HISTÓRIA: Massacre dos Mucker completa 150 anos nesta sexta-feira

Há exatos 150 anos, aconteceu um episódio sangrento que ficou marcado na história do Rio Grande do Sul: o massacre do grupo identificado como Mucker, inclusive a personagem principal deste enredo trágico: Jacobina Mentz Maurer. O desfecho em relação ao seu marido, João Jorge Maurer, é controverso. 

“Encontraram um corpo enforcado, dependurado em uma árvore, com as mãos amarradas às costas, mas por causa do estado de decomposição não puderam mais afirmar com certeza se trava-se de João Jorge Maurer. Daí a conversa de que teria fugido para a Argentina, etc. Para mim, liquidaram com ele”, destaca o historiado Martin Norberto Dreher, que é autor do livro A Religião de Jacobina.

Mucker era um movimento sociorreligioso que ocorreu na antiga Colônia Alemã de São Leopoldo, em meados dos anos 1860 e 1870. Acusados de realizarem atos de feitiçaria e de bruxaria pela comunidade religiosa, os chamados “mucker” foram perseguidos pelo Estado e pela Igreja. O grupo tinha sua “base” no Morro Ferrabraz – na cidade atual de Sapiranga.

Assim como o avô, o imigrante alemão Johann Liborius Mentz, Jacobina era adepta do pietismo – movimento oriundo do luteranismo que valoriza as experiências individuais do crente.
No dia 2 de agosto de 1874, após tentativas malogradas, soldados foram até o esconderijo de Jacobina, que acabou morta junto com vários mucker.

Os sobreviventes foram julgados e libertados ou absolvidos somente no ano de 1880. Alguns deles seguiram para as regiões de Nova Petrópolis e Lajeado, mas mudaram seus sobrenomes para não serem reconhecidos.

No entanto, isso não impediu novos assassinatos, que aconteceram no final do século 19, em Marques de Souza e Nova Petrópolis.

O conflito inspira debates até hoje e já foi tema de pesquisas, obras literárias e cinematográficas.

Palestra

Dreher será palestrante sobre o assunto nesta sexta-feira (2), às 19 horas, na Igreja Redentor – Rua 28 de Fevereiro, 261, no Centro de Sapiranga. O evento é promovido pelas paróquias de Sapiranga e Ferrabraz.

Morro Ferrabraz

O Morro Ferrabraz é o principal cenário destes acontecimentos históricos. O massacre ficou tão marcado na comunidade que inspirou um roteiro turístico conhecido como Caminhos de Jacobina. Num dos pontos, uma cruz marca o local da vala comum na qual Jacobina e outros foram sepultados. “Cal foi espalhada sobre os corpos para que nada deles restasse”, conta Dreher.

Cronologia

- Em 28 de junho de 1874, os mucker resistiram a um conflito e 130 soldados recuaram.

- Em 19 de julho de 1874, as forças legais e soldados atacaram novamente o reduto mucker. A casa do casal Maurer foi incendiada e cinco filhos de Jacobina foram presos e posteriormente encaminhados para a adoção. O casal Maurer e seus principais colaboradores conseguiram escapar.

- Em 20 de julho, coronel Genuíno Sampaio, comandante das forças legais, foi morto por “fogo amigo”, baleado pelos soldados desorganizados.

- Em 25 de julho, após saberem que os mucker estavam refugiados na floresta, as forças legais sob liderança do capitão Dantas iniciaram combate contra os mucker.

- O fim do conflito ocorreu em 2 de agosto do mesmo ano, quando um traidor levou os soldados ao esconderijo de Jacobina Mentz, que foi morta com a maioria dos mucker.

Na literatura

O livro intitulado “A Religião de Jacobina”, escrito por Martin Norberto Dreher, trouxe muitas novidades à tona.

Em “Escritos Perdidos”, de João Biehl e Miquéias Mügge, o público tem acesso ao livro de Johann Georg Klein, Vom Katechismus. Klein foi considerado um dos arquitetos da Guerra Mucker.

No cinema

Marlise Saueressig ganhou o Kikito de melhor atriz no Festival de Cinema de Gramado ao interpretar Jacobina no filme Os Mucker, lançado em 1978.

A Paixão de Jacobina, de 2002, tem Letícia Spiller como protagonista. O filme é baseado no livro Videiras de Cristal, de Luiz Antonio de Assis Brasil.