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Mais uma área de Gramado é interditada e moradores caminham por quase dez quilômetros para sair de bloqueios

Localidade registrou quedas de barreiras no sábado e nesta quarta-feira ainda apresentava riscos de novos deslizamentos

Fernanda Steigleder Fauth
Publicado em: 22/11/2023 às 19h:55
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ATUALIZAÇÃO:

O interior de Gramado, assim como outros diversos bairros da cidade, também sofre com as consequências da chuva forte que atingiram a cidade no último final de semana. A Rua Moreira, na Linha Caboclo, está totalmente bloqueada. No local, cinco casas foram interditadas pela Defesa Civil na terça-feira (21).

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Deslizamento de terra na Linha Caboclo, interior de Gramado



Deslizamento de terra na Linha Caboclo, interior de Gramado

Foto: Raphael Seabra/Especial

Rachaduras nas casas e quedas de barreira são os perigos iminentes da área, que já teve deslizamentos de terra na manhã de sábado (18). Após o desbarrancamento de muita terra, o acesso de passagem dos veículos ficou fechado. A região ficou sem energia elétrica, água e, consequentemente, comunicação.

As famílias precisaram caminhar nove quilômetros, em estrada de chão, com crianças e animais domésticos, para conseguir carona e avaliar para onde podiam ir. A Linha Caboclo é um local afastado do Centro de Gramado, há cerca de 20 quilômetros. Também fica há aproximadamente 13 quilômetros de Três Coroas. Entretanto, na data, o município vizinho enfrentava enchente nas áreas centrais.

“Estávamos em casa, dormindo, quando acordamos no susto, com os vizinhos desesperados. A casa deles tinha ido abaixo. Vários moradores próximos se refugiaram na nossa, pois por ficar bem mais alto, com mais árvores no barranco, a terra não atingiu tão forte a estrutura. Foi um pesadelo, vários estrondos e víamos casas sumir. Caiu muita terra na estrada, não dava para passar de carro”, conta a gestora ambiental Helena Senna. 

Um mês de moradia

Helena e o jornalista Raphael Seabra moravam no local há apenas um mês, quando a casa tinha ficado pronta. Vindos de Porto Alegre, começaram a procurar por um terreno durante a pandemia e a busca era por qualidade de vida. “Quando vimos aquele lugar, nos apaixonamos”, lembra a gaúcha de 36 anos. 

A residência do casal ficava numa parte mais alta, por isso, não foi tão atingida. Entretanto, dos seis hectares, dois sofreram com deslizamentos de terra. “A área está com várias rachaduras, que chegam a contornar alguns terrenos. O solo ali é de saibro, mistura de pedra com terra, então quando entra água, faz perder aquela aderência e desaba. Nossa casa agora está em área comprometida, estamos proibidos de subir, com muita possibilidade de desbarrancar”, explica Helena. 

Os porto-alegrenses agora estão de forma temporária numa pousada. Eles possuem um apartamento na capital e de lá aguardam a situação melhorar, para verificar a possibilidade de alugar um carro e levar os itens pessoais que haviam trazido na mudança. 

Após a Secretaria de Obras reabrir o caminho da estrada com retroescavadeira, eles retornaram à casa, para buscar o carro e alguns itens pessoais. Eles também acompanharam a avaliação da Defesa Civil, que deve emitir um laudo em relação às condições da região.

“Não consigo dormir à noite, parece que ouço os estrondos” 

A moradora Terezinha de Souza, de 51 anos, nasceu e foi criada na Linha Caboclo. Há gerações, sua família tem a localidade no interior como moradia. Em 2022, as famílias, inclusive, foram homenageadas pela Prefeitura. Ela considera que este foi um acontecimento para entrar na história da cidade. “Nunca vimos algo assim, ninguém esperava por uma tragédia dessas”, revela. 



Na sua casa, moravam ela, o marido e dois dos cinco filhos. A estrutura está condenada e, conforme comunicado pela Defesa Civil à família, não é possível mais reconstruir no local. Partes da cozinha, da estrutura e telhado foram totalmente destruídas, assim como o celeiro de animais.

Para Terezinha, será um dia nunca esquecido. “Meu filho mais velho já não dormiu, era muita chuva, raios, trovões. Pelo volume de chuva, estávamos com medo de desbarrancar. Ele pegava uma lâmpada de emergência, saía para a rua, para tentar ouvir os barulhos. Mas como tinha barulho do temporal, mais o riacho que passa na frente, era difícil distinguir. Mais tarde, quando meu marido desceu no galpão para tratar os animais, escutamos um barulhão, meu filho chamou eu e o irmão para sairmos da casa. Nisso, só deu tempo de soltar o potreiro e a barreira virou o estábulo”, conta.

“Depois veio mais duas quedas de barreira, minha casa ficou entre três deslizamentos de terra. Eu não consigo nem dormir à noite, parece que ouço os estrondos”, complementa. 

O gado, entre vacas, terneiros e bezerros, foi salvo porque segundos antes o marido de Terezinha conseguiu cortar as cordas que os seguravam. Já a plantação foi totalmente perdida. Assim, a renda financeira da família foi comprometida. 

Agora eles estão na casa de um primo, há cerca de um quilômetro do sítio. Porém, diariamente continuam indo até a residência para tratar e alimentar os animais. “Temos 11 animais só de gado, mais as galinhas, os porcos. Temos a licença da Defesa Civil apenas para ir lá e cuidar deles. Sabemos que existem riscos, mas enquanto um vai, o outro fica monitorando”, explica Terezinha.

Apesar dos problemas, ela quer continuar morando na Linha Caboclo. “Não sei se consigo morar em outro lugar, foi aqui que me criei, o pessoal me acolheu aqui”, salienta.

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