PREOCUPAÇÃO PARA O SETOR
CATÁSTROFE NO RS: "Estamos abrindo, mas não tem ninguém para atender", diz funcionária de quiosque no Lago Negro
O cenário em Gramado é de parques e restaurantes fechados, lojas vazias, hotéis e pousadas com praticamente 100% de cancelamentos; veja fotos
Última atualização: 13/05/2024 17:50
O frio começa a chegar na Serra gaúcha. Esta segunda-feira (13) foi um dia típico de neblina, às vezes chuva fina, e temperatura perto dos 10°C, em Gramado. Nada comum é o que enfrenta todo o Rio Grande do Sul. São 15 dias de uma catástrofe climática que afeta os quatro cantos do Estado. Na Região das Hortênsias, o que era para ser o início de um maior movimento turístico, transforma-se em um período de preocupação para todo o setor.
O cenário destes últimos dias é de parques e restaurantes fechados, lojas vazias, hotéis e pousadas com praticamente 100% de cancelamentos. Uma maneira encontrada para driblar a crise, é tentar remarcar as datas. Uma situação extremamente delicada para uma cidade que tem sua economia centrada nessa atividade.
Nesta segunda, a reportagem circulou pelas áreas centrais e pontos turísticos de Gramado. Os estabelecimentos que estavam abertos, praticamente não tinham clientes.
“Não tem ninguém”
“Estamos abrindo todos os dias, mas não tem ninguém para atender”, relata a caixa Bruna Pena, de 26 anos, que trabalha em um dos quiosques ao redor do lago.
A cena até choca quem está há pouco tempo na cidade, como Alejandro Pupo, de 48 anos, cubano que mora em Gramado há oito meses.
“Movimento zero. A gente cansou de ver esse lugar lotado de gente e agora não está aparecendo ninguém. Bate uma tristeza na gente. Pelo nosso trabalho e também pelas pessoas que estão passando dificuldade. Ficamos com o coração apertado”, complementa o atendente Jeferson Lima, de 32 anos.
O grupo destaca que percebia o grande fluxo de visitação dos próprios gaúchos. Com 90% das cidades atingidas e mais de 2 milhões de pessoas afetadas, o ritmo, com certeza, não será o mesmo.
“A cidade está vazia, é bem diferente”
“Decidimos vir com ele, passear um pouco. A nossa cidade foi afetada, mas não muito”, descreve a estudante de medicina, que é de Santa Cruz do Sul. “A cidade está vazia, é bem diferente. Primeira vez que vimos assim”, reitera, frisando que a estrada está com tráfego complicado.
“A gente vem no inverno, que é o pico, e agora não tem ninguém. É bem assustador”, aponta Matheus.
Pesquisa para entender a situação do setor gastronômico
Dos 409 empresários que responderam aos questionamentos, 82% afirmam que precisam de ajuda financeira imediata, sendo que 17% apontam que a urgência maior é pela ajuda na reparação de danos estruturais. Necessidade de ajuda psicológica e jurídica também foram citadas. A grande maioria também relata não possuir seguro para cobertura dos danos causados pelas enchentes.
Muitos restaurantes fecharam por falta de movimentação, casos como Gramado, Canela, Nova Petrópolis e São Francisco de Paula. Na região metropolitana, as empresas ainda estão submersas, impossibilitadas de voltar ao trabalho por tempo indeterminado.
Dos que não foram atingidos, 38% pretendem manter seus negócios fechados e vão aturar somente com delivery, até que a situação seja amenizada. Outras empresas optaram em deixar seus funcionários em férias coletivas ou atender em locais alternativos até que a água baixe para poder entender o tamanho dos estragos.
Ao todo, 86% dos empreendedores esperam a suspensão da cobrança de impostos, criação de linhas de crédito, programa de auxílio do governo e apoio direto na reconstrução dos seus estabelecimentos.
“Não há dúvida que o Estado inteiro está sofrendo, e todos os setores foram fortemente atingidos, mas o turismo precisa de incentivos para que a gastronomia fora do lar também seja fortalecida. Toda e qualquer ajuda neste momento é de extrema importância, seja em benefícios fiscais, prazos para pagamento de impostos e programas especiais para reorganização, planejamento e reconstrução”, cita a Abrasel Hortênsias em nota.
Estratégias para a retomada
Na última semana, a Secretaria de Turismo e Cultura de Canela, em conjunto com o Conselho Municipal de Turismo (Comtur), realizou uma reunião para debater as estratégias para a retomada do turismo na região, após as fortes chuvas que atingiram o Estado.
Durante o encontro, foram destacadas as principais dificuldades enfrentadas, como os problemas nas rotas de chegada à região, bem como o receio dos turistas em relação a possíveis eventos climáticos semelhantes aos ocorridos recentemente.
Entre as medidas discutidas: a melhoria da infraestrutura das estradas e ações de prevenção, além da intensificação das campanhas de divulgação para tranquilizar os turistas quanto à segurança da região.
O secretário de Turismo e Cultura, Gilmar Ferreira, ressalta a importância da união de esforços para superar os desafios enfrentados. "Estamos empenhados em encontrar soluções que garantam a segurança e o conforto dos turistas que visitam nossa região, além de fortalecer a economia local, que tanto depende do turismo", afirma.