Da inquietude de criança ao desejo de fazer a diferença na vida das pessoas. Aos 77 anos, o médico Luís Carlos Silveira é uma das referências quando se fala em saúde e bem-estar. Considerado o pai da medicina preventiva no Brasil, escolheu Gramado como o lugar ideal para implementar seu método, criado há mais de meio século.
Quebrar paradigmas e ouvir o que os pacientes tinham a dizer eram desejos no então estudante de Medicina, em Pelotas. A palavra prevenção não estava presente nas aulas e tampouco nos consultórios.
“O Método Kur foi criado por necessidade, porque a medicina praticada sempre foi a da doença e eu queria a medicina da saúde”, conta.
“Eu me incomodava profundamente quando íamos para a enfermaria e éramos obrigados pelos professores a canalizar as perguntas para conduzir um diagnóstico e dar o tratamento. Era para não deixar o paciente falar”, argumenta.
Era com uma dose de rebeldia que Luís voltava ao local à noite. “Tinha a liberdade de conversar e tirava coisas extraordinárias e que realmente eram os motivos pelos quais os pacientes estavam ali”, pondera, ao citar o caso de um agricultor que perdeu a colheita, teve altos níveis de estresse e, com isso, queda da imunidade, o que ocasionou uma doença. “Fui contra tudo e contra todos”, completa.
Cinco pilares
Do alemão, kur pode ser traduzido como cura. E era isso que o médico queria proporcionar. Já difundido nesses 53 anos de história, são cinco os pilares fundamentais: água, movimento, alimento, relaxamento e equilíbrio.
Luís reforça que sempre foi curioso e, mesmo na época da escola, não gostava de decorar o conteúdo, queria entender como tudo funcionava. Levando esse sentimento à profissão, iniciou uma espécie de laboratório do método em Pelotas.
“Identificava casos de obesidade, hipertensão e diabetes que conseguíamos prevenir e controlar, evitando alimentos processados e com a inclusão de exercícios físicos. Naquela época, começaram os primeiros resultados”, frisa.
Início em Gramado
Com essas premissas, Luís chegou em Gramado, em dezembro de 1971, para colocar em prática as ideias. A cidade não foi escolhida por acaso. O município era referência para tratamento de doenças respiratórias, pela qualidade do ar. Sendo um dos primeiros médicos na região, começou a atender a comunidade, principalmente no interior.
Continuando com os estudos, em 1982, junto com a esposa Neusa, fundou, no bairro Bavária, o Kurotel. O intuito era ser um centro de saúde completo. Ao longo dos anos, foi buscando incrementar os tratamentos. “Para o controle do estresse, buscamos referência nos Estados Unidos. Temos um modelo alemão para alimentação. Na área da nutrição, buscamos inspiração na Suíça”, destaca.
No começo, os clientes buscavam o spa para emagrecimento e o médico salienta que recebiam muitos obesos mórbidos. Depois, houve ciclos de combate ao tabagismo e também à ansiedade e depressão, com atendimentos de equipes multidisciplinares.
Os segredos da longevidade
Luís reforça que, apesar de ter criado o método e buscar os melhores tratamentos, o que precisa ser feito para buscar uma vida mais saudável e longa não é segredo. “São conceitos que qualquer um pode fazer”, relata. Para ele, 53% estão envolvidos na alimentação e exercícios físicos. “Pode ser caminhar, nadar, andar de bicicleta, dançar. Mas tem que fazer”, diz.
Outros 17% são relacionados com a genética. “É um ‘pacote’ que recebemos dos nossos pais, com coisas boas e outras não. Mas a gente sabe que, mesmo se a pessoa tiver um histórico para uma determinada doença, se manter um bom estilo de vida pode não desenvolver”, comenta.
Inclusive, para Luís, o futuro da medicina é pela genética. “Através de mapeamento, é quase como se o médico pudesse estar na frente de uma bola de cristal e ver as fragilidades e prevenir futuras patologias”, declara. “Para se ter uma ideia, até o nível de atividade física e a melhor alimentação é possível apontar”, complementa o profissional.
Depois, 20% é o meio ambiente em que a pessoa vive. “E não é apenas sobre a poluição, mas também sobre os ambientes de trabalho e familiar. Viver em locais extremamente estressantes e de conflitos faz muito mal para a saúde”, revela.
Por fim, os 10% que faltam são completados pela assistência médica. “Que é ter uma avaliação médica e um tratamento aquedados, quando necessário”, corrobora, afirmando que a utilização de medicamentos só é recomendada em casos de riscos iminentes.
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“No Kurotel, cuidamos daqueles 53%. Os nossos clientes saem com mais consciência que precisam mudar e o que precisam mudar. Cada um é responsável por sua própria qualidade de vida, podemos delegar e indicar, mas ninguém pode fazer isso por você”, explica, acentuando que cada cliente recebe um cronograma próprio de atividades e alimentação.
“Viver em equilíbrio”
Nos últimos anos, Luís recebeu dois reconhecimentos internacionais, na Grécia e Itália, pelas contribuições na medicina. Desde então, tem realizado ainda mais palestras, principalmente para médicos. Mesmo assim, faz questão de circular pelos corredores do Kurotel.
Os negócios ainda são comandados pela família, contando também com o apoio das quatro filhas: Rochele, Mariela, Bárbara e Evelise.
Em conjunto, realizam ações sociais com a comunidade, através de iniciativas como a Associação Mente Viva, que proporciona experiências de meditação para crianças, e o Global Wellness Day, que incentiva melhores hábitos de saúde física, mental e emocional.
Ao olhar para a trajetória profissional, Luís reforça a felicidade em saber que seu método transformou a vida de muitas pessoas. “Se tivesse que recomeçar, faria exatamente do mesmo jeito. Não modificaria absolutamente nada”, acentua.
E um último segredo compartilhado é viver em equilíbrio. “Os extremos são perigosos. O radicalismo não é bom. Temos que descobrir os nossos pontos de equilíbrio”, concluí.
Detox de tecnologia
Com altos níveis de sedentarismo e com uso constante de telas, o médico reforça que uma das recomendações aos clientes é um “detox de tecnologia”. O uso excessivo do celular também gera doenças físicas, com dores musculares e tensões. “A tecnologia nos traz informações, mas é preocupante porque está acabando com o convívio social. A gente sabe dos problemas que já estão acontecendo, precisamos nos policiar”, sublinha.