HOMENAGEADA

FESTIVAL DE CINEMA: "Não sinto saudade de fazer novela", diz Vera Fischer em Gramado

Atriz catarinense receberá na noite desta quarta-feira (14), aos 73 anos, o Troféu Cidade de Gramado

Publicado em: 14/08/2024 16:42
Última atualização: 14/08/2024 17:09

A atriz catarinense Vera Fischer já está em solo gaúcho para receber o Troféu Cidade de Gramado, pelo 52º Festival de Cinema. Ela veio diretamente do Rio de Janeiro para o Rio Grande do Sul ainda na terça-feira (13). Aos 72 anos, exibe vaidade e está pronta para receber a homenagem na noite desta quarta-feira (14), no Palácio dos Festivais.

Vera Fischer em coletiva de imprensa do Festival de Cinema de Gramado Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Além de ter sua carreira e relação com Gramado reconhecidas - a primeira vez que esteve na cidade estava grávida de oito meses da filha -, a artista entrará para o hall de representantes nacionais que tem suas mãos eternizadas na Calçada da Fama. A entrada dela, um dos maiores nomes do audiovisual nacional, por seu mais de meio século de representatividade no teatro e televisão, está prevista para as 17 horas. Já a subida no palco do cinema, às 18 horas.

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História de vida

Antes disso, ela conversou com jornalistas, durante a tarde, no Hotel Master. Em conversa, relembrou memórias importantes de sua carreira, contou curiosidades e, inclusive, revelou sobre casos de assédio que sofreu em gravação de cenas. Ainda, frisa que atualmente seu foco é em teatro e cinema. 

Ainda quando Miss Brasil, explica que se tornar atriz foi algo que foi ocorrendo. Em sua cabeça, tornar-se bailarina e arqueóloga também eram profissões que seriam interessantes. 

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Entre as cenas marcantes, uma delas é a de Coração Alado, de 1980, onde Vera Fischer contracenava com Nei Latorraca. "Era uma cena forte, de estupro. A gente realmente quebrou tudo, eu fiquei roxa mesmo, gravei com manchas no corpo", frisa.

Já um aprendizado que a dramaturgia, citando o filme Intimidade, trouxe para a vida dela foi em relação à expressão de sentimentos. "Meu pai, alemão, dizia, uma alemã não pode chorar na frente de todos. Você chora no quarto, se descabela no quarto, não na frente dos outros. Mas como atriz, era preciso", explica.

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Em relação a um papel que se orgulha, afirma de Helena, de Laços de Família. "Era uma feminista muito forte, cedeu namorado para a filha, que tinha câncer. Para salvar a filha, teve que transar com um primo. Era muito corajosa, tipo eu", diz. 

Polêmica de Amor Estranho Amor

Em 1982, Vera fez parte do elenco do filme Amor Estranho Amor, dirigido por Walter Hugo Khouri e com a presença de Xuxa Meneghel. Ela argumenta que ficou um pouco chateada quando o longa-metragem saiu dos cinemas, mas que entendia o lado da colega de trabalho. Na obra, a Rainha dos Baixinhos aparecia nua junto a uma criança. "Não queria, claro, que saísse dos cinemas, ainda que houvesse algumas versões em VHS. Crianças viram, adultos viram. Pois tinha cenas delicadas com o filho", afirma.

Com o retorno do assunto nos últimos anos e divulgação de trechos, Fischer comenta que até fez uma postagem, onde marcou Xuxa. "Muito bem, Xuxa, estamos vivas, bonitas e felizes. Esqueça tudo que passou, é daqui para frente. Somos jovens. Ela me agradeceu muito, o filme continua sendo bonito, visto, é atemporal", finaliza.

Cenas que se tornam memes

Vera Fischer conta que não se importa com os memes que são criados. Ela, inclusive, fez brincadeiras durante a coletiva com compilados de cena, como quando interpretou Helena, em Laços de Família.

"Esse meme 'toca um techno aí ficou tanto na mente das pessoas, que há dois anos fiz um filme para a Netflix, e a personagem era uma matriarca rica. Estavam numa festa de Natal, ela estava bêbada e daqui a pouco ela fala 'toca Raul aí'. Eu acho divertido. 'Vai um cafezinho aí ,Helena', eu gosto, acho engraçado. Eu uso também minhas redes para descontrair", lembra. 

"Não sinto saudades de fazer televisão"

Atualmente, a atriz de Santa Catarina se concentra mais nos trabalhos em teatro e cinema, mesmo com o contrato que teve assinado por 46 anos com a TV Globo.

Vera Fischer em coletiva de imprensa do Festival de Cinema de Gramado Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

"O teatro, estou mergulhada nisso há algum tempo, também porque veio a pandemia. O cinema também. A televisão acho que fiz as coisas boas na época em que eram boas, boas minisséries, boas novelas, bons programas, tudo era muito bem escrito, dirigido, com uma orientação artística da Globo muito forte. Eu não sinto saudade de fazer novelas. Série, sim, streaming, sim. Filmes, sim, me chama, me chama, me chama, quero muito fazer cinema", brinca. 

Vera ainda conta que não tem costume de ver televisão, como novelas. "Mesmo quando fazia as minhas, eu via muito pouco. Acredito que possam ter personagens, eu não fecho nada. Mas hoje tem muitos remakes, falta pouco de originalidade, de criar uma coisa boa e nova. Depois de 46 anos de TV Globo, eu caí num limbo, e isso me deixou magoada, porque eu ainda tinha tanto para dar", complementa. 

Relação com José Wilker

Ao ser questionada sobre com que gostaria muito de poder contracenar novamente, afirma ser José Wilker, falecido em 2014. "Sinto muita saudade. O Wilker fez comigo, pela primeira vez, acho que foi bonitinho, mas ordinário. A gente se deu muito bem, fiquei encantada com aquele homem, que sabia muita literatura, poesia", relembra. 

"Teve um dia que fizemos um take na praia, bem grudados um no outro, de frente para o mar. E a cena demorou muito, sol em cima das nossas cabeças, e ele começou a recitar Drummond. E eu comecei a ficar tonta e apaixonada, apaixonada por esse homem", diverte-se ao contar. 

Planos futuros

De quando era Miss Brasil, em 1969, até 2024, ela conta que diria a mesma coisa para a pequena Vera Fischer. "Vera, tu vai vencer. E venci. Não vou estancar. Vou continuar querendo, caminhando. Aquela menina é essa mulher", afirma.

Eu tenho muita vontade de fazer um grande papel, falando de mulher, para as mulheres. Para os homens, também, óbvio, para crianças. Porque mulher é um ser múltiplo, gera, dá vida, é colorida, quase gay. Eu queria muito fazer um filme, vamos esperar".

Ela gostaria, inclusive, de produzir um filme. Mas, para agora, uma série ou filme documental sobre sua vida deve sair. "Com luta de patrocínio, em todas as camadas, e no cinema, mais ainda. Mas trabalho com duas garotas, que produzem muita coisa e estamos realmente com planos de fazer talvez uma série ou filme sobre a minha vida. Contando as histórias que ninguém sabe, são 73 anos de vida, trabalhando, sendo miss com 17 e começando no cinema aos 20. É muita estrada."

Fischer ainda diz que possui dez histórias escritas entre 2006 e 2007, que podem se tornar séries e longas-metragens. 

A honraria é entregue a nomes ligados ao município e ao Festival e foi entregue pela primeira vez em 2012 à atriz Eva Wilma. Nomes como Tony Ramos, Ney Latorraca, Antonio Pitanga, Wagner Moura e Ingrid Guimarães também já receberam.

Vera Fischer já tem uma longa relação com a cidade da Serra gaúcha. Esteve no telão do Festival com os filmes “Intimidade”, de Michael Sarne e Perry Salles, em 1975, “Eu Te Amo”, de 1981, dirigido por Arnaldo Jabor, e com “Doida Demais”, de Sérgio Rezende, lançado em 1989.

Assédio

Uma violência velada e que começou a ser aberta nos últimos anos, a atriz conta que muito sofreu em gravações e na carreira: assédio. Apesar disso, nunca pensou em desistir da profissão.

"Não se falava isso naquela época: assédio. Fui muito assediada, no cinema, na televisão e no teatro. Mas como sou uma pessoa muito engraçada, infantil, sei dar umas saídas. Tipo assim, diretor da novela tal, carne fresca, tentando fazer charme, me fazendo sentar no colo. E eu assim 'estou tão menstruada, tem problema com sangue?'. A pessoa já desistia na hora".

"O constrangimento houve, o assédio houve, e isso te deixa muito humilhada. E olha que eu sou uma alemã de cabeça erguida, tanto que fiquei de cabeça erguida, nunca sucumbi, sempre dava umas desculpas que deixava homens enojados. Ter um homem enojado é o máximo", afirma.

Carreira

Vera estreou como atriz no cinema, em 1972, no longa “Sinal Vermelho - As Fêmeas”, de Fauzi Mansur.
Já no ano seguinte, 1973, atuou em três produções: “A Super Fêmea”, “Anjo Loiro” e “As Delícias da Vida”.

Seu primeiro trabalho de destaque foi em 1976, em “Intimidade”, de Perry Salles e Mike Sarne. O papel lhe rendeu o troféu de Melhor Atriz no Prêmio APCA.

Um ano depois, Vera teria seu primeiro papel na teledramaturgia, na novela “Espelho Mágico”, da TV Globo. A partir disso, colecionaria grandes personagens marcadas no imaginário popular.

Em telenovelas, daria vida a Luiza, em “Brilhante”, Jocasta, em “Mandala”, Nena, em “O Rei do Gado”, Helena, em “Laços de Família”, e Yvete, em “O Clone”.

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