Diversas localidades do interior de Gramado foram afetadas pelas fortes chuvas da última semana. Queda de barreiras bloqueando estradas, deslizamentos de terra, casas destruídas e sete pessoas que perderam suas vidas – seis da Linha Furna e um da Linha Quilombo.
A comunidade, aos poucos, tenta se reerguer, em meio ao luto e à destruição e a tragédia que ocorrem não apenas na região, mas em todo o Estado.
Em Gramado, esses dias seriam marcados pela realização da Festa da Colônia e Feira Feito em Gramado, que celebram o trabalho diário das pessoas que vivem nas zonas rurais, assim como dos produtos que são desenvolvidos na cidade por pequenos e microempresários, além de artesãos.
Mas os 18 dias que deveriam ser de festa, agora são de recomeço. Os dois eventos foram cancelados pela Prefeitura e Gramadotur, autarquia municipal, que organizam as programações e atrativos. Em comunicado, as instituições públicas colocam que o foco dos participantes, agora, se volta a atender suas famílias e propriedades. Em depoimentos, muitos se sentem abalados emocionalmente, sem condições de retomar o que havia sido paralisado.
Uma ajuda
Entretanto, diversas agroindústrias iniciaram suas preparações muito antes do início da Festa da Colônia, no dia 25 de abril. São centenas ou até mesmo milhares de produtos fabricados especialmente para o evento. Edições limitadas e especiais também foram feitas.
Com a programação cancelada, os produtores temem os prejuízos financeiros – que podem ser maiores devido às dificuldades para transportar os alimentos para outras regiões e à preocupação com a reconstrução do Estado nos próximos meses.
Assim, desde a quarta-feira até esta sexta-feira, dia 10, empresários rurais vendem seus itens a preço de custo aos consumidores. A Feira das Agroindústrias ocorre no Expogramado, das 9 às 17 horas. Geleias tradicionais e fabricadas especialmente para festa, com sabores de rosas, hibisco e até mesmo alecrim; linguiças, salames, copas e banha; além de queijo colonial e doce de leite estão disponíveis. Os produtos variam entre R$ 14 e R$ 30 e, em caso de compras em maior quantidade, há promoções.
As três agroindústrias participantes da feira não tiveram suas propriedades atingidas. Greice Hoerlle, de 26 anos, afirma que a decisão de participar foi difícil. “Ficamos com o coração partido. Podemos ajudar, podemos limpar os lugares que foram atingidos. Mas o que podemos hoje é dar esse suporte. Nós não fomos afetados, temos onde morar. Resolvemos participar pois temos produtos que fizemos especialmente, apenas para a festa”, explica.
“São 32 tipos de potes de geleias. Para a festa fizemos alguns sabores no tamanho grande e em vidro, pois temos essa demanda dos moradores”, coloca.
A Laticínios Ruppenthal, que fica na Linha Marcondes, também está presente. Apesar de haver poucas unidades de doce de leite, os queijos coloniais possuem um estoque grande à venda. “Fizemos 1 mil quilos de queijo a mais apenas para a festa. E é algo que não tinha como controlarmos, pois como o queijo precisa maturar, iniciamos a produção um mês antes”, relembra Everson Ruppenthal.
Para incentivar a comercialização e entendendo a situação da comunidade, a agroindústria colocou os produtos a preço de fábrica. “O queijo está por R$ 48 o quilo, é o preço de custo. O valor normal seria R$ 75 o quilo”, lamenta.
João Andreis, do Morro Agudo, levou os embutidos para a feira. Apesar da fábrica e da sua casa não terem sido atingidas, uma barreira chegou a cair na estrada próxima onde fica a indústria. “Graças a Deus não pegou nada na fábrica, estamos com a produção normal para os clientes. Mas estamos com muitos produtos parados, estamos tentando repassar as coisas para os mercados daqui”, sinaliza.
Aos 56 anos, afirma que se sente privilegiado, quando compara sua situação com a de outras cidades daqui e Estado. “Espero que aqueles que estão ilhados e com suas casas danificadas, que recebam bastante ajuda dos que podem”, diz esperançoso.
Mais eventos adiados e cancelados
A cidade teve outros eventos adiados e cancelados comunicados ao longo da semana. Um deles foi o Connection Terroirs do Brasil. Programado para ocorrer de 15 a 18 de maio, a organizadora, a empresa Rossi e Zorzanello, junto com o Sebrae RS, decidiram passar a programação para 12 a 16 de junho.
“Devido à catástrofe climática que assolou o Rio Grande do Sul e comprometeu severamente as questões de mobilidade, restringindo o acesso às principais estradas e ao aeroporto, e em respeito a dor que nosso povo está vivenciando, a Rossi e Zorzanello, juntamente com o Sebrae, postergam a realização do Connection Terroirs do Brasil. Nesse momento nosso compromisso é com nossos irmãos que precisam de amparo”, diz o comunicado.
O Festival Internacional Literário de Gramado (FiliGram) também teve a programação adiada. Assim, o evento não será mais realizado entre 3 a 9 de junho. A nova data ainda será definida.
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“Nos solidarizamos com este momento de dor que enfrentamos. É uma situação de dificuldade e apreensão para Gramado e todo o Estado, em que não é possível assegurar a realização do evento”, comenta o coordenador de conteúdo do FiliGram, Fernando Gomes.
O cancelamento do 3º Festival Caminhos de Outono, que estava programado para ocorrer nos dias 11 e 12 de maio, também foi confirmado nesta semana.
“Reconhecemos a gravidade dos eventos climáticos recentes e estamos solidários às vítimas e à população afetada. Neste momento de dificuldade e reconstrução, consideramos inapropriado realizar um evento festivo, mesmo com a possibilidade de transferência para as semanas seguintes. Agora, a prioridade é oferecer apoio e solidariedade àqueles que estão enfrentando as consequências desafiadoras desse evento climático”, diz a nota da Secretaria da Cultura.