ARTE
Artistas estão eternizando em telas as belezas do interior de Gramado
Acervo com mais de 80 obras está sendo produzido; evento com oficinas e intercâmbio cultural ocorrerá; entenda o projeto
Última atualização: 05/04/2024 12:36
Contrastes, cores, sombras, horizontes, curvas. Uma mistura de vários elementos, com um toque de técnica e um olhar apurado. Tudo isso - e muito mais - unido em telas de tamanho 20 por 30 centímetros. O resultado? O interior de Gramado se transformando em obras de arte.
Nesta semana, eles encerraram os 20 encontros destinados para a primeira etapa do projeto. Alessandro Müller, Débora Dhein, Jonatan Dhein e Rogério Baungarten retrataram mais de 80 cenários, em 20 diferentes linhas do interior gramadense.
"O nosso outro está nas coisas simples"
Para Alessandro, que é um dos idealizadores e também curador da ação, o intuito é criar uma discussão conceitual sobre a mudança das paisagens e fomentar um turismo mais sustentável. O impressionismo é o movimento artístico presente nas obras, mas com cada artista tendo a liberdade para usar sua própria contemporaneidade. Nesse acervo, as telas possuem texturas e mostram o tema central da cena retratada, sem muitos detalhes.
“O principal do impressionismo é o contraste entre o claro e o escuro. Precisamos de sol de um lado para gerar sombra do outro”, esclarece o artista. “A ideia é ser algo simples. Mostrar que o conceito da arte vai muito além do objeto, já que a arte está em tudo. Está no processo e não somente no resultado”, acrescenta Alessandro.
Nas mais de 60 horas vividas pelas ruas do interior, muitas histórias para contar. O grupo já presenciou os olhares curiosos de uma criança, que foi convidada a pintar. Segundo Alessandro, despertar a curiosidade e interesse das pessoas pelo patrimônio natural de Gramado também é uma das premissas do projeto. “O nosso ouro está nas coisas mais simples”, pondera o artista, ao citar exemplos de como o turismo rural pode também ser rentável à cidade e às comunidades.
Experiências e muita adaptação
Rogério tem uma carreira de professor há mais de 30 anos, sendo pouco mais de dez em Gramado. Ele e dois alunos, os irmãos Débora e Jonatan, decidiram aceitar o convite para participar do coletivo e da empreitada. O professor comenta que atua mais com a pintura clássica, mas o en plein air faz parte do processo de aprendizado. “Foi uma honra participar desse projeto maravilhoso. Tudo muda muito rápido quando estamos ao ar livre e precisamos nos adaptar, é uma outra abordagem”, frisa.
Jonatan, que tem 26 anos, decidiu tornar o hobby uma profissão. Ele largou a faculdade de Arquitetura para se dedicar à pintura. Dirigindo sua kombi azul, gosta de explorar o interior, observando pássaros. Para a mostra, reforça que está gostando de demonstrar as paisagens de Gramado e também a mistura entre o social e o contexto natural. Dentre suas técnicas, está pintando com tintas em pó e em barra, espalhadas com espátulas ou mesmo com os dedos.
“É bem diferente todo o conhecimento que estamos tendo em pintar ao vivo, sem fotos e reproduções”, salienta Débora, de 23 anos. Para ela, também é preciso enfrentar adversidades, como o sol forte, o peso do material que precisa se carregar, mas, no final, tudo vale a pena.
Próximas etapas do projeto
Contando com recursos da Lei Paulo Gustavo para execução, o Gramado Natural – Encontro de pintura ao ar livre é composto por várias etapas. Após essa construção artística da pintura das telas, os outros eixos serão abordados. O projeto contempla, ainda, uma mostra de arte e um intercâmbio cultural, que ocorrerão entre os dias 2 e 5 de maio deste ano.
A abertura da exposição será realizada nas margens do Lago Joaquina Rita Bier, incluindo atividades artísticas gratuitas para a comunidade, com música, palestras, oficinas. Ao todo, 40 pessoas serão envolvidas diretamente no projeto, contabilizando coletivos convidados, que farão um intercâmbio cultural, com saídas a campo para vivenciar a experiência de pintar ao ar livre.
Com 45 anos, Alessandro é um pintor profissional desde os 15. Conforme ele, é preciso movimentar o mercado da arte na cidade. Por isso, as telas ficarão expostas por 30 dias no centro de cultura e depois devem seguir para outros locais.
As obras terão registros, que poderão ser por NFT, uma espécie de certificado digital. Serão comercializados giclées das peças (impressos em excelente resolução). “Podemos criar um colecionismo dessas telas”, argumenta, citando que possui um projeto paralelo focado na curadoria artística.