As chuvas intensas que atingiram a região entre o final de abril e este mês de maio causaram inúmeros prejuízos na produção rural. Em Gramado, a Emater e a Secretaria da Agricultura fizeram um levantamento que estima uma perda de quase R$ 20 milhões somente nesse período.
As consequências do fenômeno El Niño estavam sendo monitoradas desde o final do ano passado pelos órgãos, acompanhando o desenvolvimento de lavouras. Entre as culturas, as maiores perdas financeiras foram registradas no milho e nas hortaliças. Com a catástrofe climática, acentuaram os danos no solo e nas estruturas das propriedades.
“A safra que tinha não se recupera mais este ano. O milho estava em época de colheita e os grãos apodreceram, assim como tubérculos”, lamenta a extensionista da Emater, Janete Basso, ao citar exemplos como batata, feijão, beterraba, rúcula, brócolis e cenoura. Ela comenta também que o meio rural tem tido diversos problemas ano após ano, seja pelo excesso ou falta de chuva e por doenças nas plantações.
A profissional cita que as estimativas foram determinadas de acordo com vistorias a campo e contatos com os agricultores. “É uma renda que deixa de existir para a agricultura. Eles contavam com esses valores do que tinham plantado, perderam um investimento já feito”, corrobora.
No montante, não estão previstas perdas futuras decorrentes da comercialização dos produtos das 100 agroindústrias da cidade. “O turismo também acaba afetando esses produtores, principalmente os das agroindústrias que dependem da movimentação para a vender seus produtos”, atesta o secretário adjunto da Agricultura, Eliézer de Lima.
Nessa junção entre a parte técnica e apoio com maquinário e ações, Emater e Agricultura afirmam que buscam minimizar esses prejuízos. O relatório será encaminhado aos governos estadual e federal, podendo auxiliar na tomada de decisões e em políticas públicas de apoio à população afetada.
Localmente, uma das medidas será a realização de feiras ao longo do ano, com o objetivo de tentar aumentar a renda das famílias.
“Levantar a cabeça e ir em frente”
Um das possibilidades de venda dos produtores gramadenses é para a merenda das escolas do município. Em 2024, há 60 cadastrados e um investimento previsto de R$ 1,7 milhão ao ano. O processo ocorre através de licitação, em uma maneira de fomentar a economia rural e, ainda, oferecer uma alimentação mais saudável aos estudantes.
“Levantar a cabeça e ir em frente”, diz o agricultor Anivo Kunzler, de 67 anos. Ele frisa que perdeu 900 quilos de feijão. “Estava pronto para colher e apodreceu tudo. Tive também mais 2 mil pés de alface perdidos”, contabiliza. Um trabalho diário e sem folga que não trará retorno financeiro nenhum. Isso somado aos estragos na propriedade, localizada na Linha Tapera. “Muitos estragos nas roças, parecia que estava passando um rio”, acrescenta, ao recordar os primeiros dias deste mês.
Com foco maior no plantio do feijão-vermelho, que tem o valor agregado melhor, Anivo conta que nem as sementes consegue aproveitar. Terá que fazer o investimento para começar em setembro a nova plantação. Mas vai começar de novo, sem perder as esperanças. “É ter fé de que no próximo ano vamos colher melhor”, prospecta.
“A perda é tão grande que nem dá para calcular”, diz agricultora da Serra Grande
E é essa esperança em dias melhores que também motiva o casal David Faiz, de 67 anos, e Ana Marlene, 55.
Moradores da Serra Grande, eles ressaltam que não é fácil viver do meio rural. “Mas precisa ter fé. Vamos comprar semente e semear de novo”, projeta Ana. “O que assusta é que mesmo com todas as perdas, os boletos vêm. Temos financiamento para pagar e a gente não consegue ter acesso aos seguros. A expectativa é que a gente consiga levar para mais adiante alguns pagamentos”, revela David.
“A perda é tão grande que não dá nem para calcular”, diz Ana ao falar sobre o mais recente período de chuva que enfrentaram. Na propriedade, cultivam cenoura, brócolis, cebola e beterraba. “A gente puxa a cenoura e ela vem um pedacinho só boa, o restante tudo podre”, lamenta David.
Espaço de venda dos produtos
Produtos rurais podem ser encontrados em Gramado nos Fornos Coloniais do Centro, na Praça das Etnias, diariamente, das 8 horas às 18h30; Casa do Colono, na Praça das Etnias, diariamente, das 9 horas às 18h30; Fornos Coloniais Várzea Grande, junto ao terminal rodoviário, funciona nas sextas, sábados e domingos, das 8 horas às 18h30.
Feira durante o feriadão
A Feira das Agroindústrias ocorrerá no feriadão de Corpus Christi, na Praça das Etnias. Na oportunidade, ainda serão apresentadas tábuas de frios, para serem degustadas. O evento será realizado de quinta-feira, dia 30, até domingo, 2, das 9 às 18 horas.
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