AMOR PELA PROFISSÃO
Conheça a história do Dr. Nelsinho, pediatra que há 51 anos se dedica a cuidar das crianças da região
Com milhares de pacientes já atendidos, o médico foi um dos primeiros da especialidade em Gramado. Confira algumas dicas e conselhos do profissional
Última atualização: 04/08/2024 11:05
Um trabalho que inicia nos primeiros segundos de vida e que segue por vários anos, buscando o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Assim é a atuação dos pediatras, médicos especializados nos cuidados com pequenos. Em julho, mais precisamente no dia 27, é celebrado o Dia do Pediatra, data escolhida por ter sido a fundação da Sociedade Brasileira de Pediatria, em 1910.
E quem carrega com orgulho essa profissão é Nelso Tomazelli, o Dr. Nelsinho, como é mais conhecido. Em março deste ano, completou 51 anos de atendimentos em Gramado. A estimativa dele é que já tenha ultrapassado três ou até mesmo quatro gerações de crianças. Nelsinho conta que foi um dos primeiros pediatras da região. Por causa da baixa natalidade, até recebia críticas pela escolha da especialidade.
De origem do bairro Várzea Grande, vem de uma família simples de 11 irmãos. O pai era pedreiro e a mãe dona de casa. Foi nos estudos que encontrou a possibilidade de melhorar de vida. “Agarrei com unhas e dentes as oportunidades que surgiram”, declara.
Nelsinho ganhou uma bolsa de estudos e foi para Novo Hamburgo cursar o ensino médio em um internato. Ele relembra que a rotina era rígida e com diversos períodos de aula durante o dia. “Era uma época que se estudava muito e que não se tinha essa capacidade distrativa que as crianças têm hoje com os eletrônicos”, comenta.
Após esse período, prestou vestibular para Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e passou de primeira. O interesse pela pediatria surgiu mais ao final da graduação. Formou-se em 1970 e teve dois anos de residência na Santa Casa e Hospital de Clínicas, em Porto Alegre. Em 1973, voltou para a cidade natal e instalou seu consultório. “A gente vinha e se apresentava para a comunidade”, relata.
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Milhares de pacientes atendidos
E são anos de intenso trabalho. O médico destaca que até meados de 1999 não existia plantão hospitalar na cidade. Em um município pequeno e que todos se conheciam, os pais iam diretamente na casa dele. “Fiz muitos atendimentos gratuitamente fora do meu consultório e horário de trabalho”, frisa. Além disso, Nelsinho também trabalhou por mais de duas décadas em postos de saúde da cidade.
O endereço que ele atende é o mesmo desde 1992, na Rua Garibaldi. Na porta da sala 205, a famosa placa de madeira já vista por tanta gente. Faz sete anos que Nelsinho parou de trabalhar em partos e nas internações de crianças, assim como não atende mais depois de horários habituais do consultório.
Ao longo desses 54 anos de exercício da Medicina, são milhares de crianças que passaram pelo olhar atento do médico. “Eu tenho prontuário eletrônico de pacientes desde agosto de 1997. Desde lá, tenho registro de 7 mil pacientes mais ou menos. Fora todos aqueles que eu atendi de 1973 a 1997 e que estão em arquivo físico e os do posto. Talvez três vezes mais. É quase a metade da população”, brinca Nelsinho.
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"O que importa é a vida que se leva"
Com tanta experiência, o pediatra declara que a carreira é repleta de bons momentos e de alegrias, mas que os ruins e as perdas sempre marcam mais. “Mas o número de situações assim não chega nem perto de todas as situações de satisfação”, alega. Ele se sente orgulhoso por ter procurado exercer a profissão de forma ética e correta.
Pai de quatro filhos, Nelsinho conseguiu passar esse amor ao filho Kássio, que também se tornou pediatra. Ele reforça que outra de suas conquistas é a manutenção do relacionamento com as famílias por anos, pois atende até pessoas com 20 anos de idade. “O que importa é a vida que se leva. Busco sempre manter a ética, empatia, compaixão. Coisas básicas”, aponta.
Nelsinho não pretende parar de trabalha, por enquanto. Deve ir apenas diminuindo o ritmo. No tempo livre, gosta de ler e assistir a filmes e séries. Iniciar ainda na juventude o cuidado com o corpo e a mente é o segredo para um envelhecimento saudável. Assim, faz musculação duas vezes por semana e caminhadas quando possível. “E jogo tênis todos os sábados. Tenho encontro com os amigos e uma cervejinha depois que é fundamental. É a vida em equilíbrio”, declara.
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Mudanças das gerações e o "remédio" indicado
As mudanças das gerações são percebidas por Nelsinho. De acordo com ele, alguns fatores são fundamentais para a cura de um paciente. “Colo, tempo, afeto e atenção”, ressalta. “Os pais hoje em dia estão confusos com muitas informações e muitas informações erradas. Nem todos têm capacidade de filtrar aquilo que realmente é importante”, pondera o médico, ao citar o exagero no uso de medicamentos e de pedidos de exames que, na maioria das vezes, os médicos não sabem nem interpretar.
Também existe hiperconexão. “Tenho pacientes na faixa dos 10 aos 16 anos que possuem um uso diário de seis horas no celular, com pouco hábito de leitura, um vocabulário cada vez mais pobre e uma capacidade de comunicação cada vez menor”, atesta. Para Nelsinho, tudo isso pode vir acompanhado de depressão e ansiedade.
O “remédio” indicado pelo pediatra é o aumento do tempo em família. “Introduzir programas com filhos e, de preferência, ao ar livre. Sabemos que o celular é um instrumento de trabalho importante hoje em dia, mas os pais também devem evitar hiperconexão”, avalia.
“Os jovens estão dormindo, talvez, uma ou duas horas a menos do que 15 anos atrás. Isso faz com que haja uma diminuição da capacidade de memorização, de concentração”, diz, ao afirmar que crianças e adolescentes deixaram, ainda, de brincar e praticar atividades físicas ao ar livre. “Acaba que não têm coordenação, equilíbrio, energia”, acrescenta.
Diferenciar afetividade e autoridade
Com o avanço da Medicina, Nelsinho afirma que, atualmente, consegue se ter diagnósticos mais precoces de diversas condições, como o transtorno do espectro autista (TEA) e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Mas ele adianta que é preciso ter cuidados e atenção em relação a isso.
“Temos diagnósticos de TDAH que não correspondem. Uma criança que está sujeita a uma realidade cheia de estímulos vai ter efeitos que não sabe lidar. As pessoas querem que tudo se resolva de forma rápida. Se você leva um tempo para ter algum problema, vai levar bastante tempo também para solucionar aquilo”, salienta.
O médico dá dicas para que os pais fiquem de olho nas crianças e adolescentes em casos de saúde mental. “Normalmente apresentam isolamento, dificuldade da socialização, relacionamento social e reações que são inesperadas para a faixa etária”, declara.
“Os pais precisam saber diferenciar a afetividade de autoridade. Amor, afeto, carinho, atenção são pilares básicos para a educação, mas, um degrau abaixo, é preciso firmeza, disciplina e determinação. Dentro dessa chamada educação positiva, muitos fazem a confusão e acham que a criança não pode se frustrar, não pode ser contrariada, se possível evitar todo o sofrimento. Não tem uma vida com sentido se não tiver também frustração, dor, sofrimento. Assim é que funciona”, corrobora.