MOVIMENTAÇÃO DE SOLO

GRAMADO: Saiba o que diz laudo contratado por moradores que aponta causas de deslizamentos de terra

Moradores da Rua Nelson Dinnebier estão fora de casa desde novembro de 2023

Publicado em: 22/03/2024 03:00
Última atualização: 26/03/2024 14:32

Foi no dia 21 de novembro do ano passado que mais de uma dezena de famílias precisou deixar suas casas, no bairro Piratini, em Gramado, quase no acesso à Linha Ávila. Moradores da Rua Nelson Dinnebier tiveram a estrutura de suas casas afetada por uma movimentação de solo.

Faixas e a palavra justiça foram pichadas nas casas Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Passados pouco mais de quatro meses do episódio de chuvas intensas que marcou a região, e também que os moradores estão fora de suas residências, foi divulgado o resultado da perícia contratada pela comunidade local para entender o que motivou as rachaduras.

Nas casas afetadas, placas e cartazes foram colocados. Entre os dizeres estão "Não foram as chuvas, foram as implosões" e "Queremos justiça". A palavra "justiça" também foi pichada nas casas e prédio interditados.

Faixas e a palavra justiça foram pichadas nas casas interditadas do bairro PiratiniFernanda Fauth/GES-Especial
Faixas e a palavra justiça foram pichadas nas casas interditadas do bairro PiratiniFernanda Fauth/GES-Especial

Conclusão do estudo

Conforme os moradores relataram no ano passado, os problemas começaram a aparecer após o início das obras de interligação dos bairros Piratini e Prinstrop, no início de 2023. A estimativa é que 45 mil metros cúbicos de rocha fossem retirados da área, em um local que tem desnível de cerca de 20 metros, entre as vias que seriam ligadas, a Abramo Éberle e a Theobaldo Prinstrop, junto ao condomínio Alphaville.

O laudo foi emitido pelo geólogo Éverson Araújo, de Lajeado. Além de entrevistas com residentes do local, compilou dados geológicos e geomorfológicos da área e entorno. Também realizou sondagens junto aos pontos críticos e fez um mapeamento in loco.

Como resultado dos estudos, aponta que as fraturas na localidade, "associado a elevada saturação do solo e a forte vibração proveniente das detonações efetuadas para abertura de ruas e acessos gerou o deslizamento e rachaduras no solo local em associação com a umidade do solo nos períodos pós-chuvas".

Assim, a conclusão coloca que as detonações teriam, em conjunto com a constante presença da umidade devido ao tempo instável do final do ano passado, contribuído para o aceleramento dos deslizamentos. "Cortes de terrenos realizados no solo para abertura de estradas e acessos e detonações nas rochas, nas proximidades da área, favoreceram o processo de rachadura, uma vez que isso tornou o solo desagregado e deixou a rocha fraturada", explica o geólogo no documento.

O profissional ainda explica que essa movimentação faz parte da busca de um reequilíbrio da natureza, visto que o terreno faz parte de um todo. "Um terreno não existe isolado em uma área, sendo afetado diretamente por eventos, sejam eles catastróficos ou não."

O que diz a prefeitura

Após as manifestações por parte de moradores do bairro Piratini, a prefeitura de Gramado emitiu um comunicado oficial sobre o assunto. Na nota, coloca que "se solidariza com as famílias afetadas e as secretarias municipais envolvidas estão à disposição para prestar esclarecimentos e oferecer apoio necessário aos moradores".

A administração explica que o Município aguarda o resultado de "um amplo estudo geotécnico contratado, que está em andamento e apontará as causas, consequências e as ações de mitigação ou recuperação dos movimentos de massa ocorridos".

Ainda afirma que localidades como Moreira, Marcondes, Quilombo, Carahá, Tapera e Várzea Grande, assim como um trecho da BR-116, também sofreram com as fortes chuvas que ocasionaram quedas de barreiras, "o que demonstra que um evento atípico atingiu Gramado e a região".

Também pontua que o Executivo gramadense não teve acesso ao laudo particular, "embora já tenha solicitado àqueles que alegam o ter, o que impossibilita qualquer contraponto ou manifestação sobre o documento".

Diante desse resultado, a Prefeitura ainda frisa que "está ciente dos seus deveres e arcará com todos os compromissos caso sejam comprovadas responsabilidades por parte do poder público".

O comunicado da gestão finaliza dizendo que "Gramado segue realizando o monitoramento constante e diário das áreas afetadas, sempre com acompanhamento do Ministério Público".

Advogados entram com pedido de indenização por danos permanentes

Aldairton Carvalho é um dos advogados dos moradores que têm casas interditadas no Piratini. "Desde o início de 2023 os moradores vêm denunciando as explosões pela abertura da estrada. O poder público não se assegurou de interromper os procedimentos e, com a chuva, houve um agravamento da situação, com a abertura de várias fendas pela obra, que prejudicaram de forma permanente as casas", diz.

"Moradores entraram com pedidos de indenização, que estão tramitando na Justiça de Gramado. O Município ainda não foi citado, pois estamos na fase inicial do processo. Muitos moradores não têm como custear a ação e estamos pedindo a gratuidade, já que muitos hoje não tem nem onde morar. O intuito é reparar o dano causado", conclui o defensor.

“É triste, estamos sem apoio”

Michelle Teixeira, de 33 anos, morava em uma das casas evacuadas. No terreno tinha a sua residência, onde morava com o esposo, o filho de 3 anos e o enteado de 8, além da estrutura de sua mãe na frente.

“É triste, estamos sem apoio de ninguém, preciso me virar com o que está ao meu alcance. Estou pagando aluguel”, lamenta a gramadense. “O sentimento é de justiça, sou contribuinte como qualquer pessoa”, afirma.

Conforme Michelle, a movimentação no local ainda acontece. “Vamos lá toda a semana e toda a semana tem movimentação, é constante.”

Faixas e a palavra justiça foram pichadas nas casas interditadas do bairro Piratini Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

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