O sonho de dar a volta ao mundo é compartilhado por muitas pessoas. Conhecer belas paisagens, novas culturas, vivenciar novas experiências. Esse também é o desejo do morador de Gramado Henrique Thomas, de 37 anos. E ele vai realizar tudo isso de uma maneira um pouco diferente: através das montanhas mais altas de cada continente. Um desafio e tanto. O primeiro passo já foi dado, e 2023 marca oficialmente o início da expedição, que tem previsão de término para 2026.
Só que essa história iniciou há muitos anos, ainda na pequena cidade gaúcha de Giruá, onde Henrique nasceu. Quando tinha cerca de 12 anos, o livro ‘No Ar Rarefeito’, de Jon Krakauer, lhe chamou a atenção. Relatava uma tragédia, em 1996, no Monte Everest, considerado o topo do mundo.
Esse primeiro contato despertou no advogado a vontade de praticar montanhismo, além de lhe apresentar ao projeto sete cumes, proposto pelo norte-americano Dick Bass e realizado por ele em 1985. A viagem consiste em subir a montanha mais alta de cada continente, sendo que o americano foi dividido em norte e sul. Menos de dez brasileiros já conquistaram o feito, conforme registros.
“Depois de adulto eu quis saber como funcionava o projeto e vi que era muito difícil por causa do custo elevado. São lugares inóspitos e que precisam de muita logística”, destaca Henrique. “Decidi deixar de lado, mas me preparando fisicamente, psicologicamente e financeiramente para quando tivesse a oportunidade. Eu planejava completar esse desafio ao longo de mais de 20 anos”, frisa.
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Descoberta
Henrique conta que sempre gostou de Gramado e que frequentava muito a cidade até que decidiu se mudar em definitivo em 2015.
Foi nesse mesmo ano que o montanhista fez uma viagem de dois meses pela América do Sul, subindo algumas montanhas. “Foi uma experiência de conexão incrível”, revela. Um dos locais mais desafiadores foi o Monte Chacaltaya, na Bolívia.
Sete anos depois, Henrique foi novamente ao Chacaltaya. “Quando eu cheguei, vi que a montanha estava muito diferente – algumas comunidades se instalaram na base de maneira irregular, tinha esgoto a céu aberto e pouco gelo na montanha. Pude ver na prática as alterações climáticas que estão ocorrendo”, avalia.
Durante os cerca de oito dias dessa expedição, o advogado reforça que ficou introspectivo.
“Fiquei pensando comigo mesmo sobre o que tinha visto, até porque a minha vida tinha mudado um ano antes com a chegada da minha filha Sophia. Comecei a me preocupar mais com as questões coletivas e com o futuro”, complementa Henrique.
Provar que sonhos podem se realizar
Com o nascimento da Sophia e a vontade de mostrar para ela que os sonhos podem se realizar, Henrique queria subir o Monte Aconcágua, na Argentina, que é a montanha mais alta da América do Sul, com 6.961 metros, e o primeiro dos sete cumes.
“Eu comecei a treinar todos os dias às 6h30 da manhã porque em janeiro de 2023 eu queria ir para o Aconcágua. E foi na academia que eu conheci o Jeferson Braga. Começamos a conversar sobre montanhismo, contei para ele sobre o projeto e ele me disse que iria comigo pelo menos até a base da montanha”, diz, ponderando que esse primeiro trajeto é de 30 quilômetros. Jeferson é CEO do Own Time Home Club Gramado e decidiu apoiar o projeto.
E assim foi feito. Com a participação ainda do guia da expedição, o engenheiro ambiental Henrique Franke e do fotógrafo Gabriel Tarso, os quatro saíram para desbravar a primeira montanha do roteiro, no dia 4 de janeiro deste ano.
"Que mundo você quer deixar para seus filhos?"
Henrique frisa que, ao compartilhar sobre a realização do projeto com Jeferson, e ao relembrar o que viveu na Bolívia, surgiu o propósito da expedição ter o viés da sustentabilidade.
“Decidi que o nome seria Sete Cumes para Sophia. E esse Sophia é simbólico porque representa uma geração através dela. Queria aproveitar a repercussão que um projeto desse tem para causar uma reflexão nas pessoas: que mundo você quer deixar para seus filhos?”, indaga.
A partir disso, o advogado e Jeferson decidiram que a expedição seria documentada. “Com o patrocínio da Own Time e da Sicredi Pioneira executamos a primeira etapa. Logo deve estar saindo o primeiro dos sete vídeos que vamos fazer ao longo dessa jornada”, explica Henrique. As experiências também são compartilhadas nas redes sociais, no @setecumesparasophia.
“Quando a Sophia crescer, ela vai poder ver tudo o que foi feito. Além da sustentabilidade, tem muito a questão de que a gente deve, pode e consegue correr atrás dos nossos sonhos. É isso que eu quero passar para ela”, garante.
Conquista do Aconcágua
A primeira viagem da volta ao mundo durou em torno de 20 dias. “Tem o campo base, que é onde o Jeferson ficou conosco, e outros três acampamentos ao longo da subida até chegar ao cume, que é o ponto mais alto. Foi cheio de desafios, tivemos que ficar alguns dias a mais por causa da previsão do tempo. Tem o desgaste físico por causa da altitude, o psicológico”, avalia.
Entretanto, o advogado ressalta que vale a pena e que a filha estava sempre nos pensamentos dele. “Foi muito emocionante chegar ao cume. Eu nunca pensei em desistir, mas quando eu media a dificuldade do que estava acontecendo, eu praticamente via ela me dando um incentivo”, reflete.
Cronograma da aventura
No segundo semestre deste ano, os viajantes irão até o topo do Kilimanjaro, na África. Para 2024, vão encarar os desafios do Denali, na América do Norte, e Vinson, na Antártida.
Em maio de 2025, será a vez de conhecer o Elbrus, na Europa, e, na sequência, a Pirâmide Carstensz, na Oceania. Por fim, o mais alto cume do mundo, o Everest, na Ásia, que deve ser desbravado pelos montanhistas em abril de 2026.
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