REUNIÃO

Eduardo Leite fala sobre retomada do turismo e programa para conter encostas durante vistoria em Gramado; veja detalhes

Governador chegou de helicóptero no início da tarde desta sexta-feira (31) e verificou pontos atingidos por erosão de solo e queda de barreiras, no bairro Piratini e na RS-235

Publicado em: 31/05/2024 19:32
Última atualização: 31/05/2024 20:59

Vistorias nos pontos atingidos, medidas para os atingidos por deslizamentos de terra e erosão do solo e ainda, identificar soluções para retomar o turismo. Diversas foram as pautas levantadas durante a vinda do governador Eduardo Leite no início da tarde desta sexta-feira (31), em Gramado. Essa foi a primeira vez que o representante do Estado esteve na cidade, após as chuvas que atingiram o RS entre o final de abril e início de maio.

Eduardo Leite faz vistoria em locais atingidos em Gramado pela catástrofe climática Foto: PMG/Divulgação

O chefe do Executivo estadual desceu de helicóptero no bairro Piratini, um dos primeiros pontos vistoriados por ele e sua equipe. Na oportunidade, pôde conversar com a empresa Azambuja, responsável pelos estudos geológicos na cidade. Ainda, conferiu de perto a situação da localidade, que enfrenta erosão do solo e onde casas não resistiram e racharam ou caíram por completo com a movimentação de solo.

Em seguida, junto do secretário de Logísticas e Transportes do Estado, Juvir Costella, foi conferir os trabalhos realizados na RS-235, onde o trânsito foi liberado na noite de quinta-feira (30), após uma força-tarefa realizada pela Prefeitura de Gramado.

Mesmo a via tendo concessão da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), as duas pistas foram limpadas e uma contenção temporária foi construída, para fornecer segurança aos usuários. Já a RS-115, no trecho próximo ao Moreira, onde há pare e siga, devido à erosão do solo, deve ter urgência na reconstrução e obras em cerca de 15 dias. 

A oportunidade de visualizar pessoalmente trouxe a necessidade do governo do Estado também trabalhar em conjunto com o Município, na busca por soluções e estudos. Segundo Eduardo Leite, a administração deverá elaborar um programa específico para as encostas.

Eduardo Leite faz vistoria em locais atingidos em Gramado pela catástrofe climáticaMaurício Tonetto/Divulgação
Eduardo Leite faz vistoria em locais atingidos em Gramado pela catástrofe climáticaMaurício Tonetto/Divulgação
Eduardo Leite faz vistoria em locais atingidos em Gramado pela catástrofe climáticaMaurício Tonetto/Divulgação

"Vamos ver estudos de topografia. O Estado está conversando com empresas, vendo referências, podemos fazer estudos de solo com identificações de áreas de risco, que então, trará opções e busca por soluções, para também a questão das moradias", explica.

Presença da prefeitos

Após as vistorias, uma reunião aberta a imprensa, empresários, entidades, além dos prefeitos da Serra gaúcha, ocorreu no auditório da Prefeitura de Gramado. O encontro durou cerca de duas horas e trouxe, principalmente, as ações elaboradas e que são pensadas pelo governo estadual, assim como as demandas dos chefes municipais. 

Reunião com o governador Eduardo Leite em Gramado após catástrofe climática Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Em todos os momentos, Eduardo Leite enfatizou que os Municípios podem e devem contar com a colaboração de sua equipe, seja através de profissionais, seja por meio de recursos. Um dos exemplos trazidos foi referente às moradias e um programa que foi lançado ainda no final do ano passado, quando ocorreu a grande enchente no Vale do Taquari. Ao verificar que centenas de pessoas estão também fora de suas residências em Gramado - não por enchentes, mas por estarem situadas agora em áreas de risco - reiterou que a cidade também pode receber a iniciativa.

“O que vale para lá, vale para aqui também. Eu sei que locais foram atingidos e vão demandar construção de moradias para a população que foi atingida. O Estado é parceiro para identificar soluções, ter que desapropriar uma área, fazer um projeto urbanístico. Nos demandem, no limite das nossas possibilidades vamos colocar recursos. Sei que o Estado tem um 'cacuete' justificado, que o governo tanto tempo não tinha dinheiro, passam pela gente e buscam em Brasília, o que pode demorar muito”, coloca o governador.

O chefe estadual reitera que o governo "Está pronto para entrar em campo também com os recursos para solução que atenda as necessidades das pessoas, dessas famílias que foram atingidas por esses deslizamentos".

Aeroporto e o incentivo à vinda segura

Eduardo Leite aproveitou a presença da imprensa para publicizar sua preocupação em relação ao Aeroporto Salgado Filho. Um impasse entre a União e a concessionária, a Fraport, pode atrasar ainda mais a reabertura do estabelecimento. Isso se deve à necessidade de reequilíbrio financeiro, devido aos custos não previstos com a enchente. 

"No contrato está estabelecido que fatos como esse têm um seguro, que cobre R$ 200 milhões até. Para as reformas, o custo pode chegar até R$ 1 bilhão para o que precisará ser feito. E o que é além do seguro, vai precisar ter intervenção do governo federal, é um reequilíbrio de contrato", explica Leite.

De acordo com o governador, o receio da Fraport ocorre devido ao que ocorreu durante a pandemia de Coronavírus, quando também foi necessário o reequilíbrio, devido à queda do número de passageiros. "A concessionária quer ter certeza que isso está reconhecido. Na pandemia houve também o processo, a necessidade foi reconhecida, mas o governo federal não pagou. Então a concessionária faz questionamentos. O governo federal fala que a concessionária tem que sair fazendo e depois a gente acerta o reequilíbrio", coloca e reitera que "esse impasse pode fazer demorar mais o aeroporto”.

Leite pontua que é isso que a administração vem fazendo quando o assunto são as estradas concessionadas. “Tem que ajudar a construir a solução, como fazemos com qualquer área das estradas concedidas do Estado”, diz. 

O administrador também falou sobre o Aeroporto Internacional das Hortênsias, que voltou à pauta nas últimas semanas. Por ser algo a longo prazo, afirma que está levantando o que é possível fazer na estrutura do aeródromo que existe no município canelense.

“Já determinei que sejam encomendados os estudos sobre todas as intervenções possíveis no aeroporto de Canela, para que possa receber aeronaves maiores. Ele é um aeroporto de condições limitadas. Mas se houver algum tipo de intervenção que possa ser feita rapidamente e receber aeronaves maiores, isso tem que ser visto e sendo possível, nós faremos, vamos viabilizar tudo e o que for necessário, para ter o menor impacto nesse evento climático e naturalmente deixando legado para qualquer tipo de outro evento que venha pela frente", explica. 

O governador também contou que solicitação às equipes da Setur e da Comunicação, que uma campanha turística seja criada, para atrair o turismo. "É uma campanha de turismo com responsabilidade, que podemos receber os turistas, acolher e receber com tranquilidade, mas de forma segura. É preciso lembrar que as pessoas não planejam turismo da noite para o dia, planejam para um mês", corrobora. 

A ideia, assim como as entidades da região e prefeituras já vêm fazendo, é atrair os visitantes dos estados e países vizinhos. "Será preciso ir identificando os públicos, pois o aeroporto de Porto Alegre vai ficar um tempo fechado, por mais fortemente que a gente lute para ampliar os voos em outros", lamenta.

A pasta estadual do segmento também criou um Comitê de Retomada e Recuperação da Serra Gaúcha.  "Vamos nos encarregar para que o Brasil e todos turistas estejam cientes que estamos prontos para receber o carinho e conforto de cada um dos visitantes, para que a gente possa continuar girando a roda da economia", afirma.

Canela lamenta rebaixamento para emergência 

Após a fala inicial do governador, os prefeitos da região tiveram os seus momentos de trazerem questionamentos, projetos e necessidades. 

Constantino Orsolin, representando Canela, lamentou o rebaixamento de situação de calamidade para emergência. Ele questionou os critérios estabelecidos para isso e disse que ficou com uma "mágoa", devido à perda de recursos. 

Prefeito de Canela, Constantino Orsolin, em reunião com o governador Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Segundo Leite, "independente da classificação, não vamos esquecer dos municípios, todos foram atingidos de alguma maneira".

Constantino também solicitou verbas para maquinários e se o Estado irá auxiliar as pessoas que estão em abrigos. Segundo o prefeito, mais de R$ 2 milhões já foram investidos, principalmente nas áreas de interior. "Eu quero saber como ter acesso ao recurso das máquinas. Porque eu tinha que abrir as barreiras para desilhar as pessoas. E a máquina não vai lá de graça, o caminhão não vai de graça. Aliás, os jipeiros foram em lugares que eram impossíveis de chegar", lembra. 

Por fim, relembrou da importância do turismo. "A tragédia nos deu lições. Precisamos que tenha ações de todos juntos, a luta de outro município é a nossa", afirma.

"Estamos perdendo leite, batata, e somos o maior produtor de batata do RS"

Já Marcus Aguzzolli trouxe os problemas referentes, principalmente, as estradas não asfaltadas e que foram afetadas pela tragédia climática. 

Conforme o prefeito de São Francisco de Paula, houve colapso em mais de 2 mil quilômetros de estradas. O Município também não teve direito ao recurso de maquinário - que cada prefeitura pode ter até R$ 1,5 milhão em horas-máquina. "Pessoas perdendo leite, batata, sendo que somos o maior produtor de batata do RS. Precisamos dar um susto na estrada, mas esse recurso é essencial para o município", justifica.

Prefeito de São Francisco de Paula, Marcus Aguzzolli, em reunião com o governador Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Aguzzolli frisa que há estradas que estão intransitáveis. "Ninguém passa, nem jipe nem trator."

São Chico foi o município que mais cresceu no turismo, nos últimos 4 anos. "Não podemos deixar aquelas pousadas que estão investindo e que necessitam essencialmente das estradas, darem ré. Hoje mudou perfil, pessoas querem natureza, conviver com o meio ambiente. Estávamos em pleno emprego, precisamos manter. Precisamos das estradas", enfatiza.

Para o prefeito, é preciso "não ter medo de fazer o que tem que ser feito". Para ele, a RS-020 deve ser concedida para a iniciativa privada. "A o20 precisa ter terceira pista, passar para o privado e ter pedágio.
Cobre para poder cobrar dessas concessionárias e tira do colo do governo do Estado", reitera. 

Manutenção dos empregos

O presidente do Sindtur Serra Gaúcha, Claudio Souza, mostrou sua preocupação em relação aos empregos. Trouxe para apresentar ao governador o acordo laboral firmado entre os sindicatos que representam setores que podem ser diretamente impactados pela movimentação baixa, como gastronomia e hotelaria.

"São 1,3 mil pessoas que não perderam emprego por 60 dias. Esse é o prazo que temos para restabelecer o Salgado Filho. Todos os aeroportos nos ajudam muito, mas são paliativos. O Salgado Filho dá credibilidade que o Estado está aberto", pontua. 

Presidente do Sindtur Serra Gaúcha, Claudio Souza, em reunião com o governador Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Para Claudio, a própria ajuda vem através da Lei de Incentivo à Cultura (LIC), com os recursos destinados aos eventos. No último ano, Gramado perdeu verbas para a realização de atrações. "Precisamos que olhem diferente, porque a gente dá muito retorno aos municípios e ao Estado", finaliza.

Em resposta, Eduardo Leite argumentou que há um pedido para o governo federal aumentar os valores da Lei Rouanet para as cidades atingidas e que a Secretaria de Cultura do Estado deverá trabalhar em um programa voltado a ajudar o setor artístico, também impactado por falta de oportunidade e, consequentemente, de renda. 

Conforme o governador, na próxima semana viajará a Brasília. "A ideia é estabelecer o Fundo Bem, benefício de emergência para manutenção de emprego e renda, para evitar demissões", fala. O recurso já foi utilizado durante a pandemia e ajudou diferentes setores. 

Guias e operadores de turismo de Canoas afetados por enchente

Rosane Feltrin representou a associação de guias de turismo do RS e mostrou preocupação com o cenário. Moradora de Canoas, tem a profissão impactada pelas chuvas. "Estamos numa situação muito difícil por estarmos na ponta. Nosso trabalho depende da infraestrutura sim. Somos 2,2 mil guias no RS", frisa.

Diego Souza é operador de turismo. A empresa dele ficava próximo da RS-448, em Canoas e estava debaixo d’água até cinco dias atrás. Somente na última semana, registrou 485 cancelamentos de viagens.

"Meu consumidor está me cobrando, se eu não tiver dinheiro, vai pra mídia e vai dizer que sou estelionatário. Paguei R$ 22 mil de imposto mês passado. Na semana que vem, precisarei demitir quatro de 28 pessoas, porque não tenho mais como carregar essa carga", lamenta. "Na pandemia, quando reabriu, a gente tinha mesa, escritório. Agora não temos mais nada", complementa. 

Os deputados estaduais e federais presentes no encontro afirmaram que estão trabalhando em projetos para ajudar o segmento. 

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