abc+

SALVO PELOS BOMBEIROS

Como está o cão Peral pouco mais de uma semana após resgate dramático no Cânion Fortaleza?

Peral, como é chamado, ganhou um irmão pet, também salvo pelo comandante Pedro Sanhudo

Fernanda Steigleder Fauth
Publicado em: 31/08/2024 às 13h:21 Última atualização: 11/09/2024 às 11h:48
Publicidade

Gosta de correr, abanar o rabinho, pula alto e dá muitas lambidas. Com expressão de gratidão, o Caramelo do Peral, mais chamado, agora, de Peral, já está no novo lar, em terras gramadenses.

Resgatado na sexta-feira (23), após membros do ICMBio ouvirem latidos no Cânion Fortaleza, em Cambará do Sul, o cão foi adotado pelo responsável pela operação e por quem desceu de rapel e o salvou, o comandante da 2ª Companhia do Corpo de Bombeiros Militar, Pedro Sanhudo.

Capitão dos Bombeiros Pedro Sanhudo com o Peral, resgatado no Cânion



Capitão dos Bombeiros Pedro Sanhudo com o Peral, resgatado no Cânion

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

O cãozinho de grande porte não tem idade estimada ainda. Ele estava em uma área parcialmente plana, em aproximadamente 30 metros da superfície do cânion.

Além da inclinação e da altura, com mais de 1 mil metros, a corporação precisou enfrentar chuva, rajadas de vento e muita neblina, além de cantos vivos, com vegetação. Na data, uma frente fria ingressava na região, deixando o clima com condições adversas.

Mas o tempo não impediu o resgate do bicho, que foi encontrado apenas com um pequeno corte, sem lesões. Conforme Sanhudo, para sobreviver, o cachorro se alimentou, provavelmente, de folhas e galhos.

Ainda, estima-se que ficou, pelo menos, duas semanas preso na região que foi encontrado. Isso significa que sobreviveu, inclusive, a temperaturas negativas e ocorrência de geada, que marcaram o clima naquelas semanas.

Relembrando o resgate

O capitão Pedro Sanhudo recebeu o chamado de salvamento do Caramelo na noite de quinta-feira (22), a partir da informação de representantes do ICMBio, que fizeram o contato.

LEIA TAMBÉM: CHUVA PRETA: Quais as consequências do fenômeno que pode atingir o RS neste fim de semana 

“Eles informaram que tinha um cão perdido na região. A noção era de que ele estava por ali, há pelo menos, duas semanas. Porque o que acontece, aquela região é muito ampla, de peral. E o eco faz com que o som se dissipe, então a percepção da realidade é muito difícil, até alguém entender que existia um cão perdido porque ele latia, foi algo que levou tempo”, explica.

Por mais que exista vigilância e circulação, há pontos que são mais isolados. Estima-se que o pet tenha caído, porém, não em queda livre, devido aos obstáculos, até chegar nessa área plana.

A partir do local no qual o cão podia estar, foi feito um chamado. “Aí, já pensei em um plano de operações, com efetivo especializado para o resgate em altura. De Canela, partimos dois militares e eu, como comandante da operação. Ainda tivemos apoio do nosso batalhão, com operadores de drone, pois a partir de informações que nos foram repassadas, como local de difícil acesso, de difícil localização, sem falar das condições climáticas adversas que o Cânion apresentava”, pontua.

Um dos equipamentos mais usados nessas ocasiões é um drone. “É a tecnologia que o Corpo de Bombeiros utiliza para operações em que precisamos encontrar alguém ou fazer uma busca minuciosa. O drone capta o calor tanto de pessoas, quanto animais. Então, no momento que a gente identifica o ponto exato, conseguimos estruturar a operação de salvamento, onde utilizamos primeiro a técnica de rapel”, fala o comandante dos bombeiros.

VEJA AINDA: Primeira etapa da Feito em Gramado encerra no domingo; veja aonde evento continua 

Capitão Pedro Sanhudo, de Gramado, foi o responsável pela coordenação da operação



Capitão Pedro Sanhudo, de Gramado, foi o responsável pela coordenação da operação

Foto: Corpo de Bombeiros

Sem o drone com captura térmica, as equipes precisariam descer diversas vezes para encontrar locais de informação. “A partir desse momento, fizemos o envolvimento do cão, com um triângulo de resgate que a gente consegue colocar ele de maneira confortável e que ele e o operador possam ser içados posteriormente. Mas mesmo assim, aquelas condições estavam com risco, porque tínhamos cenário de neblina, chuva e rajadas de vento. Sem falar que ele estava num ponto que vinha até mim, e se errasse, poderia cair”, explica.

O resgate, entre descida de rapel e içamento, levou cerca de 30 minutos. O tempo envolve, ainda, toda certificação de segurança de equipamentos e instrumentos. Foi o próprio capitão Sanhudo que foi o responsável e teve o primeiro contato com o Peral.

“Foi uma questão de conexão. Porque a gente não sabia qual seria a situação e condições dele lá, por sorte estava bem e praticamente pedindo para ser resgatado. Se tivesse com qualquer outra condição, pata quebrada, enfim, o animal se torna mais arisco. Por sorte, tudo estava bem alinhado”, complementa.

“Quando me viu, foi uma sensação de alívio dos dois”

O comandante relembra sobre a primeira vez que se viram. “Quando me viu, foi uma sensação de alívio dos dois. Primeiro porque identifiquei onde ele estava, e ele já começou a se alegrar, abanando o rabo. Parecia que estava pedindo e sabendo que alguém estava vindo para resgatar. É um momento ímpar”, conta.

A decisão de adotar foi imediata, antes mesmo do resgate. “É uma história pessoal até, porque não é a primeira vez que faço resgate e adoção, já fiz uma vez. É algo que sinto, uma necessidade, porque por vezes encaminhamos e não sabemos o após, confiamos nos agentes, que dão o amparo, mas entendo que eu posso dar uma segunda história para ele”, justifica.

NÃO PERCA: Atleta de Gramado conquista pódio em mundial no estilo Wado-Ryu de Karatê no Japão 

Após o resgate

Alguns quilinhos a mais, de banho tomado. Esse é o cenário atual do Peral. “Após, encaminhamos para a veterinária, e ele estava com anemia, desnutrição, desidratação. Agora, já estamos fazendo um regime novo, se alimenta bem, tem o suporte de nutrientes e vitaminas. Já está cheiroso também”, conta Sanhudo.

Como comandante contou, o vira-lata caramelo agora tem um irmão, que também possui uma linda história.

“Eu estava no meu curso de formação e tínhamos uma instrução que se chama Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas (Brec), que é quando uma casa desaba, por exemplo. Nesse dia, realizamos uma atividade de Brec num terreno abandonado, que simulava o cenário. E aí identificamos alguns latidos na região e encontramos três cães presos em buracos. Os dois adultos fugiram e o filhote ficou comigo. Entendi que após o resgate ele seria meu, e o nome dele é Brec”, relembra.

Atualmente, o ex-filhote está com um ano e dois meses.

Capitão Pedro Sanhudo quando resgatou o filhote Brec



Capitão Pedro Sanhudo quando resgatou o filhote Brec

Foto: Arquivo pessoal

Os dois adotados estão juntos e se adaptando. “O Brec antes era filho único e agora tem irmão. A adaptação leva um tempo, mas está dando tudo certo”, finaliza.

Treinamento

A corporação dos bombeiros trabalha diversas situações ao longo dos treinamentos. Apesar da situação de resgate do Peral ser mais rara, as equipes se preparam para as ocorrências.

ENTENDA: Ligações irregulares de água da chuva ao esgoto são vistoriadas pela Corsan em Gramado 

“Pode-se dizer que não é tão comum, porque não tivemos tão cedo uma operação em cânions para fazer resgate de pessoas ou animais. Mas apesar de não ter prática usual, a atividade de salvamento em altura é muito praticada pelo Corpo de Bombeiros Militar”, revela.

Todos os quartéis possuem uma estrutura que permite o treinamento em altura. “Sem falar que temos todos os equipamentos que fazem com que a gente consiga executar o treino rotineiramente e até mesmo diariamente, para que quando chegue num momento desses, estejamos preparados para atuar”, conclui.

Publicidade

Matérias Relacionadas

Publicidade
Publicidade