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MOVIMENTAÇÃO DE SOLO

GRAMADO: Saiba o que diz laudo contratado por moradores que aponta causas de deslizamentos de terra

Moradores da Rua Nelson Dinnebier estão fora de casa desde novembro de 2023

Fernanda Steigleder Fauth
Publicado em: 22/03/2024 às 03h:00
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Foi no dia 21 de novembro do ano passado que mais de uma dezena de famílias precisou deixar suas casas, no bairro Piratini, em Gramado, quase no acesso à Linha Ávila. Moradores da Rua Nelson Dinnebier tiveram a estrutura de suas casas afetada por uma movimentação de solo.

Faixas e a palavra justiça foram pichadas nas casas



Faixas e a palavra justiça foram pichadas nas casas

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Passados pouco mais de quatro meses do episódio de chuvas intensas que marcou a região, e também que os moradores estão fora de suas residências, foi divulgado o resultado da perícia contratada pela comunidade local para entender o que motivou as rachaduras.

Nas casas afetadas, placas e cartazes foram colocados. Entre os dizeres estão “Não foram as chuvas, foram as implosões” e “Queremos justiça”. A palavra “justiça” também foi pichada nas casas e prédio interditados.



Conclusão do estudo

Conforme os moradores relataram no ano passado, os problemas começaram a aparecer após o início das obras de interligação dos bairros Piratini e Prinstrop, no início de 2023. A estimativa é que 45 mil metros cúbicos de rocha fossem retirados da área, em um local que tem desnível de cerca de 20 metros, entre as vias que seriam ligadas, a Abramo Éberle e a Theobaldo Prinstrop, junto ao condomínio Alphaville.

O laudo foi emitido pelo geólogo Éverson Araújo, de Lajeado. Além de entrevistas com residentes do local, compilou dados geológicos e geomorfológicos da área e entorno. Também realizou sondagens junto aos pontos críticos e fez um mapeamento in loco.

Como resultado dos estudos, aponta que as fraturas na localidade, “associado a elevada saturação do solo e a forte vibração proveniente das detonações efetuadas para abertura de ruas e acessos gerou o deslizamento e rachaduras no solo local em associação com a umidade do solo nos períodos pós-chuvas”.

Assim, a conclusão coloca que as detonações teriam, em conjunto com a constante presença da umidade devido ao tempo instável do final do ano passado, contribuído para o aceleramento dos deslizamentos. “Cortes de terrenos realizados no solo para abertura de estradas e acessos e detonações nas rochas, nas proximidades da área, favoreceram o processo de rachadura, uma vez que isso tornou o solo desagregado e deixou a rocha fraturada”, explica o geólogo no documento.

O profissional ainda explica que essa movimentação faz parte da busca de um reequilíbrio da natureza, visto que o terreno faz parte de um todo. “Um terreno não existe isolado em uma área, sendo afetado diretamente por eventos, sejam eles catastróficos ou não.”

O que diz a prefeitura

Após as manifestações por parte de moradores do bairro Piratini, a prefeitura de Gramado emitiu um comunicado oficial sobre o assunto. Na nota, coloca que “se solidariza com as famílias afetadas e as secretarias municipais envolvidas estão à disposição para prestar esclarecimentos e oferecer apoio necessário aos moradores”.

A administração explica que o Município aguarda o resultado de “um amplo estudo geotécnico contratado, que está em andamento e apontará as causas, consequências e as ações de mitigação ou recuperação dos movimentos de massa ocorridos”.

Ainda afirma que localidades como Moreira, Marcondes, Quilombo, Carahá, Tapera e Várzea Grande, assim como um trecho da BR-116, também sofreram com as fortes chuvas que ocasionaram quedas de barreiras, “o que demonstra que um evento atípico atingiu Gramado e a região”.

Também pontua que o Executivo gramadense não teve acesso ao laudo particular, “embora já tenha solicitado àqueles que alegam o ter, o que impossibilita qualquer contraponto ou manifestação sobre o documento”.

Diante desse resultado, a Prefeitura ainda frisa que “está ciente dos seus deveres e arcará com todos os compromissos caso sejam comprovadas responsabilidades por parte do poder público”.

O comunicado da gestão finaliza dizendo que “Gramado segue realizando o monitoramento constante e diário das áreas afetadas, sempre com acompanhamento do Ministério Público”.

Advogados entram com pedido de indenização por danos permanentes

Aldairton Carvalho é um dos advogados dos moradores que têm casas interditadas no Piratini. “Desde o início de 2023 os moradores vêm denunciando as explosões pela abertura da estrada. O poder público não se assegurou de interromper os procedimentos e, com a chuva, houve um agravamento da situação, com a abertura de várias fendas pela obra, que prejudicaram de forma permanente as casas”, diz.

“Moradores entraram com pedidos de indenização, que estão tramitando na Justiça de Gramado. O Município ainda não foi citado, pois estamos na fase inicial do processo. Muitos moradores não têm como custear a ação e estamos pedindo a gratuidade, já que muitos hoje não tem nem onde morar. O intuito é reparar o dano causado”, conclui o defensor.

“É triste, estamos sem apoio”

Michelle Teixeira, de 33 anos, morava em uma das casas evacuadas. No terreno tinha a sua residência, onde morava com o esposo, o filho de 3 anos e o enteado de 8, além da estrutura de sua mãe na frente.

“É triste, estamos sem apoio de ninguém, preciso me virar com o que está ao meu alcance. Estou pagando aluguel”, lamenta a gramadense. “O sentimento é de justiça, sou contribuinte como qualquer pessoa”, afirma.

Conforme Michelle, a movimentação no local ainda acontece. “Vamos lá toda a semana e toda a semana tem movimentação, é constante.”

Faixas e a palavra justiça foram pichadas nas casas interditadas do bairro Piratini



Faixas e a palavra justiça foram pichadas nas casas interditadas do bairro Piratini

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

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