HISTÓRIA
Disciplina é legado deixado pelos alemães em Gramado
Documentário sobre bicentenário tem participação do gramadense Romeo Ernesto Riegel; cronista relata sobre início da boa reputação da cidade
Última atualização: 09/09/2024 17:38
Datas comemorativas sempre são especiais. Nesses momentos, histórias são contadas e lembranças revividas. Em 2024, as celebrações estão voltadas ao Bicentenário da Imigração Alemã. Desde aquele julho de 1824, quando os primeiros imigrantes chegaram no Estado, muito foi construído.
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Para que esse legado permaneça vivo, a Associação Rota Romântica reuniu historiadores e entusiastas do tema para criar um documentário sobre esses 200 anos. Uma dessas participações é a do gramadense Romeo Ernesto Riegel.
Além dele, o material possui depoimentos de Felipe Kuhn Braun e Angelo Rheinheimer, de Novo Hamburgo; Juarez Stein (Dois Irmãos); Jorge Schrör (Linha Nova); Patrícia Hansen (Picada Café) e a intermediação de Paulo César Soares, representante de Nova Petrópolis. O lançamento oficial está previsto para o dia 26 de novembro.
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Até ser possível acompanhar a íntegra do documentário, o professor Romeo adianta algumas das suas memórias. Descendente de alemães por parte de pai e mãe, nasceu e cresceu no interior de Gramado. Para ele, a história mostra que a cidade mudou desde a chegada desses primeiros habitantes.
“Eu sou cronista, não historiador. Sempre lidei com significados e essa foi a minha participação no documentário, de mostrar o que a presença alemã deixou para o Rio Grande do Sul e para a cidade. E, para mim, o principal ensinamento foi a disciplina”, atesta.
Conforme Romeo, a presença alemã em Gramado começa a se intensificar em meados dos anos 1920. O ar puro era uma das recomendações para o tratamento da tuberculose. Na época, não havia medicamentos e a doença chegou a ser responsável por 20% dos óbitos em Porto Alegre, nas primeiras décadas do século passado.
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Romeo conta que o pai, Bruno Ernesto Riegel, chegou em Gramado em 1917. O município foi o destino escolhido para buscar exatamente melhores condições para se recuperar da doença.
“E ele se surpreendeu como foi bem tratado pelas pessoas. Em Porto Alegre, o tuberculoso era jogado de lado. Aqui, as pessoas tomavam cuidados, não ficavam na mesma sala fechada, porque não conheciam as formas de contaminação. Mas ninguém era discriminado”, ressalta, afirmando que esse foi um dos motivos que deixou o pai apaixonado pela cidade. “E ele transmitiu isso para mim”, acrescenta.
O começo da boa reputação do município
Foi então que a região começou a ser requisitada. “As pessoas começaram a vir também para visitar esses parentes e iniciou um sistema de eficiência, nas clínicas, hotéis e até nas casas das pessoas que recebiam os doentes”, relembra Romeo. “A propaganda de Gramado iniciou ali. As pessoas vinham e viam que estava tudo organizado, arrumado, que todo mundo era bem tratado”, pondera.
O desejo de passar uma temporada em Gramado foi se transformando em vontade de residir de forma definitiva e os bairros começaram a ser concebidos. Um dos primeiros foi o Planalto, em que basicamente toda a área era de posse de Leopoldo Rosenfeldt.
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“Os terrenos começaram a ser anunciados em Porto Alegre e as pessoas vinham de trem para comprar. A maior parte, alemães. E uma curiosidade é que o Leopoldo Rosenfeldt selecionava para quem ele ia vender, ele não vendia para qualquer um, mesmo que tivesse dinheiro”, salienta. “Não existe cidade como Gramado e tudo isso começou desde aquela época”, complementa.
Educação como aliada
Romeo é médico veterinário e atuou por 41 anos como professor universitário. Profissionalmente, teve oportunidade de conviver com muitos alemães. “Não tenho medo de me enganar: o que os alemães mais deixaram para nós foi a disciplina”, assegura. “Eles criaram, através da disciplina, o interesse pela escola, por exemplo”, diz. Na infância, o professor cita que morava a quatro quilômetros da escola e fazia o trajeto a pé todos os dias, sem questionar.
“A gente nunca faltava aula. Não importava se estava chovendo, tinha geada. Até tinha um ditado que era: crianças na escola, adultos na enxada”, corrobora. “Os primeiros alemães que chegaram aqui nos mostraram um conceito de vivência social respeitosa e disciplinada, valores essenciais que eles fixaram na nossa comunidade”, declara.