ENTENDA
GRAMADO: Geólogo explica sobre movimento de massa que gerou rachaduras, deslizamentos e pode ter causado desabamento de prédio
Profissional foi contratado por proprietários de apartamentos do edifício que caiu para entender o que aconteceu com a área e porquê
Última atualização: 28/11/2023 14:21
Gramado está vivendo um episódio que especialistas chamam de movimentação de massa. Foi no dia 18 de novembro que moradores do bairro Planalto perceberam que fissuras começaram a aparecer no asfalto na Rua Ladeira das Azaleias – e não paravam de aumentar.
A preocupação com que houvesse um deslizamento de terra provocou a evacuação de aproximadamente 120 famílias do bairro Três Pinheiros.
Além do Planalto, a Defesa Civil da cidade percebeu, ao longo dos dias, que o mesmo fato ocorria em alguns outros pontos: Altos da Viação Férrea, loteamentos Orlandi e Alphaville, bairro Piratini, Várzea Grande (às margens da RS-115) e Linha Caboclo, no interior. Todos os pontos considerados de risco estão sendo monitorados por equipes técnicas.
Em coletiva de imprensa, na sexta-feira (24), o prefeito de Gramado, Nestor Tissot, atestou que o grande volume de chuva “foi o fenômeno que ocasionou todos esses deslizamentos”.
Um dos assuntos relacionados a essas movimentações de terra que mais chamou a atenção foi o prédio Ana Carolina, que acabou desabando, na madrugada da quinta-feira (23). O local estava interditado pela Prefeitura de Gramado desde 2020 e aguardava laudos para reverter a decisão. Mesmo assim, dois apartamentos estavam ocupados quando o Corpo de Bombeiros esteve no local no momento de interdição, por causa do risco iminente de queda.
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O geólogo Mauro Denardin foi contratado, no dia 19 de novembro, pelos proprietários de apartamentos do prédio para fazer um estudo. O intuito é entender o que aconteceu com a área e porquê. O geólogo conta que conhece a cidade há bastante tempo e que já trabalhou na região.
Para o laudo, ele fez uma análise superficial da localidade. Contudo, atesta que serão necessários estudos mais aprofundados. “O prédio ruiu porque estava em uma situação em que a área toda estava instável, se movimentando. Nessa primeira impressão, percebeu-se que o prédio perdeu sustentação”, descreve o profissional.
Ele explica que tem conhecimento prévio sobre os problemas estruturais do prédio, mas, conforme as informações repassadas a ele, isso havia sido resolvido neste ano. Assim, pelas análises iniciais, ele aponta que o prédio desabou por causa da movimentação de terra.
“Pelo tamanho das fissuras, pela dimensão que aquilo tomou, acredito que o movimento de massa tenha sido a causa básica do desabamento”, complementa.
O que causa uma movimentação de massa
Mauro reforça que fenômenos de movimentação de massa não costumam ter uma causa única. “É um somatório de pequenos fatores, que vão se agregando, e leva a essa situação”, aponta.
Sobre a área do bairro Planalto mais especificamente, ele frisa que possui um tipo de solo chamado coluvionar.
“É um solo que não tem uma estrutura boa, oriundo de decomposição de rochas. No caso de Gramado, rochas vulcânicas que foram se agregando com o tempo, sofrendo alterações químicas e físicas e se depositam pela força da gravidade nas encostas. Esse solo, por natureza, não apresenta uma boa capacidade de suporte, é muito suscetível a escorregamentos e a esse tipo de fenômeno, que é um rastejo”, avalia o geólogo.
Além disso, Mauro salienta que a água (chuva) é um complicador. “Atua como um elemento que reduz a coesão do solo, o atrito que o solo tem com a rocha. Aliado ao relevo, vai se somando e resulta nessa situação de instabilização”, pondera.
O profissional atesta que é possível construir em estruturas assim, mas precauções são necessárias. “Fazer contenções, observar bastante a compactação do solo, drenagem”, exemplifica.
Próximos passos
Mauro reforça que, no momento, é contraindicado mexer na área afetada pela movimentação de terra. “Qualquer intervenção pode só não solucionar como até agravar esse processo. Envolve muitas variáveis e é difícil ter o controle sobre todas elas. É preciso monitorar e isolar a área, como foi feito de forma assertiva pela Prefeitura”, diz.
“Esse processo de rastejo às vezes começa e para. Então, é recomendado monitorar através de marcações, leituras topográficas”, acrescenta.
Ainda, o geólogo conta que não é possível estimar um prazo para que a área esteja estabilizada. “O maior risco era o escorregamento da terra, a queda do prédio foi uma consequência, causada pelo movimento de massa”, corrobora.
O estudo do especialista deve ser entregue aos proprietários do prédio ainda nesta semana.
“Gramado precisa do desenvolvimento de um estudo da cidade, da área urbana, particularmente, de áreas de risco e de maior suscetibilidade a acidentes geológicos. É um pacote de informações de muita valia para o município”, finaliza.