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PELO SUS

Abordagens terapêuticas devem ser ampliadas no sistema público de saúde de Gramado

Práticas Integrativas e Complementares são aplicadas em postos; no município, cinco são ofertadas

Fernanda Steigleder Fauth
Publicado em: 03/01/2025 às 16h:30 Última atualização: 03/01/2025 às 16h:30
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Abordagens terapêuticas, que tem como objetivo promover saúde, bem-estar e melhor qualidade de vida. As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics) foram institucionalizadas por uma política nacional e, atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, de forma integral e gratuita, 29 procedimentos à população.

Em Gramado, cinco práticas foram incorporadas na Rede de Atenção à Saúde, desde abril de 2024. E a ideia é que ao longo deste novo ano, novas modalidades comecem a ser implantadas nos postos de saúde.

Lian gong é atividade de ginástica terapêutica e preventiva



Lian gong é atividade de ginástica terapêutica e preventiva

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Construção e inserção

A implantação e o aumento da oferta estão no plano municipal de saúde. A mais antiga é a Farmácia Viva. “Ela já vem algum tempo sendo estruturada, mas de fato, deslanchou com a inauguração do espaço, está mais consolidado o serviço”, relata a coordenadora Daniele Swaizer.

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O fortalecimento das Pics ocorreu a partir de dois momentos. Um deles, por indicadores da cidade e do Estado, e através de atividades orientadas, onde elas apareciam como metas.

“O primeiro passo foi um diagnóstico situacional. Em 2023 fizemos um questionário interessante, para nortear por onde íamos seguir. Dentro dessas 29 modalidades, quais iríamos aderir, se íamos aproveitar o que já tínhamos de formação dentro do município, tentar formação nova para colaboradores, encontrar pessoas específicas. Então perguntamos sobre condições de saúde, quais Pics conheciam, quais gostariam de ter”, conta.

Um grupo de trabalho, multidisciplinar, foi montado, para os planejamentos e desenvolvimento das práticas a curto, médio e longo prazos.

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Cinco Pics são desenvolvidas na cidade: auriculoterapia, Farmácia Viva, acupuntura, lian gong e terapia comunitária integrativa. “Agora estamos trabalhando no fortalecimento dentro do município, no Centro, Floresta, Pórtico, entre outras unidades” justifica Daniele. “O Estado nos oferece capacitações, estamos agregando e é um trabalho muito rico de complementação. Estamos investindo em treinamentos e pretendemos avançar em 2025”, complementa o secretário de Saúde, Jeferson Moschen.

Técnica milenar com uso de semente de mostarda

Greice Zirr trabalha com auriculoterapia e com fitoterapia, na Farmácia Viva. A técnica milenar chinesa trabalha com a estimulação de pontos na orelha, para trabalhar problemas de saúde. Sintomas de ansiedade, insônia, menopausa com os fogachos e dores crônicas generalizadas são trabalhadas.

Auriculoterapia utiliza sementes de mostarda e trabalha pontos específicos do corpo



Auriculoterapia utiliza sementes de mostarda e trabalha pontos específicos do corpo

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

“Ela entende que a orelha é um grande mapa do corpo, do organismo. A gente estimula os pontos que fazem reflexo nos órgãos ou regiões e conforme trabalha, há um reequilíbrio da saúde. É uma prática que não é invasiva, aqui no SUS usamos semente de mostarda e colocamos esses pontos com esparadrapo. Uma vez na semana troca essas sementes e acompanhamos de quatro a seis semanas o paciente”, justifica. “A gente promove a saúde de forma integral e vê a diferença nas dores crônicas, o quanto reduz, e é uma prática menos intervencionista. Temos tido bons feedbacks”, completa.

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As agulhas para amenizar dores, ansiedade e até insônia

A médica Jussara Lisboa tem especialização em acupuntura desde 2022. “Em boa parte dos casos temos respostas efetivas. Temos uma demanda muito grande de pacientes com dor esquelética, dores miofasciais, que pegam os sistemas desde o nível conjuntivo. Há muitos anos, não se dava tanta importância para a musculatura, hoje já se dá”, frisa.

O serviço iniciou em abril de 2024. “Teve uma senhorinha que chegou acompanhada pela filha, de cadeira de rodas, e na terceira sessão veio de bengala e após já veio sem nada. Claro, não são todos pacientes, são casos e casos, alguns já consegui dar alta”, relembra.



Para casos de dor aguda, seis a oito sessões consegue-se auxiliar através do protocolo. Os atendimentos são semanais e a primeira tem duração maior, de 60 minutos, pois existe uma conversa. “A emoção se reflete no nosso processo orgânico, a gente está tenso, daqui a pouco dá uma dor de cabeça. E a gente consegue explicar para o paciente, que é superimportante acrescentar uma atividade física”, finaliza.

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A acupuntura é indicada para vários casos, como dores articulares, musculoesqueléticas, ansiedade, insônia, cefaleia, dores pélvicas, questões ginecológicas como dores menstruais, há indicações para gestantes e fertilidade.

Os próprios médicos clínicos fazem o repasse e indicação para a terapia complementar. Atualmente, são cerca de 20 pacientes por semana atendidos.

As agulhas são descartáveis, sólidas, diferente daquelas usadas para medicação e coletas de exame, não fazendo perfurações. Ela é colocada no limite da pele. Pointer e eletroestimulador amplificam o efeito da agulha. “Na medida que a agulha está inserida, nosso corpo entende como um objeto estranho, vai fazer uma reação local, liberando substâncias ao redor, vasodilatadores, anti-inflamatórias, nos pontos que a gente elege, conforme o diagnóstico do paciente, o que ele vai precisar”, coloca Jussara.

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Luciana Fernandes faz o acolhimento das pessoas no Centro de Saúde Várzea Grande e é paciente da doutora. “Como meu trabalho exige ficar em pé e caminhar bastante, com o tempo começou a doer minhas pernas, sentir desconfortos. Tendo a possibilidade da acupuntura do nosso lado, como não usufruir desse bem, então sempre que faço, marco as sessões. Hoje estou bem melhor após a técnica, a minha vida mudou”, conta.

Saúde mental coletiva

A terapia comunitária integrativa trabalha grupos através de roda de conversas e ocorre semanalmente no bairro Várzea Grande. “A população coloca as inquietações e problemas. É sempre escolhida uma e juntos vamos tentar achar estratégias de superação. O lema do grupo é a Comunidade tem problema, a comunidade tem solução”, diz Catia Júlio, uma das coordenadoras.

Bianca Ribeiro e Catia Regina Júlio fazem parte da Terapia Comunitária Integrativa



Bianca Ribeiro e Catia Regina Júlio fazem parte da Terapia Comunitária Integrativa

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

“Tivemos bons frutos, acredito, pois tiveram pessoas que fizeram relatos bem profundos, coisas bem íntimas e tiveram confiança em trazer em momento de roda de TCI, então isso foi libertadores para aqueles que participaram. Tem as regras, não é um lugar de guardar segredos, mas que se for confortável e desejar trazer, vai ser acolhido. É um local de fala e escuta, aprende a ouvir e a falar no momento que for necessário”, afirma. “Ninguém julga, é um momento de conselhos e escuta”, completa Bianca Ribeiro, também uma das terapeutas comunitárias. 

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Cada encontro dura aproximadamente 60 minutos e uma dinâmica é trazida, para “soltar a criança interior” de cada integrante. Recursos culturais podem ser levados como estratégias de comunicação, como música, poema, filmes e livros. O grupo ocorre no Cras, escolas, grupos de idosos e mulheres, além do posto da Várzea.

“A gente fala que quando a boca cala, o corpo fala. As vezes temos dores musculares, de cabeça, coisas que tiram o sono, e no momento que a gente fala e é ouvido sem julgamentos, temos dicas e somos acolhidos, saímos mais leves. Elas saem mais ansiosas, conseguem resolver os problemas, melhorar a saúde. Temos bastantes idosos que relatam a solidão em casa e aqui se sentem acolhidos”, afirma Catia.

Grupo com 18 posturas

Carla Rolão é professora de lian gong e conheceu a prática de forma pessoal, para sua saúde. Aos poucos, implantou para colegas do posto de saúde e, com o sucesso, foi aberto um grupo, semanal e que trabalha com um tratamento a longo prazo.

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São três partes, cada uma com 18 movimentos, feitas com uma música de fundo. “Já faz dois anos que aplico, mas as pessoas gostam bastante, tem uma resposta bem positiva, as pessoas melhoram em suas atividades do dia a dia.”



O Lian gong também vem da medicina chinesa e foi inventado na década de 1970, por um traumatologista. “Ele viu que as pessoas iam, tratavam as dores e daqui a pouco estavam lá novamente, com as mesmas dores. Criou, então, esse grupo de exercícios, para tratar as dores musculares, articulares, terem mais mobilidade, melhorarem a respiração e sistema cardiopulmonar de forma geral.”

Cecilia da Cruz, de 73 anos, participa sempre que dá do grupo, há, pelo menos, seis meses. “É muito bom, só falto por necessidade. A gente fica muito bem depois de fazer as práticas, é sempre muito bom, porque não trabalha só a musculatura, trabalha a cabeça, os pensamentos. Volto sempre bem para casa”.

Yoga, reiki e meditação

Para Daniele, as práticas complementares auxiliam não apenas o bem-estar dos pacientes, mas todo o sistema de saúde do município, pois além de trabalhar questões físicas, colaboram com o psicológico. “A demanda de saúde mental vem crescendo muito, e só com o tratamento convencional, tanto para os pacientes, quanto para o sistema, vemos que é preciso buscar outros subsídios.”

Entre as Pics com bastante procura e interesse, que apareceram dentro da pesquisa realizada em 2023, estão reiki e meditação. “39% responderam que desejam meditação. Yoga e acupuntura 38% e reiki 37%, entre as opções de Pics. Vamos procurar novos profissionais ou novas formações para os que já trabalham conosco e que têm interesse em ofertar de contrapartida”, afirma.

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