EMERGENCIAL

CATÁSTROFE NO RS: Loteamento em Gramado receberá obras de drenagem para tentar frear os deslizamentos; entenda

Com cerca de 70 lotes, Orlandi é uma das áreas da cidade que precisou ser evacuada

Publicado em: 18/05/2024 14:13
Última atualização: 18/05/2024 15:42

Uma intervenção “radical” de drenagem começará a ser executada no Loteamento Orlandi, no bairro Várzea Grande, em Gramado, para tentar frear os deslizamentos que estão acontecendo no local. O diagnóstico e a sugestão de obra foram apresentados, na noite da sexta-feira, dia 17, aos moradores.

SIGA O ABCMAIS NO GOOGLE NOTÍCIAS!

Loteamento Orlandi foi um dos locais evacuados Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL
Com cerca de 70 lotes, o Orlandi é uma das áreas da cidade que precisou ser totalmente evacuada. Rachaduras no asfalto e nas residências começaram a aparecer em novembro de 2023, mas se intensificaram com as fortes chuvas que atingiram todo o Estado, entre abril e maio.

Desde aquela época, iniciaram os estudos para buscar entender o que estava acontecendo. Em janeiro deste ano, esse diagnóstico começou a ser realizado pela empresa BSE Engenharia, através dos especialistas em geotecnia, os engenheiros Luiz Bressani e Eduardo Simões.

Luiz Bressani é um dos profissionais que está atuando no Loteamento Orlandi, em Gramado Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

“Gramado tem sido surpreendente em várias situações, mas a gente tem conseguido avançar. Vocês estão morando em um dos locais mais impressionantes que eu já conheci. Isso, infelizmente, não é um elogio, é uma característica da dificuldade do trabalho”, aponta Bressani, que tem mais de três décadas de experiência e é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

Com o chamado método observacional, utilizado em túneis e metrôs, os profissionais apresentaram uma solução emergencial para tentar estancar o problema. “Nós vamos entrar com uma solução bem radical, pesada de drenagem, porque a gente acredita que a drenagem é fundamental. Agora, a gente acha que entendeu os fluxos de água”, ressalta, apontando que há um “movimento multidirecional”.

Para o professor, eles estarem atuando no loteamento há meses foi fundamental para que a solução fosse apresentada agora. Segundo ele, a dificuldade e o que está causando os deslizamentos é a quantidade de chuva infiltrando na terra e chegando a uma camada de argila marrom mole. Essa camada no subsolo tem oito metros de espessura e está a 18 metros de profundidade.

Para essa drenagem, trincheiras (valas) com uma profundidade que pode chegar a até 12 metros serão cavadas. A ideia é colocar tubos de drenagem e camadas de materiais para que toda a água que está movimentando o loteamento possa ser escoada. A via principal, a Rua Augusto Orlandi, tem 700 metros de extensão.

“Tudo me leva a ter esperança que a gente consiga manter algumas casas que não mexeram muito, porque se não fizermos nada elas vão ser desfeitas”, alega o engenheiro. Conforme informações dos próprios moradores, há residências que foram deslocadas por quase 30 centímetros, e que não terão mais conserto estrutural.

Como funcionará

O estudo conta com 14 pontos de sondagens, em uma espécie de “tomografia” da área. A drenagem funcionará por gravidade, com monitoramento das pressões da água e dos deslocamentos, atuando de forma permanente.

“Isso deve dar um resultado de 15 a 20 dias, dependendo da drenagem do solo e de condições que a natureza é quem controla. É surpreendente como a drenagem é rápida, desde que se coloque no local certo. O que estou oferecendo é uma inovação na prática”, atesta.

O intuito também é ter poços verticais, que podem ir até 15 metros, com 40 centímetros de diâmetro. Dentro deles, serão instaladas bombas que devem funcionar por dois meses.

“Essa solução seria inadmissível há dois meses. Por quê? Porque a gente não tinha dados, não sabia o que ia acontecer. E a solução provoca alguma deformação”, explica.

Após a água ser retirada do solo, haverá um recalque, ou seja, a área vai afundar. “Isso vai acontecer de forma vertical, mas vai aumentar a resistência. A camada argilosa é tão mole porque ela tem muita água”, aponta. “A quantidade que vai ceder, ainda não se sabe”, complementa Bressani.

A ação é uma medida para salvar os terrenos do loteamento para que possam se tornar edificáveis. O professor aponta que são necessários cerca de seis meses de trabalho para uma resposta definitiva. Enquanto isso, os moradores ficam impedidos de retornar às casas.

A obra será executada pela equipe da Secretarias de Obras, com acompanhamento da BSE Engenharia. “É complexa, não é uma obra fácil de ser executada”, afirma o secretário William Camillo. Ele cita a dificuldade na compra dos materiais e contratação de equipamentos. O Executiva salienta que ainda não tem o custo estimado para a obra.

“Vai levar de em torno de 15 a 20 dias para chegar o material, mas enquanto isso vamos fazendo a supressão de vegetação, demarcando por onde nós vamos passar com a tubulação, que é muito precisa. De repente, já conseguimos fazer os poços. Vamos ir trabalhando em cima disso”, destaca.

Na reunião, os moradores se mostraram favoráveis à medida. Agora, a Prefeitura trabalha em documentos jurídicos para dar seguimento, pois já se sabe que a terra vai se acomodar e, então, mais casas poderão ter danos estruturais.

Acompanhamento

Equipe da Prefeitura de Gramado participou da reunião com os moradores do Loteamento Orlandi, em Gramado Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

A secretária do Meio Ambiente de Gramado, Cristiane Bandeira, reforça que a Prefeitura iniciou na quinta-feira, dia 16, os levantamentos de campo necessários. Técnicos vistoriaram a área de vegetação e há algumas árvores que precisarão ser cortadas. Segundo ela, são espécies que não possuem um grande grau de preservação.

Um geólogo e dois engenheiros do Executivo farão o acompanhamento, os mesmos que já que realizaram levantamento sobre a situação dos lotes e das edificações do Orlandi.

O prefeito Nestor Tissot esteve no encontro e disse que “não falta esforço do Executivo para atender às demandas da população”. Ele também agradeceu aos profissionais envolvidos no processo e a iniciativa da comunidade de montar uma associação para poder ter uma comunicação mais assertiva e direta junto ao poder público.

Patrícia Lapa é presidente da associação de moradores do Loteamento Orladi, em Gramado Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Patrícia Lapa é a presidente dessa associação. Para ela, a reunião trouxe “fôlego” aos moradores. “Se der certo esse método, a gente preserva algumas casas e o loteamento. Não tenho dúvida da consistência do laudo. A gente acredita que vai dar certo”, ressalta. “Depois, será um outro momento que vamos intermediar uma possível reconstrução dessas casas junto aos órgãos públicos”, finaliza.

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Matérias Relacionadas