ENTENDA A SITUAÇÃO
Empresários de Cambará do Sul farão protesto por preços de ingressos nos cânions; queda do turismo é apontada
Estudo realizado aponta que em 2022 houve uma redução de 30% no número de visitantes únicos na cidade
Última atualização: 08/03/2024 16:35
Moradores e empresários do trade turístico de Cambará do Sul organizam um protesto para a próxima terça-feira (12). O pedido é pela redução do valor praticado nos ingressos de entrada e dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral, que estão sob concessão da Urbia Cânions Verdes. A manifestação está marcada para ocorrer a partir das 8h30.
Segundo os profissionais e comerciantes, o aumento dos ingressos está afetando a economia local e regional. Empresas, inclusive, estariam fechando as portas, por falta de clientes. Devido a essa situação, mais de 150 pessoas se uniram e devem manifestar sua contrariedade.
Atualmente, a concessionária cobra R$ 97 para que os visitantes possam conhecer os dois cânions, Itaimbezinho e Fortaleza.
“A situação ocorre desde o primeiro aumento nos valores dos ingressos, em novembro de 2021, quando consideraram este mês como alta temporada, para já iniciar os aumentos. Desde então, nosso turismo nunca mais foi o mesmo”, comenta o condutor de ecoturismo, Lucas Pietsch.
Segundo Lucas, o protesto não reunirá apenas profissionais do setor turístico. “Empresários representando restaurantes, supermercados, minimercados, farmácias, cafés estarão presentes. Ou seja, todo o trade que se encontra desapontado e afrontado, sem perspectivas de futuro e de um bem comum”, relata Lucas.
Audiência pública
A prefeitura de Cambará do Sul chegou a promover uma audiência pública na Casa do Turista, no dia 26 de fevereiro. Na ocasião, estiveram presentes representantes do Executivo municipal, da Urbia, ICMBio e empresários. Na convocação, a administração municipal informou que seria debatida a situação atual do contrato de concessão pública federal dos parques.
O encontro teve duração de mais de cinco horas. Trabalhadores aproveitaram a oportunidade e manifestaram suas opiniões.
“Está impactando, não tenho como dizer que não”
O prefeito de Cambará, Ivan Borges, conta que convocou o encontro após informações desencontradas por parte da Urbia e ICMBio e para ouvir representantes do trade turístico. “Ouvimos da Urbia que eles gostariam de instalar uma passarela de vidro na borda de um cânion. Isso com certeza traria muitos visitantes. Mas informaram que o ICMBio não autorizava. Já o ICMBio falou que o projeto não tinha sido apresentado. Nisso, achamos melhor marcar uma audiência e trazer todos os assuntos a tona. Lá, vimos que existe outra situação, que envolve regularização fundiária”, explica.
Para o representante do Executivo municipal, a cobrança mais alta dos ingressos impactou na vinda de turistas. O motivo está justamente na mudança do perfil desse visitante.
“Está impactando, não tenho como dizer que não. Com a entrada há quase R$ 100, também mudou quem procura a cidade. Mas em dois anos, a estrutura que o turista encontra não acompanha esse aumento. Temos o asfalto da RS-427, que está há anos emperrado e que liga ao Itaimbezinho. São 18 km de chão batido complicado”, justifica. “O visitante que vai de Mercedes até lá e pega uma estrada dessas, ele não vai querer voltar depois”, complementa.
Conforme dados repassados pela Secretaria de Turismo do município, em um estudo realizado de forma conjunta com o Sebrae, em 2022 houve uma redução de 30% no número de visitantes únicos na cidade, em comparação com 2019.
"É um número impactante. A promessa da concessão era que sairíamos de 200 mil visitantes para 1 milhão em cinco anos. Então as pessoas investiram muito em turismo. Um número do governo do Estado mostra que na cidade, de 2020 a 2022, houve um acréscimo de 70,4% na abertura de empresas do setor turístico. Houve um aumento de oferta, mas também o recuo da demanda", afirma o secretário Fabiano Souza.
"Temos esses empreendimentos fechando e é um ajuste de mercado. Esperava-se uma alta e com a queda, o cenário que temos é este ajuste de baixa de CNPJs, se não acontecer uma mudança drástica, principalmente se não houver o conserto das estradas, o asfaltamento, ou uma mudança de política de preços nos cânions com a concessionária", reitera o representante da pasta.
Investimentos municipais
Em relação às estradas, além RS-427, há a SC-012, que é uma via municipal e liga ao Fortaleza. Por lá, o Município realiza a pavimentação, através de recursos federais, vindos do Ministério do Turismo. São cerca de R$ 9 milhões de investimentos.
O prefeito Ivan cita Gramado e Canela como exemplos de desenvolvimento. “Esses dias mesmo vi uma foto de Gramado, em 1985. Olha como Gramado está hoje, depois de 40 anos. O desenvolvimento não vem de um ano para o outro, ele leva tempo. A mudança na infraestrutura é a longo prazo. A Urbia fala em trazer de 250 mil a 1 milhão de visitantes. Mas isso pode levar 15, 20 anos”, lamenta o prefeito, que construiu uma rua coberta na cidade como atrativo de forma recente.
Possível solução
Entre as soluções propostas para a concessionária e apresentadas em reunião, esteve o fracionamento dos ingressos. “Hoje cobram uma tarifa única para ir aos dois parques. Nossa sugestão era fazer opções mais acessíveis, para quem quer ir a apenas um, que reduza esse valor pela metade. Para atrair mais pessoas”, frisa o chefe do Executivo.
Apesar de não ser uma decisão ao nível municipal, visto ser uma concessão federal, a prefeitura demonstra preocupação pela arrecadação local.
O prefeito deve ir até Brasília conversar com representantes do ICMBio federal no dia 15 de março. Na ocasião será conversada a situação. “Será a primeira conversa que teremos na esfera federal. São eles quem determinam. Não podemos descartar um pedido para que revejam a concessão.”
"Mais de 55 milhões na infraestrutura"
Em nota, a Urbia Cânions Verdes informou que "já investiu mais de R$ 55 milhões na melhoria da infraestrutura para a visitação. Priorizando a contratação de mão de obra local, a concessão gera mais de 250 empregos diretos e indiretos na região. Como parte da estratégia de atração de novos turistas, investiu em atrativos de classe mundial como a tirolesa mais alta das Américas em operação no cânion Fortaleza, além da instalação de restaurantes, cafés e lojas de conveniência para melhor atender os visitantes. Em breve será lançado novo centro de visitantes para melhoria da experiência e ações de educação ambiental."
Coloca que "com os recentes eventos climáticos extremos que tem acontecido na região é primordial o investimento público em obras e infraestrutura resilientes às condições climáticas características deste destino turístico." Para isso, tem participado de discussões públicas e reuniões com a comunidade para falar sobre as condições das estradas.
Também ressalta que "tem nos planos de investimentos diversos projetos que requerem autorização do Poder Concedente (ICMBio), para atrações, tais como: Skybike, Arvorismo, Campings, além de passarelas e mirantes, que trarão novidades e possibilidades de contemplação e melhoria da experiência compatíveis com os melhores padrões internacionais, e vem demandando celeridade na liberação de tais ações".
Por fim, sobre os ingressos, esclarece "que os valores praticados atualmente, são os mesmos desde agosto de 2023, ou seja, R$ 97 para os dois parques, permitindo com o mesmo ingresso, o acesso por três vezes, durante o período de sete dias, em uma estratégia que incentiva a permanência no destino a fim de proporcionar receita para o comércio e turismo locais".
A concessão
Em agosto de 2021, a empresa pagou R$ 20,5 milhões referente à outorga dos parques. Em outubro daquele, iniciou a cobrança de entrada no local, na época, R$ 35 para um dia e R$ 55 para dois. Já em novembro, um reajuste: R$ 50 e R$ 80, respectivamente. Já em 2022, o ingresso passou para R$ 94, com o modelo de cobrança atual, que contempla os dois parques, numa visitação durante sete dias.
Com o título de outorga variável durante os 30 anos de contrato, mais R$ 75 milhões serão pagos aos cofres públicos. Em termos de investimentos obrigatórios, que são reversíveis aos parques nacionais no fim da concessão, a previsão é de R$ 33 milhões nos próximos quatro anos. Há um valor opcional em atrativos temáticos, hospedagem e circuitos de aventura, que podem chegar a um investimento adicional de R$ 20 milhões.
De acordo com a empresa, outros R$ 224 milhões representam uma desoneração para os cofres públicos, na medida em que a concessionária assume os custos operacionais e despesas de operação e gestão.