Um novo documentário promete trazer à tona a efervescente cena do rock que marcou o Vale do Paranhana durante as décadas de 1980 e 1990, uma época em que as correntezas do rio traziam o som rebelde das guitarras através das cidades. “As Pedras do Rio Ligeiro – A História do Rock no Vale do Paranhana” é dirigido por Rodrigo Viegas e tem pré-lançamento previsto para dezembro, com exibições especiais e distribuição gratuita no YouTube, mas ainda sem data confirmada.
A produção mergulha nas origens do movimento musical que despontou na região, formada por cidades como Taquara, Três Coroas e Igrejinha, a cerca de 80 km de Porto Alegre. O nome do documentário faz referência ao significado do Rio Paranhana, cuja tradução do guarani é “rio que corre ligeiro”.
Uma jornada de mais de uma década
O projeto, idealizado em 2010, começou com a intenção de retratar apenas as bandas de Três Coroas. Contudo, a proposta foi expandida para as demais cidades do Vale a partir do apoio de Aguiovani Oliveira e Aline Letícia Machado, ex-proprietários do Tio Remi Rock Bar, que existiu em Igrejinha entre 2005 e 2016. As primeiras entrevistas ocorreram em 2011, e as últimas foram finalizadas ainda em 2014, em São Paulo com Rodrigo Dienstmann, que na época era baixista da banda Silêncio Oculto, de Igrejinha.
Por falta de recursos, o documentário permaneceu inacabado por anos, tornando-se quase uma “lenda urbana” entre os músicos e fãs locais, conforme conta o diretor Rodrigo Viegas. Somente em 2024, por meio da Lei Paulo Gustavo e com apoio da Prefeitura de Taquara, o projeto finalmente foi concluído.
“Rodrigo e seu irmão Régis guardavam alguns arquivos em VHS e músicas das bandas da época. Era um assunto corriqueiro naquele momento, fazer alguma coisa com esse material. Na época, o Rodrigo, que nasceu em Taquara, morava e trabalhava em Três Coroas. Ele acompanhava as bandas dos anos 90 nos festivais de canoagem e em shows, além de conhecer alguns músicos das bandas”, revela a diretora de produção, Taína Lauck.
Em 2016, Viegas passou a ser um dos sócios da Tai Creative MKT e Entretenimento, onde ajudou a criar a Tai Editora e a Tai Filmes, além de levar o projeto de conclusão do documentário para a nova empresa.
Bandas e memórias icônicas
A narrativa do filme se baseia em entrevistas, arquivos e documentos históricos para contar como o rock transformou a cultura de uma região tradicionalmente dominada pelo nativismo e pelas bandas de bailão. Entre as bandas retratadas estão Çalhere, Althar, Silêncio Oculto, Túlipa, Alerta Geral, Megalon, Os Exterminadores, Cristal Cético, Antisocial e Drelos.
“Queríamos mostrar que o rock não é apenas música, mas uma forma de expressão que transcende barreiras. No Vale do Paranhana, ele foi a voz de uma geração que queria ser ouvida”, destaca Viegas, que também assina o roteiro e a edição do filme. “A base das imagens veio dos arquivos do Régis Viegas, irmão do Rodrigo. Depois foram sendo agregadas as imagens cedidas pelos integrantes das bandas”, acrescenta Lauck.
Além de resgatar memórias destas bandas e de festivais memoráveis, a produção recria o espírito de uma época marcada por dificuldades e conquistas. A energia dos protagonistas é capturada em detalhes, revelando como o Rock se tornou uma força coletiva de transformação cultural. “Como alguém que era um adolescente nos anos 90, foi fascinante descobrir as origens daquilo que eu estava vivendo na época. O rock, mesmo em uma região pacata e isolada, conseguiu ser tão importante e, de certa forma, revolucionário. Esse documentário é uma homenagem a todos que ousaram acreditar nesse sonho”, completa Viegas.
Herança e influência dos dias atuais
Conforme Tainá Lauck, a principal herança deixada pelas bandas dos anos 80 e 90 foi o movimento que surgiu após a virada do século, nos anos 2000. “Desse movimento temos bandas que existem até hoje, como a Staut, de Taquara, que surgiu em 2004. No entanto, as bandas das décadas de 2010 e 2020, pouco reverberam a história vivida nas décadas de 1980 e 1990, justamente pelo distanciamento temporal. Talvez esteja aí a grande função deste documentário: resgatar um legado para uma nova geração”, pontua.
O documentário conta com uma equipe experiente, incluindo Taína Lauck (direção de produção), Aline Gaia (assistente de produção), Muriel Paraboni (câmeras), Aguiovani Oliveira e Alessandro Marques (som direto), além de Aline Letícia Machado (fotografia) e Jonas Ferrari (arte).
Com uma abordagem que combina emoção, nostalgia e elementos visuais impactantes, “As Pedras do Rio Ligeiro” resgata o espírito de uma época marcada por desafios e conquistas. “Esse documentário é uma homenagem a todos que ousaram acreditar nesse sonho. Mesmo em uma região pacata, o rock conseguiu ser revolucionário”, conclui Viegas.
Assista ao trailer:
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