa.

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Ao longo desses anos, Daiana conta com o auxílio da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Gramado. Por causa do tratamento, ela e o marido não conseguiam trabalhar e tiveram ajuda com alimentação, remédios. “A gente demora a se recuperar financeiramente. Eu ia todos os dias para Porto Alegre, tem os remédios que são caros. E o mais importante foi toda a ajuda psicológica que eu recebi”, declara.

Como uma maneira de retribuir a ajuda, Daiana auxilia a entidade de forma voluntária quando pode e também tem um projeto especial. “Eu tenho alguns rascunhos e a minha intenção é escrever um livro para contar a minha história e reverter parte da renda para ajudar a Liga, que tanto ajuda todo mundo”, prospecta.

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Daiana agora procura dar mais valor ao que realmente importa. “O que mais prezo é ter um tempo de qualidade com a minha família, porque eu era muito de trabalhar, trabalhar e trabalhar. Não podemos ficar deixando as coisas para outro dia. Quem sabe se vamos conseguir?”, pondera.

“É uma vida nova que estou levando, é um dia de cada vez. Dos cinco meses que eu tinha, estou aqui há mais de dois anos e meio. É uma renovação”, assegura.

Liga oferece amparo para pacientes

Parte do grupo de voluntários da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Gramado



Parte do grupo de voluntários da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Gramado

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Os pacientes que estão em tratamento do câncer em Gramado contam com o apoio da Liga Feminina. A entidade atende entre 180 a 200 pessoas rotineiramente, mas tem uma lista ativa com cerca de 300.

Todo o trabalho é realizado de forma voluntária, com o intuito de ajudar esses pacientes oncológicos, independente da idade ou sexo. Fundada há 48 anos na cidade, a Liga proporciona atendimento gratuito à comunidade, através de amparo emocional e financeiro aos pacientes de baixa renda com a doença.

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A proposta da entidade é fornecer ajuda para que as pessoas possam manter o tratamento, tanto na compra medicamentos e exames, como na alimentação e transporte. Ainda, oferece amparo psicológico, também com profissional voluntário.

A Liga fica localizada na casinha rosa do complexo do Centro de Cultura Arno Michaelsen, junto ao Lago Joaquina Rita Bier. O atendimento é sempre nas terças-feiras, das 13h30 às 15h30.

Presidente da entidade, Nelsi Salvador reforça que só é possível realizar esse aporte por causa das doações, ações beneficentes de empresas, venda de produtos, brechós e eventos sociais. Ela conta que o maior gasto é com medicamentos. “No mês passado a gente não conseguiu pagar, mas no retrasado a conta nas farmácias fechou em R$ 68 mil”, atesta.

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Para quem quiser ajudar a entidade, pode ser com voluntariado, adquirindo produtos da loja ou com doações em itens de alimentação, higiene pessoal e limpeza. A entidade também recebe doações em dinheiro, via Pix. A chave é ligadegramado@gmail.com.

A Liga divulga as ações que realiza durante todo o ano no perfil no Instagram @ligafemininagramado.

Mulheres precisam conhecer o próprio corpo para se prevenir

O diagnóstico precoce do câncer é o que pode ajudar a salvar vidas. A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que a mamografia anual seja realizada a partir dos 40 anos pelas mulheres. Mesmo que o Ministério da Saúde recomende o exame de dois em dois anos após os 50, a entidade aponta que estudos mostram que o rastreamento antecipado pode melhorar diversos aspectos, como passar por um tratamento menos agressivo e com maior chance de cura.

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O médico mastologista e especialista em cirurgia da mama, Eduardo Carvalho, explica que o câncer de mama tende a acometer, majoritariamente, mulheres com mais de 50 anos. Por isso, com as mamografias antes dessa idade, é possível diagnosticar uma possível doença ainda no estágio inicial.

De acordo com a Sociedade de Mastologia, uma em cada oito mulheres desenvolverá o câncer de mama ao longo da vida. Dentre as doenças oncológicas, é a principal causa da morte das mulheres no País. Assim, a mamografia é a primeira ferramenta utilizada pelos médicos para encarar essa batalha.

Eduardo Carvalho



Eduardo Carvalho

Foto: Divulgação

Eduardo, que é médico há 11 anos, diz que alguns fatores não conseguem ser modificados em relação à propensão em desenvolver o câncer de mama: a idade, a herança genética e o sexo. “Os homens também são acometidos, mas é algo baixo, em torno de 1% dos diagnósticos”, destaca o médico.

Entretanto, o especialista pondera que um estilo de vida saudável ajuda. Dessa forma, é recomendada a busca por uma alimentação sem industrializados, enlatados de um modo geral e com poucas frituras. “Sabemos da realidade que temos no Brasil, mas o ideal é uma dieta com comida mediterrânea, rica em fibras, legumes e vegetais”, analisa.

Outro ponto de observação, segundo o médico, é o controle do sobrepeso, pois a obesidade é um fator de risco, assim como o consumo de álcool e cigarros. “E aliar isso com a atividade física. Não é para ninguém ser atleta do dia para a noite, mas ir criando essa rotina”, aconselha.

Autocuidado

Para o mastologista, o toque nas mamas e axilas é importante para que as mulheres conheçam o próprio corpo e, consequentemente, percebam qualquer pequena alteração. Eduardo cita que esse autocuidado deve ser feito sempre e que não existe um dia correto ou associação com o ciclo menstrual. “Na suspeita de qualquer mudança, algo diferente, uma pequena nodulação, deve-se procurar um médico”, reforça.

O primeiro contato é com um ginecologista, que é especialista na saúde da mulher como um todo. Porém, Eduardo diz que o mastologista pode ser procurado, pois as doenças benignas da mama também devem ser tratadas por um mastologista.

“A chance de cura é mais de 90%”, diz especialista

Eduardo comenta que o câncer de mama pode ser tratado, de uma forma geral, de três maneiras. A primeira é a cirúrgica.

“Se a gente faz um diagnóstico precoce e temos uma possibilidade de cura para essa paciente, fazemos o procedimento. Pode ser a mastectomia, que é a retirada de toda a mama, mas, hoje em dia, a gente acaba deixando a mastectomia para casos muito selecionados. Temos um arsenal cirúrgico, técnicas para deixar a mama do jeito que está. A gente faz mínimas incisões para retirar os nódulos”, corrobora o médico, que também atua com a oncoplastia, que é a associação de técnicas de cirurgia plástica ao tratamento cirúrgico do câncer de mama.

Também há a possibilidade de tratamento com os chamados “remédios”, que incluem as terapias, como quimioterapia, hormonioterapia, imunoterapia e terapia-alvo. Por fim, a radioterapia. “A radioterapia é complementar ao tratamento cirúrgico, pois realiza o controle local do tumor, e os remédios o controle sistêmico do corpo todo”, relata Eduardo.

“Se a gente faz um diagnóstico precoce, a chance de cura é mais de 90%, é uma taxa alta para a descoberta em estágio inicial. Por isso que a gente incentiva tanto a mamografia. Além disso, o risco de morte por câncer de mama com o uso da mamografia regular e frequente diminui em 30%”, complementa o médico.

Conforme o mastologista, apesar de ser um tratamento difícil, as mulheres conseguem ter uma qualidade de vida muito boa, após a doença.

Eduardo atua na Santa Casa, em Porto Alegre, mas está realizando atendimentos também em Gramado, na Clinivitta. As consultas, por enquanto, são particulares, mas está iniciando processos de credenciamento junto a planos de saúde e Secretaria da Saúde da cidade.

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