RECOMEÇO
GRAMADO: "Parece que a gente está começando do zero"; como foi a volta para casa de moradores de bairro evacuado
Residentes falam sobre sensação de recomeço e também perdas financeiras; confira
Última atualização: 01/12/2023 11:22
Um bairro que vai retornando, aos poucos, à rotina. Roupas penduradas, colchões do lado de fora das casas, eletrodomésticos sendo carregados. Assim foi a volta dos moradores do Três Pinheiros, na quinta-feira (30), 11 dias após o bairro ser evacuado.
Depois de momentos de angústia e preocupação, na quarta-feira, dia 29, 81 famílias receberam essa boa notícia, durante uma reunião com a Prefeitura de Gramado. O número representa boa parte das cerca de 125 residências que foram interditadas por causa do risco de deslizamento de terra.
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A autorização da ocupação das casas aconteceu quando o Executivo recebeu o relatório de ações emergenciais elaborado pela empresa Azambuja Engenharia e Geotecnia. O documento separou o bairro em três áreas: locais de baixo risco, de risco moderado e de risco elevado. Isso é o que determina o retorno.
Cerca de 30 dias para conclusão de obras emergenciais
Por volta das 8h30 da quinta-feira, caminhões e uma máquina escavadeira começaram os serviços previstos para que as famílias da área amarela possam voltar às casas. O secretário de Obras e Agricultura da cidade, Rafael Ronsoni, acompanhou o trabalho. Ele conta que a atuação nos bairros Três Pinheiros e Planalto será dividida em três fases, basicamente.
“Iniciamos com uma estrutura de contenção na perimetral. Entre a sexta e o sábado, começamos a fazer um serviço de drenagem na parte do bairro Planalto e o terceiro passo vai ser a retirada de algumas árvores”, adianta, afirmando que empresas terceirizadas foram contratadas. “O prefeito determinou que as obras começassem o mais rápido possível e que a gente não pare até que tudo esteja concluído”, complementa.
Ronsoni pondera que é difícil estabelecer um prazo para o término dessas etapas, mas acredita que levará entre 20 e 30 dias.
“Além disso, estamos com toda a nossa equipe da Secretaria de Obras e Agricultura na rua, consertando estradas, ajudando na recuperação de propriedades e pontes”, frisa.
O vice-prefeito Luia Barbacovi pondera que os outros locais de risco, como loteamentos Orlandi e Alphaville, bairro Piratini, e regiões do interior, também estão sendo monitorados e estudados e que, em breve, o Executivo deverá passar novas informações para os moradores.
Atualmente, segundo levantamento da Prefeitura, 16 pessoas seguem abrigadas no ginásio da Escola Senador Salgado Filho, no bairro Piratini, e 30 no ginásio da Escola Vicente Casagrande, no bairro Altos da Viação Férrea.
Volta para casa e recomeço
O momento é de recomeçar. A proprietária de um mercado e lancheria no bairro, Lia Amaral, de 60 anos, destaca que aguarda o retorno dos moradores para que tenha movimento no comércio. Trabalhando no local há 24 anos, tira o sustento do negócio. “Infelizmente, os boletos não pararam de chegar. Agora, é esperar que os clientes voltem para recuperar o que perdemos nesse tempo de portas fechadas”, prospecta.
Na casa do Juarez dos Santos, de 34 anos, a quinta-feira foi de faxina. Ele mora com a esposa e a filha, de 2 anos. “Foi estranho ter que deixar a nossa casa, fechar tudo e ir embora. A gente nunca espera isso acontecer. Estou arrumando aqui para que elas possam voltar”, conta o garçom, que estava com brinquedos e colchões sob o sol.
A família mora de aluguel no mesmo terreno da casa da Cristiane Santiago, de 46 anos. Ela fez um investimento na propriedade para ter renda de aluguéis. “A gente voltou para casa na quarta à noite mesmo, mas não consegui dormir. Ainda sinto uma insegurança. Ao mesmo tempo, é bom estar de volta”, assegura.
Os residentes contam que algumas famílias que moravam de aluguel decidiram deixar o bairro. Um exemplo é a Eliziane Crestani, de 24 anos. “A gente já estava pensando em ir para Santa Catarina no ano que vem, mas o que aconteceu antecipou essa decisão”, ressalta, buscando os pertences que estavam na casa.
Com residência própria no bairro, Bárbara Scariot, de 39 anos, morou a vida toda no mesmo local. Ela diz que saiu para almoçar na casa de parentes, no dia 19, e que recebeu a notícia que só poderia buscar algumas roupas e os animais.
“Foi desesperador não saber se a gente voltaria. Foram sofridos os dias longe de casa, mas graças a Deus estamos de volta”, acrescenta. “Parece que a gente está começando do zero, sabe? É essa a sensação que eu tenho”, pondera.
A moradora reforça que agradece também pela casa estar intacta. "Lá no bairro Piratini, as casas foram danificadas e as pessoas vão demorar mais para conseguir retornar", argumenta.
Os vizinhos José Aguiar, de 57 anos, Valério Dandolini, de 49, e Volnei Verdum, de 46, estavam conversando sobre os dias que passaram longe do bairro. Todos os três foram para casa de parentes. “Perdi minha renda, pois tenho casas de aluguel aqui”, ressalta José.
Volnei é mecânico e tem a oficina ao lado da casa. Precisou levar os carros a outros profissionais para não deixar os clientes desamparados, mas lamenta os dias que ficou sem trabalhar e, consequentemente, sem receber.
Ainda na expectativa pelo retorno para casa
O aposentado Omar Cardoso, de 73 anos, olhava para a residência que construiu há dez anos. Localizada na área amarela, precisa aguardar que as obras emergenciais sejam concluídas para ter segurança de voltar. Enquanto isso, alugou um espaço em Canela para ficar.
“Decidi morar mais perto da família e vendi minha chácara em Bom Jesus. A gente não imagina que vai acontecer uma coisa dessas, mas é bom saber que já estão trabalhando”, salienta. “A gente tem que esperar agora. Ouvir o que os técnicos falam e ter calma”, corrobora.
Eder Rossa é um dos líderes dos moradores e busca diálogo com o Executivo para conseguir um aluguel social para as famílias que estão nas áreas amarelas e, principalmente, vermelhas.
Laudo técnico determinou as áreas de risco no bairro
Locais de baixo risco de danos (área verde no mapa): compreende 81 edificações no bairro Três Pinheiros e duas edificações no bairro Planalto. Famílias dessa área podem retornar às casas;
Locais de risco moderado de danos (área amarela no mapa): compreende 30 edificações do bairro Três Pinheiros. Famílias dessa área retornam para as residências após obras realizadas pela Prefeitura;
Locais de risco elevado de dano (área vermelha no mapa): todo loteamento Don Felipe, uma edificação no bairro Planalto e 15 edificações no bairro Três Pinheiros. Famílias dessas áreas ainda não têm previsão de retorno.
A Prefeitura destaca que, a qualquer momento, poderá ser solicitada nova evacuação, caso sejam identificados indícios de ruptura iminente ou sejam atingidos os limites pluviométricos definidos para o monitoramento.