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RECOMEÇO

Após catástrofe climática, quem perdeu tudo também quer ajudar quem precisa

Artesão Lucas Dorneles criou peça para auxiliar na reconstrução do Estado; entenda

Mônica Pereira
Publicado em: 13/06/2024 às 18h:54 Última atualização: 13/06/2024 às 18h:54
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Reconstrução. Solidariedade. Aliadas, essas palavras significam um novo começo de jornada para milhares de gaúchos. Em Gramado, não é diferente. Quem perdeu tudo, busca recomeçar – e também auxiliar o próximo.

Artesão criou peça que é símbolo para reconstrução do Rio Grande do Sul



Artesão criou peça que é símbolo para reconstrução do Rio Grande do Sul

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Um desses exemplos é o do artesão Lucas Dorneles, de 29 anos. A casa em que ele morava, na Linha Quilombo, está condenada, depois de um deslizamento de terra atingir a região. Não é mais possível entrar no local. A localidade do interior do município foi uma das mais afetadas pelas chuvas na cidade. Residências inteiras foram destruídas pela força da lama e a gramadense Noeli da Rosa Duarte, de 55 anos, perdeu a vida, após ser soterrada.

Deslizamento

As cenas da madrugada do dia 2 de maio estão presentes na memória. “Foi tudo muito rápido. Era 1h30 e eu comecei a escutar uns ‘tec, tec’. Abri a janela porque achei que era uma árvore. Quando eu olhei para o lado, vi tudo caindo. Falei para a minha namorada sair correndo. Nisso, um tronco bateu contra a janela e começou a entrar lodo dentro de casa. Saí correndo para rua e percebi aquela montanha se aproximando. Foi engolindo tudo. Entramos dentro do carro e eu comecei a buzinar e a gritar para acordar as pessoas”, recorda.

Momentos difíceis vividos ao constatar que naquele instante perdeu tudo o que havia conquistado. Tentando encarar a realidade com bom humor, Lucas diz que leva o episódio como um aprendizado. “Sei que tem gente que perdeu bem mais. Estou com saúde, sou novo, estou trabalhando. É complicado, mas dá para conquistar tudo de novo”, prospecta.

Recomeço

Bastões de cristal são aquecidos a 1,5 mil graus e se tornam corações com as cores do RS



Bastões de cristal são aquecidos a 1,5 mil graus e se tornam corações com as cores do RS

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

E é com o trabalho que o artesão está buscando esse recomeço e, ainda, ajudar outras pessoas que foram afetadas. Ele é especialista em miniaturas de cristal, na Cristais de Gramado. A empresa criou uma ação para arrecadar recursos para auxiliar na reconstrução do Estado. Um pingente de coração com as cores da bandeira do Rio Grande do Sul está sendo produzindo um a um pelas mãos do Lucas.

Ao todo, 1,8 mil peças foram vendidas. Comercializadas por R$ 69, 50% do valor será destinado para as ações solidárias conduzidas pelo Instituto Cultural Floresta. “Eu fico feliz por ajudar, fazendo esse tipo de símbolo e arrecadando o dinheiro para ajudar as pessoas. Já faria sentido antes, mas agora ainda mais. Toda ajuda é bem-vinda ainda”, pondera.

Cada peça leva em torno de dois a três minutos para ser produzida. Os bastões de cristal são aquecidos a uma temperatura de 1,5 mil graus e começam a receber o formato de coração. Entre os mestres vidreiros da empresa, Lucas é o único gaúcho.

Natural de Canoas, descreve que teve muitos parentes atingidos em ambas as cidades, incluindo os quatro irmãos. Ele ficou por um mês na casa de amigos, mas conseguiu alugar uma nova casa para recomeçar.

Nos primeiros dias após a tragédia, produzir as miniaturas era quase como uma terapia. “Eu ficava aqui sentado e as lágrimas escorriam pelo rosto”, lamenta. “Tudo o que a gente vive serve para nos tornarmos seres humanos melhores”, corrobora.

Artesanato como vocação

Há 13 anos na Cristais de Gramado, ele salienta que descobriu na empresa sua vocação. “Aprendi crochê, tricot, bordado e artesanato com a minha mãe e avó. Agradeço a elas por isso. Comecei na recepção, mas tinha curiosidade em saber como as peças eram feitas. Nos meus intervalos e final do dia, estava em volta do pessoal querendo aprender. Depois, surgiu a oportunidade e eu comecei a trabalhar no setor e fiquei por cinco anos”, comenta. Lucas então se interessou pelas miniaturas. “Descobri que lá era a minha paixão, mas eu amava mesmo as miniaturas”, frisa.

Atualmente, é o profissional que fica dedicado na produção. Itens como santinhas e pets são os mais procurados, mas ele reforça que tem autonomia para explorar a criatividade e propor novas peças ao catálogo. “É um resultado que se conquista a longo prazo. Não é uma coisa que a pessoa aprende de um dia para o outro. Paciência é a base”, atesta

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