Restauro

Começaram as obras de restauro da Casa do Major

Casarão será transformado em museu e terreno terá espaço, ainda, para um café e bilheteria, que serão licitados; investimento é de R$ 2,2 milhões da iniciativa privada

Publicado em: 28/05/2021 03:00
Última atualização: 31/07/2024 09:23

Imagem ilustrativa de como ficará a Casa do Major Foto: Divulgação
Quem passou pela Avenida Borges de Medeiros nos últimos dias, nas proximidades da Praça das Etnias, deve ter percebido que a imponente Casa do Major está encoberta por tapumes. A boa notícia é que a tão esperada obra de restauro desse patrimônio histórico de Gramado começou.

O projeto, que terá custo total de R$ 2,2 milhões, está sendo concretizado através de uma Parceria Público-Privada (PPP), ou seja, a Prefeitura de Gramado não empregará recursos no local. A responsabilidade pela execução é da Hasam Incorporações e cabe ao poder público fiscalizar o cumprimento do acordo.

A parceria surgiu após o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) de um novo empreendimento da empresa, que será construído no bairro Avenida Central. Esse estudo demonstra os pontos positivos e negativos da construção para a sociedade. Com o impacto causado pela edificação dos 210 apartamentos de alto padrão, foi estabelecido um percentual sobre o custo da obra para que seja revertido à comunidade.

O proprietário da Hasam, Felipe Werpp, explica que a obra foi aprovada no início de 2021, quase três anos depois do projeto ser protocolado na Prefeitura. Ele critica a demora e burocracia, enfatizando que o empreendimento é sustentável, vai melhorar a arrecadação da cidade e que o entrave ocorria "apenas por ser uma obra grande".

Quando a construção foi liberada, ficou definido que o valor da PPP seria destinado para o projeto de restauro da Casa do Major. "Foi uma ótima escolha. Não temos a opção de definir onde empregar o recurso, até gostaria mais de construir uma escola, mas vamos executar a obra com perfeição", comenta Felipe.

Localizado ao lado de um dos pontos turísticos de grande movimentação de Gramado, a Rua Torta, o terreno da Casa do Major ganhará uma cafeteria e uma bilheteria para o museu. A expectativa do empresário é que o local se torne autossustentável. "Esperamos que a empresa que vencer a licitação para o café tenha lucro e consiga investir em melhorias e na conservação do espaço para que daqui a alguns anos tudo não esteja em mau estado de novo", frisa o empreendedor.

Plano museológico

Projeto de restauro da Casa do Major Nicoletti Foto: Reprodução
Com o restauro concluído, previsto para março do ano que vem, a Casa do Major vai virar um museu. A Secretaria da Cultura de Gramado informa que o plano museológico ainda está sendo montado, porém, a ideia é que o escritório do Major José Nicoletti Filho seja utilizado como espaço exclusivo do acervo da família.

"As demais peças da casa devem receber exposições itinerantes, manifestações folclóricas, históricas e culturais. O que se estuda é que o espaço seja um centro de interpretação histórica e cultural, e o objetivo é que consigamos aliar a tecnologia para contar a história de Gramado", revela o secretário da Cultura do município, Ricardo Bertolucci Reginato.

O gestor da pasta reforça, também, que o plano de negócios para a cafeteria que será instalada no local não está finalizado e, por isso, não há prazo para abertura do processo de licitação.

"A Casa Major Nicoletti Filho representa a história de Gramado em pleno Centro da cidade. Sua importância será imensa, uma vez que estamos falando de um primeiro grande ponto cultural e turístico a tratar exclusivamente da história de Gramado e sua gente. Resgate e preservação do nosso patrimônio histórico são premissas da atuação da Secretaria da Cultura, que entende que é necessário salvaguardar nossa cultura identitária e as origens de uma cidade que foi construída com muito esforço e dedicação", salienta Ricardo.

Apoio da família do Major

Projeto é sustentável e prevê telhado verde para a bilheteria e café Foto: Reprodução
O neto do Major, Marco Antonio Nicoletti, afirma que a família, que é detentora do acervo, sempre esteve à disposição e auxiliou em várias instâncias para assegurar a conservação e concretização do museu. “Não existe nenhuma conotação política por parte da família, só o que desejamos é ver acontecer a preservação desse bem histórico-cultural da melhor maneira possível, como parece estar acontecendo depois de toda a luta”, ressalta.

Conforme Marco, o mais importante é que as pessoas conheçam a história da cidade. “Que os gramadenses possam desenvolver um sentimento verdadeiro de pertencimento a esta bela história, num resgate da identidade da cidade, através de um plano piloto em cultura, que o museu pode desencadear, contando necessariamente com outros acervos de famílias que foram tão importantes quanto a família do Major”, reforça.

Resgate histórico para a criação do projeto

A Casa do Major fica localizada na esquina entre a Avenida Borges de Medeiros e a Rua Emílio Sorgetz, na área central de Gramado Foto: Reprodução
Evandro Eifer Jr. é o arquiteto responsável pelo projeto de restauro que começou a ser executado. Segundo ele, o conceito utilizado foi o de contraste. Evandro, que possui mais de 30 anos de experiência na área, explica que a ideia é que a Casa do Major seja a protagonista, e que a bilheteria e o café componham o cenário de forma secundária. “Esse conceito trabalha com a verdade e com a essência da arquitetura. Se eu utilizasse no café e na bilheteria as mesmas características da época, seria uma mentira. Fazer algo contemporâneo e moderno vai proporcionar esse contraste forte, estabelecendo uma valorização para a casa que está sendo restaurada, porque ela é única”, evidencia.

O projeto também contempla acessibilidade, energia sustentável e reutilização da água da chuva, o que tornará a manutenção do local mais barata. Os tetos das novas edificações serão verdes e a Mata Atlântica existente ficará preservada. O arquiteto participou de obras emergenciais realizadas há alguns anos no casarão. “Tinha uma peça menor, que foi utilizada como cozinha por uma das famílias que moraram após o Major, e o piso estava podre. Eu tirei duas amostras da madeira e enviei para um laboratório para que fosse feita a análise do material e o nível de umidade, para que pudéssemos buscar uma madeira semelhante. Descobrimos que era uma madeira de araucária e que tinha 18% de grau de umidade. Em Canela, conseguimos um fornecedor para fazer a recuperação daquela parte do piso”, salienta.

Evandro enaltece que uma obra de restauro não é comum e que é preciso buscar formas de realizar intervenções corretivas. Os estudos e as avaliações do arquiteto, por exemplo, apontam que a Casa do Major não possuía banheiro. “Depois do Major, a casa foi dividida em duas partes e depois em três, o que descaracterizou um pouco, mas como a casa é de madeira, é possível perceber claramente pelo o que ela passou”, avalia.

Com as marcas físicas do espaço, Evandro reitera que se a obra for de acordo com o projeto, será a mais fidedigna possível ao que era quando habitada pelo Major. “Fizemos levantamento e desenhamos as portas e janelas como originais, além disso, projetamos as plantas com o mapeamento do que deveria ser recomposto. A única coisa que não será possível reproduzir é a escada que existia naquela época, pois o Plano de Prevenção Contra Incêndio não permite”, completa.

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Matérias Relacionadas