O frio começa a chegar na Serra gaúcha. Esta segunda-feira (13) foi um dia típico de neblina, às vezes chuva fina, e temperatura perto dos 10°C, em Gramado. Nada comum é o que enfrenta todo o Rio Grande do Sul. São 15 dias de uma catástrofe climática que afeta os quatro cantos do Estado. Na Região das Hortênsias, o que era para ser o início de um maior movimento turístico, transforma-se em um período de preocupação para todo o setor.
Com estradas bloqueadas e o aeroporto Salgado Filho fechado, houve um esvaziamento de turistas. Os que tinham reserva já agendada não conseguem chegar – ou têm dificuldade no deslocamento.
O cenário destes últimos dias é de parques e restaurantes fechados, lojas vazias, hotéis e pousadas com praticamente 100% de cancelamentos. Uma maneira encontrada para driblar a crise, é tentar remarcar as datas. Uma situação extremamente delicada para uma cidade que tem sua economia centrada nessa atividade.
Nesta segunda, a reportagem circulou pelas áreas centrais e pontos turísticos de Gramado. Os estabelecimentos que estavam abertos, praticamente não tinham clientes.
“Não tem ninguém”
No Lago Negro, um dos locais mais conhecidos do Brasil, os funcionários dos famosos pedalinhos faziam limpeza dos equipamentos. “Estamos abertos, mas não tem movimento”, conta um dos colaboradores.
“Estamos abrindo todos os dias, mas não tem ninguém para atender”, relata a caixa Bruna Pena, de 26 anos, que trabalha em um dos quiosques ao redor do lago.
A cena até choca quem está há pouco tempo na cidade, como Alejandro Pupo, de 48 anos, cubano que mora em Gramado há oito meses.
“Movimento zero. A gente cansou de ver esse lugar lotado de gente e agora não está aparecendo ninguém. Bate uma tristeza na gente. Pelo nosso trabalho e também pelas pessoas que estão passando dificuldade. Ficamos com o coração apertado”, complementa o atendente Jeferson Lima, de 32 anos.
O grupo destaca que percebia o grande fluxo de visitação dos próprios gaúchos. Com 90% das cidades atingidas e mais de 2 milhões de pessoas afetadas, o ritmo, com certeza, não será o mesmo.
“A cidade está vazia, é bem diferente”
O casal Ana Carolina Pasa, 18 anos, e Matheus Henrique, de 20, estavam na cidade a passeio. O pai da Ana trabalha em Gramado e mensalmente faz atendimentos no município.
“Decidimos vir com ele, passear um pouco. A nossa cidade foi afetada, mas não muito”, descreve a estudante de medicina, que é de Santa Cruz do Sul. “A cidade está vazia, é bem diferente. Primeira vez que vimos assim”, reitera, frisando que a estrada está com tráfego complicado.
“A gente vem no inverno, que é o pico, e agora não tem ninguém. É bem assustador”, aponta Matheus.
Pesquisa para entender a situação do setor gastronômico
Entre os dias 6 e 9 de maio, A Abrasel Hortênsias e a Abrasel Porto Alegre fizeram uma pesquisa com o setor de alimentação fora do lar do Rio Grande do Sul, em regiões como Porto Alegre, Região das Hortênsias e Caxias do Sul e o resultado indica uma crise do setor.
Dos 409 empresários que responderam aos questionamentos, 82% afirmam que precisam de ajuda financeira imediata, sendo que 17% apontam que a urgência maior é pela ajuda na reparação de danos estruturais. Necessidade de ajuda psicológica e jurídica também foram citadas. A grande maioria também relata não possuir seguro para cobertura dos danos causados pelas enchentes.
Muitos restaurantes fecharam por falta de movimentação, casos como Gramado, Canela, Nova Petrópolis e São Francisco de Paula. Na região metropolitana, as empresas ainda estão submersas, impossibilitadas de voltar ao trabalho por tempo indeterminado.
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Dos que não foram atingidos, 38% pretendem manter seus negócios fechados e vão aturar somente com delivery, até que a situação seja amenizada. Outras empresas optaram em deixar seus funcionários em férias coletivas ou atender em locais alternativos até que a água baixe para poder entender o tamanho dos estragos.
Ao todo, 86% dos empreendedores esperam a suspensão da cobrança de impostos, criação de linhas de crédito, programa de auxílio do governo e apoio direto na reconstrução dos seus estabelecimentos.
“Não há dúvida que o Estado inteiro está sofrendo, e todos os setores foram fortemente atingidos, mas o turismo precisa de incentivos para que a gastronomia fora do lar também seja fortalecida. Toda e qualquer ajuda neste momento é de extrema importância, seja em benefícios fiscais, prazos para pagamento de impostos e programas especiais para reorganização, planejamento e reconstrução”, cita a Abrasel Hortênsias em nota.
Estratégias para a retomada
Na última semana, a Secretaria de Turismo e Cultura de Canela, em conjunto com o Conselho Municipal de Turismo (Comtur), realizou uma reunião para debater as estratégias para a retomada do turismo na região, após as fortes chuvas que atingiram o Estado.
Durante o encontro, foram destacadas as principais dificuldades enfrentadas, como os problemas nas rotas de chegada à região, bem como o receio dos turistas em relação a possíveis eventos climáticos semelhantes aos ocorridos recentemente.
Entre as medidas discutidas: a melhoria da infraestrutura das estradas e ações de prevenção, além da intensificação das campanhas de divulgação para tranquilizar os turistas quanto à segurança da região.
O secretário de Turismo e Cultura, Gilmar Ferreira, ressalta a importância da união de esforços para superar os desafios enfrentados. “Estamos empenhados em encontrar soluções que garantam a segurança e o conforto dos turistas que visitam nossa região, além de fortalecer a economia local, que tanto depende do turismo”, afirma.