Um gesto de amor que se repete há 54 anos. Desde o primeiro ano de casados, Roque da Silva, de 77 anos, presenteia a amada, Elisa da Silva, de 73, com rosas vermelhas. O número de flores foi crescendo ao longo dos anos. Na quinta-feira, dia 6, o buquê entregue tinha 54. Tradição que começou por causa das dificuldades da época, mas que se mantém firme e forte, assim como o amor e o companheirismo.
Foi em Gramado que os dois se conheceram e começaram a viver esse romance. Roque era adolescente quando saiu da Linha Marcondes, no interior, para morar na área urbana. Trabalhava em uma fábrica de calçados. Já Elisa, natural de Campo Bom, vinha para o município curtir as férias de inverno e verão. Quando os pais se aposentaram, decidiram morar na Serra.
Ela começou a trabalhar e costumava cruzar com Roque pelo caminho. Mas foi em uma excursão da comunidade luterana, a Igreja do Relógio, em 1967, que começaram a conversar. Os bailes também eram oportunidades para que pudessem se aproximar. Na festa de Réveillon do Clube Minuano daquele ano, o compromisso foi firmado.
Timidez
Roque conta que era tão tímido que não houve nem um pedido formal. “Eu era colono. Quando chegamos na cidade, mal sabia falar português. Em casa, a gente só conversava em alemão”, recorda. Assim, o “pedido de namoro”, foi sentar na mesma mesa que a família da amada para as comemorações do ano-novo. Em pouco tempo, o futuro marido já havia conquistado a todos. “Nós dois sempre valorizamos muito a família”, relata Elisa.
Em 1968, Roque ingressou no Banco do Brasil e iniciou a carreira de 25 anos como bancário. Elisa começou a trabalhar em uma loja de calçados. Juntando o que tinham, decidiram se casar. Eles citam que era um dia frio. A neve chegou naquela tarde de 6 de junho de 1970 e se estendeu durante a noite. A Igreja do Relógio estava repleta de parentes e amigos para celebrar a união.
Flor preferida
Com os recursos financeiros escassos, moraram inicialmente com os pais de Elisa até que começaram a construir o próprio patrimônio. “O meu salário dava exatamente a prestação da casa”, recorda Roque. No primeiro ano de casados, para a data não passar em branco, decidiu dar a flor predileta da esposa. “A gente era pobre, não tinha como dar um buquê. Ela gostava de rosa vermelha e uma rosa eu conseguia comprar”, brinca. Com o passar do tempo, jantares e outros presentes também eram entregues na data, sempre com uma rosa para ano celebrado.
Do amor do casal, eles tiveram dois filhos, Marilise, de 53 anos, e Jeferson, de 45. E são avós do Miguel e do João Arthur.
Os segredos para um relacionamento duradouro
O casal aponta alguns segredos para um relacionamento duradouro. “Companheirismo, dividir as coisas, confiar um no outro, ouvir. A gente vai vivendo e tendo experiência, aprendendo”, destaca Roque. “Por qualquer discussão muitos querem separar, não param para sentar, conversar. Acho que isso está faltando muito nos dias de hoje”, completa Elisa. Claro, não é possível esquecer da paciência. Em tom alegre, eles revelam que é preciso equilíbrio. “O Roque tem paciência demais”, diz. “Ela nem tanto”, brinca o companheiro.
Acidente de trânsito foi maior desafio encarado
Como em todo relacionamento, há muitos momentos de superação. Um dos mais difíceis para o casal foi um grave acidente de trânsito sofrido por Elisa e Mari.
Em 7 de novembro de 1987, estavam indo para Foz do Iguaçu e Paraguai para comemorar a formatura em magistério da filha, quando o ônibus em que elas estavam capotou. Mari teve traumatismo craniano e ficou 93 dias em coma. Com longos anos de recuperação, convive até hoje com as sequelas. Elisa teve quase dez fraturas no braço e ombro.
Com sua paixão pelos livros, Mari trabalhou por 15 anos na biblioteca municipal, onde ficou conhecida, assim como toda a família.
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