"É UM DIREITO"

ACESSIBILIDADE: Conselho está mapeando políticas públicas existentes em Gramado para pessoas com deficiência

Em busca de mais autonomia, cadeirante mostra as dificuldades que encontra para conseguir se locomover sozinho pelas calçadas da cidade

Publicado em: 06/10/2023 12:06
Última atualização: 18/10/2023 20:47

Tarefas do dia a dia, como ir até o cartório, posto de saúde, prefeitura, mercado. Tudo isso fica mais difícil para o Fernando Novello, de 39 anos, que é cadeirante. Ele conseguiria se deslocar sozinho até esses pontos, mas esbarra - literalmente - na falta de acessibilidade.

Fernando é cadeirante e mostra as dificuldades de locomoção pelos espaços públicos do Centro de Gramado Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL
As dificuldades que ele tem para se locomover pelas ruas de Gramado foram mostradas à Comissão das Pessoas com Deficiência (PCD) da Câmara de Vereadores e também ao Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência.

Na quinta-feira, dia 28, membros dos dois órgãos acompanharam o morador por algumas ruas da cidade e presenciaram as restrições enfrentadas frequentemente por Fernando.

Fernando não consegue acessar calçadas Foto: Paulo Vargas/Divulgação
O cadeirante percorreu o trecho do cruzamento da Rua Euzébio Balzaretti até a unidade básica de saúde do Centro (Postão). No percurso, conseguiu subir a calçada sozinho em apenas um acesso, pois, na maioria deles, há um desnível alto entre a rua e o passeio público. "Tenho que ir pelo meio dos carros mesmo, tento achar outras maneiras de subir, me arrisco em uma rampa ou outra. Já aconteceu de quase cair da cadeira", descreve Fernando.

Autonomia

Um acidente de trabalho há oito anos mudou a vida do então eletricista, que ficou tetraplégico depois que o galho de uma árvore caiu em sua cabeça, quebrando uma vértebra cervical. Desde lá, trava uma luta diária por mais independência e autonomia.

"Ele conseguiria fazer mais coisas sozinho, se os lugares fossem adaptados, mas não são", relata a esposa Michele Cardoso, de 33 anos. Ela relembra algumas situações encaradas para que direitos básicos fossem garantidos. Uma delas foi para emitir a carteira de identidade. "Queriam que a gente fosse em outro lugar para tirar a foto, porque não tinha como entrar com a cadeira. Depois de bastante tempo e de falarmos que não iríamos a outro local, conseguimos entrar", frisa.

O cadeirante cita que as pessoas se prontificam a ajudar em alguns momentos, mas que não seria necessário se os espaços fossem acessíveis. "Eu não me importo quando é um restaurante, mas quando é um espaço público que eles me obrigam a ir, é complicado", revela. Fernando comenta que rampas nos padrões adequados o auxiliariam. "Só que alguns lugares fazem rampas que eu não consigo subir", atesta.

“É um direito que a gente tem”

O cadeirante diz que aceitou participar da ação com o intuito de auxiliar outras pessoas. “É um direito que a gente tem”, reforça. Para Michele, é preciso pensar no futuro. “Em algum momento tem que começar esse processo, porque senão nunca vai ser feito. Não estamos falando só dos cadeirantes, mas para os idosos, para quem está com a perna machucada e não consegue ir até o posto”, pondera.

Morador do bairro Moura, o cadeirante diz que as rampas de acesso às calçadas nas proximidades de onde mora são bem-feitas e que ele consegue transitar sem nenhum problema. “Vou no mercado, me viro bem. O problema mesmo está no Centro, é difícil”, salienta.

Conselho está mapeando políticas públicas da cidade

A presidente do conselho municipal, Bertha Zanatta, atesta que algumas ações estão sendo realizadas pela entidade. Ela conta que foram criadas comissões internas para mapear as políticas públicas existentes no município para pessoas com deficiência e, a partir disso, será criado um plano propondo novas determinações e também melhorias nas já existentes. Os temas englobados são os mais diversos, como acessibilidade, saúde, educação, trabalho e lazer.

Arquiteta especializada em acessibilidade arquitetônica, a presidente frisa que a parceria com a comissão parlamentar na Câmara está focada, neste momento, em buscar melhorias no passeio público. "Esse rebaixamento nas calçadas é muito importante para as pessoas em cadeiras de rodas, mas também carrinhos de bebês e idosos", salienta.

A partir da experiência mostrada por Fernando, um documento deve ser encaminhado à Prefeitura. "Queremos construir uma cartilha de calçadas acessíveis para a realidade da topografia de Gramado", revela. Integram a comissão os vereadores Neri da Farmácia (PP), Rodrigo Paim (MDB) e Professor Daniel (PT).

Bertha aponta também para outras frentes de trabalho do conselho, como a busca pelo Selo de Acessibilidade, concedido por órgão estadual. "Precisamos que a Prefeitura faça adesão ao programa. Será um ganho enorme para as pessoas com deficiência, para os estabelecimentos comerciais e para a cidade como um todo ter essa política pública implantada", reforça.

Ainda, a presidente cita que é preciso qualificar os profissionais do Executivo sobre acessibilidade.

Mais recursos

Em nota, a Prefeitura de Gramado afirma que está realizando melhorias e construindo novos passeios públicos, com rampas de acesso para cadeirantes. "Foram R$ 100 mil investidos em 2021, incluindo 96 rampas em toda região de Gramado. Em 2023, o investimento é de R$ 280 mil, possibilitando mais 196 rampas, que já estão em execução", diz o Executivo.

A Prefeitura destaca, também, que está programando, para o ano que vem, um investimento de R$ 250 mil para a construção de mais cerca de 180 rampas de acessibilidade no município.

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