abc+

CONHEÇA A HISTÓRIA

"Ser pai é um misto de amor e gratidão": Morador de Gramado vive um Dia dos Pais mais completo ao acolher criança

Pai da Pietra, Igor Athaydes decidiu participar do programa Família Acolhedora. Há um ano, ele é a figura paterna também de um menino que estava no abrigo municipal

Mônica Pereira
Publicado em: 11/08/2024 às 10h:44
Publicidade

Atenção, carinho, amor, tempo, dedicação. Essas são algumas palavras que descrevem uma saudável relação familiar. Para crianças e adolescentes que não têm essa base de origem, há pessoas dispostas a acolher, escutar, dar apoio.

Igor participa do projeto Família Acolhedora em Gramado



Igor participa do projeto Família Acolhedora em Gramado

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Pensando em contribuir com o futuro desses jovens, o Igor Athaydes, a esposa Gabriela, ambos com 38 anos, e a filha Pietra, de 8, ingressaram no programa Família Acolhedora. Neste domingo de Dia dos Pais, a casa estará mais cheia do que no ano passado. Para eles, também mais alegre e mais completa. Desde 25 de agosto de 2023, um novo integrante faz parte da vida da família.

Devido ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e pelo caso estar em tramitação judicial, a reportagem vai omitir o verdadeiro nome da criança. Vamos chamá-lo de Roberto.

Primeiro acolhido em Gramado 

Chegou ao abrigo municipal de Gramado com apenas 5 meses, por determinação da Justiça. Após um período no local, foi o primeiro acolhido do programa na cidade.

Igor soube da iniciativa através de um amigo. Gostou da ideia e conversou com a esposa por entender que seria alvo viável para eles. O casal tinha o intuito de adotar uma criança, porém perceberam que poderiam auxiliar muitas outras ao participarem do Família Acolhedora. Depois de alguns meses de capacitação e preparação, o Roberto chegou na casa.

VEJA TAMBÉM: Conheça a história do Dr. Nelsinho, pediatra que há 51 anos se dedica a cuidar das crianças da região

O amor foi no primeiro instante. Durante o processo de habilitação, o objetivo era acolher uma criança que tivesse até a idade da Pietra para que pudessem ser companhia um para o outro. Apaixonaram-se pelo Roberto assim que viram a primeira foto. O processo de adaptação de todos foi rápido. Em menos de um mês, eles estavam em uma nova rotina.

Por falta de uma figura paterna no primeiro ano de vida, Roberto teve até um pouco de resistência para se aproximar do Igor. Mas isso não durou muito. Hoje, eles são um “grude só”, como define Gabriela. De um menino que pouco se comunicava e pouco interagia, Roberto agora é pura energia. Em um ano, foram quatro quilos a mais de muito desenvolvimento. “Ele é carinhoso, alegre e adora cantar. Passa o dia cantarolando”, brinca Igor.

Do ciúme da chegada de um novo membro na família, Pietra e Roberto têm uma relação de companheirismo. “Os dois aprontam juntos”, atesta Gabriela. Entre as brincadeiras preferidas, rolar no chão e esconde-esconde pelo jardim.

“Estamos fazendo o melhor para ele” 

Gabriela, Pietra e Igor fazem parte do programa há um ano e acolheram o Roberto



Gabriela, Pietra e Igor fazem parte do programa há um ano e acolheram o Roberto

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

O futuro do Roberto ainda não está definido, apesar da indicação da equipe técnica do abrigo municipal para que ele seja destituído da família de origem e vá para o processo de adoção. A tramitação é burocrática. Enquanto isso, ele vai ganhando a atenção, amor e o carinho que precisa. A separação é algo que eles buscam não pensar.

“Estamos fazendo o melhor para ele. Se a gente ficasse pensando no ‘depois’, ele estaria lá no abrigo e não teríamos vivido tudo o que vivemos neste um ano. Levamos ele para a praia, para o sítio dos meus pais. Criamos ele da mesma forma que a Pietra, sem nenhuma distinção. É o mesmo amor, educação. Acredito que seria muito bom se as outras crianças que estão no abrigo pudessem ter essa oportunidade”, reforça Igor.

MAIS HISTÓRIAS: Pãezinhos com linguiça e cucas coloniais fazem sucesso na Praça das Etnias, em Gramado

Experiências vividas e memórias criadas

Igor participa do programa Família Acolhedora



Igor participa do programa Família Acolhedora

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Criando memórias e proporcionando momentos de integração, a família ressalta que a experiência de ser uma família acolhedora está sendo ótima. “No futuro, quando a gente perceber que ele se tornou um homem bom, vamos ficar felizes por termos participado disso”, complementa Igor, que é chamado de pai por Roberto. “Transformou a nossa vida”, salienta.

SAIBA MAIS: “Quando me dá saudade deles, olho nossas fotos”, diz adolescente que perdeu família em deslizamento de terra em Gramado

“Percebemos a dedicação das pessoas que trabalham no abrigo, mas não é a mesma coisa desse convívio em família. O [Roberto] vai com a gente para todos os locais, as pessoas interagem, conversam com ele, um convívio na comunidade”, pondera Igor. “Eles só precisam de tempo e carinho”, acrescenta.

O domingo será o primeiro Dia dos Pais com as duas crianças. Para o momento especial, estão planejando um passeio. Igor era gerente em uma loja de calçados e não costumava passar essas datas comemorativas com a família. Depois que se tornou consultor, está com mais flexibilidade e dando prioridade a isso. “Eu me culpava bastante por perder momentos com a Pietra, mas agora estamos conseguindo aproveitar”, cita.

DE PAI PARA FILHO: Conheça a história da família que administra famoso passeio em Gramado há 43 anos

“Acho que ser pai é um misto de amor e gratidão. Você dá carinho e recebe muito mais em troca, algo que vem sem interesse. E ter alguém a mais na nossa mesa todos os dias é muito bom, faz a diferença para o nosso crescimento”, aponta Igor.

Programa é benéfico para as crianças, afirma psicóloga

Ana e Camila Webster são responsáveis pelo programa



Ana e Camila Webster são responsáveis pelo programa

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

O programa Família Acolhedora foi instituído em Gramado em outubro de 2022 e é de responsabilidade da Secretaria da Assistência Social. Depois de um período de capacitação das equipes e das primeiras famílias inscritas, Roberto foi acolhido. Atualmente, há sete famílias habilitadas.

A psicóloga Camila Webster e a assistente social Ana Piassa estão à frente do projeto. Elas realizam um acompanhamento trimestral de cada acolhido. De acordo com as profissionais, as equipes fazem o possível pelas crianças e adolescentes que estão no abrigo, mas há falta de pessoal e grande demanda.

Camila conta que a ideia de implementar o serviço começou depois da pandemia, quando perceberam o aumento no número de abrigados. O espaço, que inicialmente foi projetado para 14 jovens, chegou a ter 26. “Lembrando que o abrigamento é a última instância”, declara. “A gente tem que ter muita segurança para o desabrigamento, mas sabendo o prejuízo que é estar no abrigo, temos também pressa”, pondera.

Ela frisa que vai existir o sofrimento de ambas as partes quando a criança ou adolescente voltar para a família de origem ou for para adoção, entretanto, os benefícios enquanto esse processo não ocorre é muito maior. “No caso do [Roberto], em sete dias ele já era outra criança, ria mais, o semblante mudou. Chega a ser físico o desenvolvimento que temos percebido durante o tempo em que estão nas famílias acolhedoras”, alega. 

Ambiente acolhedor

A assistente social corrobora que todas as configurações de família são aceitas no programa, como pessoas solo e casais homoafetivos. “Buscamos quem ofereça vínculos, que sejam afetivas, que criem um ambiente saudável. Queremos reduzir os danos e proporcionar um ambiente diferente daquele de violência que eles passaram”, reforça Ana.

CONFIRA: Gramado vai desapropriar área e retomar obras para ligação viária entre os bairros Piratini e Prinstrop

“A gente é um instrumento de todo esse leque da rede que deveria ser mais ágil, para poder oferecer um acolhimento mais breve, mais cuidadoso, mas nem sempre a gente consegue por toda a burocracia e demanda que temos”, comenta Ana.

Um dos requisitos para entrar no projeto é não fazer parte do Cadastro Nacional de Adoção para que não haja nenhum tipo de benefício ou forma de burlar o sistema. As famílias que acolhem os jovens recebem da Secretaria um subsídio financeiro de um salário-mínimo por acolhido. “É importante que as pessoas saibam que o Família Acolhedora é uma guarda provisória, não definitiva”, aponta.

Ana explica sobre todos os trâmites da adoção, reforçando que o cadastro nacional existe para que as crianças e adolescentes encontrem uma nova família e não o inverso.

“Quando se entende que se esgotaram as possibilidades com a família de origem, vamos pensar na família substituta. Aí então é feita uma busca das famílias que podem se encaixar no perfil daquela criança ou adolescente. A nossa sensibilização é que as pessoas não limitem tanto o questionário e perfil”, enfatiza.

Como participar 

Para uma pessoa ou família que deseja participar do programa, é preciso atender a alguns critérios, como: ser solidário, ter disponibilidade afetiva, residir em Gramado, ter mais de 21 anos, não possuir antecedentes criminais, não ter interesse em adoção e haver a concordância de todos os membros da família.

Para quem quiser conhecer mais, basta contatar a equipe do projeto, através do telefone (54) 3286-1339 ou do WhatsApp (54) 9 9979-3845. Uma nova capacitação para famílias ocorrerá neste mês de agosto.

LEIA MAIS: Moradoras de Gramado escrevem livros infantis sobre perseverança e biodiversidade

Publicidade

Matérias Relacionadas

Publicidade
Publicidade