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LUTA PARA SE RECUPERAR

"Ainda tenho dor em todo o corpo", diz gari que sofreu acidente com caminhão de lixo em janeiro

Jean Romário, de 29 anos, estava trabalhando quando veículo tombou; ele busca na Justiça auxílio financeiro do INSS

Mônica Pereira
Publicado em: 27/10/2023 às 16h:18
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 “É o nosso milagre”. É assim que Madeline Reis descreve o irmão Jean Romário da Rosa Oliveira. O gari, de 29 anos, sofreu um grave acidente de trabalho no dia 24 de janeiro deste ano. Ele estava na parte traseira de um caminhão de coleta de lixo, quando o veículo tombou, no Vale das Colinas, em Gramado.

Jean Romário sofreu um acidente de trabalho



Jean Romário sofreu um acidente de trabalho

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Jean ficou internado no hospital por praticamente um mês e passou por diversas cirurgias. Desde então, a vida não tem sido mais a mesma. “Ainda tenho dor em todo o corpo, me sinto bem ruim. Sinto dor nas costelas, não consigo erguer o braço”, afirma. Por causa do acidente, Jean diz que não tem mais sensibilidade na parte direita do rosto e também teve perda da audição. O maxilar foi reconstruído com placas e pinos.

Lembranças

Sobre aquele dia, o gari cita que não lembra de praticamente nada. “Só que deu um estouro no caminhão e vi ele descendo o morro. O muro de uma casa que tinha lá que me salvou, porque o caminhão teria me esmagado”, pondera.

“Quando eu acordei do coma, a primeira coisa que perguntei foi dos meus filhos. Chorei bastante”, relembra.

Caminhão de lixo tombou ao tentar subir morro



Caminhão de lixo tombou ao tentar subir morro

Foto: Brigada Militar

Complicações

A esposa de Jean, Tais Soares Pimentel, 22, destaca que o marido tem tido desmaios constantes nos últimos meses. “Acho que foi pela pancada na cabeça. Ele não tinha nada antes do acidente. Está esquecendo bastante as coisas. Vai ter que passar por um neurologista”, frisa.

Situação financeira

Jean ficou hospitalizado  por um mês



Jean ficou hospitalizado por um mês

Foto: Redes Sociais/Reprodução

Jean tem cinco filhos, sendo que a mais nova, de apenas 4 meses, ainda estava na barriga da mãe quando tudo aconteceu. O gari reforça que era o responsável pelo sustento da casa e que, desde o acidente, a família está passando por dificuldades financeiras. “Estamos vivendo com o dinheiro que recebo do Bolsa Família, e de ajuda de parentes. Está complicado”, destaca Tais. Recentemente, a irmã Madeline pediu ajuda nas redes sociais para angariar alimentos, fraldas e leite.

Conforme a família, a empresa Serra Ambiental, responsável pela coleta de lixo na cidade, não prestou auxílio financeiro em nenhum momento. “Eles entregaram umas cestas básicas, mas depois que o Jean saiu do hospital foram lá em casa uma vez para entregar um pouco de comida e tirar uma foto para postar, só isso”, atesta Tais.

Foi a empresa que fez o encaminhamento para que Jean recebesse o auxílio do INSS. Contudo, esse processo foi conturbado e a família acabou ingressando com uma ação judicial. “Quando foi feito o primeiro pedido do auxílio de incapacidade temporária, ele estava no hospital. Como não compareceu na perícia, teve o pedido negado. Mas poderia ter sido solicitada no próprio hospital”, destaca o advogado Leandro de Lima.

Jean teve a cobertura assistencial entre abril e julho. Depois, perdeu o prazo para prorrogação do benefício. “A solicitação precisa ser feita até 15 dias antes de encerrar o benefício. O que a família nos comunicou é que não sabia disso e nem foi informada pela empresa dos procedimentos que deviam ser seguidos”, diz.

Após conseguir uma nova data, ao passar pela perícia, teve o auxílio negado, pois o perito entendeu que ele poderia voltar ao trabalho. Entretanto, a família cita que ele possui um atestado médico que o afasta de atividades laborais até dezembro de 2023. Como Jean está apresentando problemas de saúde, um profissional contratado pela Serra Ambiental fez um parecer afirmando que ele está incapaz para retornar às atividades.

“Entramos com a ação para tentar restabelecer o pagamento do auxílio e buscar valores anteriores”, esclarece Leandro. Agora, aguarda que uma perícia judicial seja marcada. “Fizemos o pedido de urgência, mas não há prazo definido”, conclui o advogado.

Indenizações

Jean também entrou na Justiça contra a Serra Ambiental. O advogado que o representa neste caso, Victor Berti Spier, destaca que o pedido de danos morais, materiais e pensão foi parcialmente acatado em primeiro grau, porém a empresa entrou com recurso. A causa tem um valor total de R$ 1,1 milhão. “Fizemos as solicitações com o que tínhamos na época, mas hoje sabemos que ele tem outras consequências do acidente”, corrobora.

Victor frisa que um dos pedidos da ação indenizatória era de solicitação de complemento da extrajornada que Jean tinha, já que ele atuava como pedreiro na parte da manhã. “Ele trabalhava para complementar a renda, mas o pedido foi acatado somente em 10% do valor. As indenizações foram menores do que as solicitadas também”, explica o advogado.

A reportagem entrou em contato com os representantes da Serra Ambiental, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.

Polícia aguarda perícia

Na época, a Polícia Civil abriu inquérito para investigar as causas do acidente. Uma perícia no caminhão foi solicitada, mas ainda não foi concluída. A delegada de Gramado, Fernanda Aranha, pondera que verificará com o Instituto-Geral de Perícias (IGP) o andamento do procedimento. Após, será possível concluir o inquérito.

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