Dez produções estudantis concorreram aos Kikitos de madeira, confeccionados de forma manual pelo artesão Xixo, no Palácio dos Festivais, na primeira noite do Festival de Cinema, já tradicional dedicada aos participantes do Educavídeo.
O programa, que incentiva a profissionalização no audiovisual, marcou a estreia, na quinta-feira. São quatro curtas-metragens de 2023 e seis deste, em um total de 1h30 de exibições que foram apresentadas no telão e contou com mais de 600 espectadores, em noite de ingressos esgotados. Todas as produções criadas são exibidas no Festival de Cinema e inscritas em outras competições Brasil afora.
São sete premiados voltados para as turmas regulares, dois para núcleo de produção digital e uma premiação surpresa, que foi revelada durante a noite.
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“É um prêmio de melhor curtas, mas que é escolhido pelo júri popular, as pessoas que estão assistindo vão votar na hora, por meio de um QRCode que ficará por 10 minutos na tela”, conta um dos professores, Gabriel Garcia.
“Decidimos fazer isso nesse ano porque em 2023, quando fomos nas escolas, vimos que cada uma tinha um favorito diferente. Queremos saber o que o público pensa sobre o que está assistindo. Porque as outras nove categorias são escolhidas por júri que convidamos, professores que trabalham com cinema, profissionais da arte, da Secretaria de Educação”, explica o fotógrafo.
“Vai ser difícil, concorrido, está um nível muito bom”, complementa.
Os alunos foram apadrinhados pelo ator gaúcho Nelson Diniz.
Portas abertas
Para as educadoras Ivanilda Rosa, conhecida como Iva, e Thayse Martins, é extremamente gratificante esse reconhecimento de estar no Festival. “Eu sinto que fazemos o papel de abrir uma porta, apresentamos possibilidades diferentes. Muito sabem o que é o Festival, mas nunca participaram, não tem uma noção da visibilidade ou importância para a cidade. Então passarem no tapete vermelho, serem reconhecidos, trazerem a família, amigos e professores para assistir, é uma experiência que pouquíssimos estudantes do País têm”, afirma Thayse.
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“Hoje podemos dizer que o Educavídeo abre portas, pois temos ex-participantes que são fotógrafos, cineastas, atores, de formação acadêmica. Então esse é um dos papéis mais importantes. E claro, nessa noite abrimos um dos eventos mais significativos da cidade para a comunidade, porque esse é o momento do gramadense”, lembra Iva.
De aluno em 2011 para professor em 2023
Gabriel Garcia, de 25 anos, participou do primeiro ano, quando o Educavídeo ainda não era programa instaurado e teve seu projeto-piloto. Na época estava na 7ª série, com 12 anos. Atualmente, com formação em Fotografia pela Unisinos, é um dos profissionais que auxilia os estudantes nas produções.
“A arte sempre me chamou muita atenção. Quando saí do Ensino Médio, senti uma minifalta de incentivo, o aspecto da arte ficou mais baixo. Então ingressei no Superior em História, queria ser professor. Depois fui mudando de direção”, conta.
O gramadense faz hoje mestrado na Feevale e o projeto é dentro do Educavídeo. “Eu acompanho a importância do programa na vida do aluno, desde a melhora no aprendizado, até o desenvolvimento social. Quis comprovar que isso acontece através de uma tese”, afirma.
“A gente percebe que eles chegam mais fechados, mas que existe uma curiosidade em saber como funciona, porque é muito o que eles consomem. E hoje em dia a gente ensina exatamente como se produz dentro do cinema.”
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Intensidade dos temas
Para os professores, a qualidade a cada ano melhora. “Não só tecnologicamente, a mente dos alunos está mais avançada. Eles têm ânsia, curiosidade, vontade de falar sobre assuntos diferentes. E a gente percebe nas sinopses que produzem que são coisas de séries que assistem, novelas, doramas, livros que leem. As turmas são extremamente artísticas”, justifica Gabriel.
“Temos um curta nesse ano que fala sobre uma sociedade silenciada, tem vários dramas, suspenses bem trabalhados. Temos uma comédia romântica que trabalha uma referência de Romeu e Julieta, um sobre cansaço do trabalho, um sobre relacionamentos prejudiciais à saúde mental.”
Produções
Sob o Olhar Invisível, de Anna Fetter e Joelyson Silva; Através da Lente, de Letticia da Silva e Lucas Backaus; Amor à primeira peça, de Ketlin da Silva e Isabely Nunes; Comunicação zero, de Gustavo Cruz; Happy Hour, de Aleciane Lopes; Vitrais, de Fernanda Dahmer; Em um piscar de olhos, de Maria Cecília Merck; Eco do Silêncio, de Wesley Sormani; O Jogo Acabou, de Mariane Kammer; e Quando a primavera chegar, de Adriane Arruda.
Profissão: audiovisual
Ketlin de Almeida tem 16 anos e participa pelo primeiro ano do programa. Estudante da Pedro Zucolotto, entrou na turma iniciante. Divididos em núcleos, ela é a diretora do curta-metragem de seu grupo. “Eu escrevi a história e disseram que eu era responsável”, comenta.
“Amor à primeira peça” é o nome da produção que foi construída nos últimos meses. “É sobre uma garota que estuda numa escola e encontra um aluno novo, que não gosta. Depois de um tempo eles se inscrevem para uma peça e os dois vão ter que se acostumar juntos a tentar atuar”, revela.
Sobre a estreia no Palácio, revela que o coração está a mil. “Quando fiquei sabendo que seriam mais de 600 pessoas e precisaria subir no palco, fiquei ansiosa”. “A gente vai com a esperança de receber, se não, ano que vem tem mais”, finaliza, confessando que hoje atuação e o universo audiovisual são possibilidades de profissões.
Lucas Gabriel Backaus, de 15 anos, está na turma avançada. Aluno da Senador Salgado Filho, iniciou em 2023 no projeto. O curta dele, naquele ano, teve prêmio de melhor atuação. Neste, ganhou de melhor direção. “Apesar de ter chegado com um grupo de pessoas, minha primeira experiência foi quando foram sorteados os grupos que íamos trabalhar. Foi muito legal, porque interagi com pessoas que nunca vi, são escolas muito distantes”, destaca.
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A continuidade no projeto é justificada pelo aprimoramento. “É algo que agrega muito, eu sei que tinha muitas coisas para melhorar. Eu acabo conversando com outras pessoas, atuando. A proposta não é só filme, é socialização, é escrever. Eu gosto muito do audiovisual, principalmente da parte de fotografia. Tudo é mais experiência”, frisa.
O curta que apresentaram tem aproximadamente 5 minutos e se chama “Através da lente”. Trata-se “de uma garota sozinha, que descobre ter um avô fotógrafo, encontra uma câmera no sótão e vê que consegue tirar fotos com ela e, ao revelar, tem uma mancha vermelha e as pessoas acabam morrendo. Ela cria feição por isso”, conta.
Ele foi diretor-geral. “Como é uma curta que trabalha com fotografia, trabalhamos muito na montagem das cenas, revendo elas. Aprendemos muito sobre como revelar fotos, as câmaras vermelhas. Essa foi uma das partes preferidas nos bastidores para mim”, conclui, que também pretende continuar na área, ou com marketing ou com fotografia.
Os premiados
Melhor Curta (Turmas Regulares): “Comunicação Zero”
Melhor Curta (Npd): “Vitrais”
Melhor Direção: Lucas Gabriel Backaus e Letticia Heimann, por “Lapa Por Através da Lente”
Melhor Ator: Bryan do Amaral, por “Sob o Olhar Invisível”
Melhor Atriz: Emanuelle Medice Lobato Une, por “Comunicação Zero”
Destaque Atuação Npd: Cristiane Silva Grun, por “Quando a Primavera Chegar”
Melhor Fotografia: “Através da Lente”
Melhor Roteiro: “Comunicação Zero”
Melhor Direção de Arte: “Amor à Primeira Peça”
Melhor Filme pelo Júri Popular: “Comunicação Zero”
Sobre o programa
São seis turmas, quatro que atendem a rede escolar e duas turmas de NPD, aberta à comunidade, que envolvem mais de 120 pessoas. Os alunos iniciam no 7° Ano do Ensino Fundamental e podem seguir no Ensino Médio.
“Elas são divididas. Tem a turma do iniciante, que trata o básico, é o primeiro contato com a parte técnica e de produção. Depois temos a intermediária/avançada, onde aprofundamos as questões mais técnicas, tem uma certa autonomia para direcionarem suas produções. Tem ainda a turma da mista, que ocorre pela manhã, onde atendemos as escolas do turno oposto”, conta Iva.
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Os encontros são semanais, com duas horas. As aulas seguem o calendário escolar, iniciando em março e indo até o final do ano. “Depois do Festival voltam a ter aulas e seguimos fazendo revisão do que já foi visto, uma crítica do filme que apresentaram e iniciam uma nova produção, que é apresentada no próximo ano”, lembra a professora Thayse Martins.
A turma do NPD é nova, com a diferença das aulas ocorrerem à noite e voltadas para adultos. Participantes têm desde 18 até 60 anos. “Tem noções de roteiro, fotografia, edição e também produzem um curta”, afirma Iva.
No início do ano, fazem exercícios e são introduzidos à linguagem cinematográfica. Uma produção por turma é criada. “Eles criam a história e de maio para junho começamos a gravar. É a turma inteira, então se dividem nas áreas que mais gostam ou tenham interesse. Temos assim o elenco, o diretor, equipe da direção de fotografia que vai operar as câmeras, direção de arte que vai pensar os materiais, o figurino, a maquiagem, cenário, pessoal do som”, exemplifica Thayse.
“A gente comenta sempre que o ideal é que os curtas tenham até 15 minutos, em virtude principalmente de outros festivais que participam. E também para entenderem a grandiosidade de produzir, do trabalho. Porque a gente percebe que quando os alunos chegam, eles não tem muita ideia do que é fazer um filme, de tempo de tela. Então no início deixamos solto a criação do roteiro e aí vamos enxugando até verem que uma página de roteiro é um minuto de tela”, complementa a professora.
Para Iva, o tempo é um desafio e dificuldade a ser enfrentada atualmente. “O Educavídeo evoluiu e nesse quesito não conseguimos aumentar a carga horária, porque duas horas semanais é pouco. As equipes ficam grandes. Mas é um sonho nosso estruturar melhor, estender uma tarde ou ter duas aulas semanais. Aí podemos pensar num curta de maior tempo”, explica a profissional.