Gramado ainda nem era um município constituído e a família Lazaretti já cultivava uvas por estas terras. Com muita vontade de trabalhar e de construir uma nova vida, foi em 1880 que esses italianos se enraizaram na localidade da Linha Tapera.
Atualmente na quarta geração, Nilton Lazaretti mantém viva a tradição que começou com o bisavô. Uma história que perdura há 144 anos. A memória é resgatada a cada visita guiada realizada no local. Nos quatro hectares utilizados para a produção, ainda há quatro videiras centenárias.
O clima desta safra não ajudou e a colheita deve ser, pelo menos, 50% menor, se comparada com o ano passado, que chegou a 35 toneladas.
“Este ano eu não sei se vou conseguir colher 15 toneladas”, lamenta o produtor. “Na uva niágara branca, que uso para o vinho branco, a queda é de uns 70%”, declara.
O grande volume de chuva é um dos causadores, que atrapalhou a floração dos frutos. “A gente faz a nossa parte, mas depende do clima”, ressalta Nilton. Segundo ele, o alento tem sido os dias de calor, que favorecem a colheita e melhoram a doçura da uva.
Em toda a cidade, a Emater estima que são 90 hectares destinados ao cultivo da fruta. Para 2024, a previsão é que a safra tenha 1,5 tonelada e que os produtores gramadenses consigam alcançar 100 mil garrafas de vinho e 100 mil litros de suco de uva artesanal no ano.
Trabalho inicia em julho
Nilton tem 56 anos e ressalta o trabalho diário pesado para conseguir manter a produção. “O trabalho é o mesmo para uma safra boa e para a ruim”, atesta. Quando era mais jovem, até tentou sair da propriedade para trabalhar na cidade, mas cita que gosta mesmo é de cuidar da plantação.
Tudo começa em meados de julho. “Fazemos a poda para que venha uma nova brotação. No inverno, o frio mantém a parreira adormecida e quanto mais frio melhor. Em agosto e setembro começa a brotação da fruta que agente colhe até o final de fevereiro”, explica.
“Mas agora temos as quatro estações em um único dia e a planta sofre”,completa. Quem ajuda em todo esse trabalho é a esposa Leila Lazaretti, de 51 anos, e os dois filhos. Na época da vindima, que é a de colheita, contrata mão de obra temporária. O que também está complicado, conforme o produtor.
“Um trabalho braçal que ninguém mais quer fazer, porque precisa colher cacho por cacho”, pondera. A maior parte da produção é de uvas bordô, mas ele tem também niágara branca e a rosada, gota de ouro e Martha. Dessas variedades, saem vinhos, sucos e os frutos para consumo in natura, garantindo o sustento da família durante todo o ano.
Essência colonial com toque tecnológico
Nilton conta que leva em torno de seis meses para a produção de seu vinho colonial. São entre 12 e 14 mil litros por ano feitos de forma artesanal. A essência foi a aprendida com o bisavô, mas com um toque de tecnologia, através das pipas de polipropileno, e os cursos que foi fazendo ao longo dos anos, aprimorando a qualidade.
“Eu sempre digo que o vinho bom é aquele que se adapta no paladar de quem está tomando”, reforça. Outra tradição que carrega é a da grappa. O alambique da propriedade produziu, em 2023, 450 litros. “Colhemos a uva e fazemos a fermentação por quatro dias. Depois, fazemos a separação. O fruto vira vinho e a casca vira a grappa”, ressalta.
Os produtos são vendidos no sítio da família e também na Casa do Colono, na área central. Nilton e Leila abrem a propriedade para quem quiser conhecer, basta fazer contato pelo telefone (54) 9 9954-2532.
O local, ainda, faz parte do roteiro O Quatrilho, comercializado pela Brocker Turismo. Em uma união do turismo com o meio rural, Leila ressalta que é uma oportunidade de agregar valor aos produtos.
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Evento celebra a vindima em Gramado
A celebração da vindima é comemorada em Gramado. O evento, organizado pela autarquia municipal Gramadotur, ocorre até o dia 3 de março. Além da Família Lazaretti, participam também as vinícolas Casa Seganfredo, Arte Líquida, Benvic, Masotti, Vinícola Stopassola e Cantina Zio Pietro.
A programação gratuita é realizada na Praça das Etnias, transformada na Vila do Vinho. Mas cada vinícola também possui atividades paralelas em suas propriedades.
“Criamos este evento para que nossos turistas e visitantes possam conhecer a potencialidade do vinho, do espumante e do suco de uva que é produzido aqui em Gramado pelas nossas vinícolas, que crescem de forma exponencial a cada ano em qualidade e diversidade de cultivo”, destaca a presidente da Gramadotur, Rosa Helena Volk.
A Vila do Vinho tem funcionamento diário, das 11 às 22 horas. O espaço conta também com opções gastronômicas para harmonizar com as bebidas. Shows musicais, workshops e a pisa da uva gratuita sempre aos sábados, às 19 horas, completam as atrações.
A programação completa está disponível no Instagram @vindimaemgramadooficial.