150 ANOS DA IMIGRAÇÃO ITALIANA
Herança cultural: Famílias de descendentes italianos mantém viva a memória e cultura de antepassados
2025 marca a celebração dos 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul
Última atualização: 11/01/2025 08:36
Navios lotados de trabalhadores com o sonho de prosperar em uma terra melhor e com mais oportunidades. Foi assim que os imigrantes italianos chegaram ao Rio Grande do Sul há 150 anos, mais especificamente no dia 20 de maio de 1875. Com a herança cultural na mala, eles vieram incentivados pela Itália, que na época enfrentava uma crise socioeconômica complicada — assim como outros países europeus.
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Inicialmente, se instalaram pela região serrana do Estado, principalmente no Campo dos Bugres, local que anos depois seria conhecido como Caxias do Sul. Com o passar do tempo, foram também se espalhando por outros municípios, assim como seus descendentes. Não é à toa que o Rio Grande do Sul, segundo o Consulado-Geral da Itália em Porto Alegre, é o estado mais italiano do mundo, com uma descendência de quase 40% da população.
Em 2024, foram concedidas mais de 6,4 mil cidadanias italianas a descendentes que vivem no Estado, 60% a mais que em 2023. Entre as dezenas de pessoas que ainda estão nesse processo, está a família Tretto, de Novo Hamburgo. Formada pelo pai Josué Silva de Brito, a mãe Valquíria Rosa Tretto e os filhos Kállita, Juan e Luiggi, a família carrega na alma a herança de seus antepassados.
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O filho Juan Tretto Brito foi o primeiro a conseguir a dupla cidadania, através de um processo iniciado na Itália há oito anos, quando o jovem decidiu se mudar para o país europeu ao lado da esposa, Luana Pereira de Brito. “Meus sobrinhos nasceram lá, o Pietro e a Sarah. Eles são cidadãos italianos, por enquanto, mas estamos tentando a dupla nacionalidade”, conta a caçula e jornalista Kállita.
Contudo, para além da busca pela cidadania, os Tretto vivem na pele a cultura italiana vinda da linhagem de seus antepassados. “A história da nossa família começa com o meu 'bisnonno', Bruno Tretto, que veio da província de Vicenza. O sonho dele era voltar para a Itália. Era uma pessoa que gostava muito de viver no Brasil, mas sempre falava sobre a falta que sentia da sua terra natal”, reforça Kállita.
A história da família é contada até hoje pela matriarca Nair Zanette Tretto, de 81 anos, que no lugar de avó é chamada por todos de nona. “Acredito que manter essa cultura viva na família é muito importante. Temos vários costumes, como gesticular bastante, fazer as refeições em família e um apreço especial pela culinária”, destaca Kállita.
Polenta, queijo e salame são apenas alguns dos pratos típicos que não podem faltar na família Tretto. “Inclusive, a canção La Bella Polenta é algo que todos conhecemos, é um costume que temos assim como jogar cartas. Sem falar que minha nona fala o dialeto italiano até hoje, e todos entendemos”, pontua Kállita.
“Não existe RS sem imigração italiana”
A italianidade do Rio Grande do Sul é uma característica celebrada pelo Cônsul-Geral da Itália no Estado, Valerio Caruso. “Não existe Rio Grande do Sul sem imigração italiana. É muito difícil imaginar um Estado como esse sem os italianos, e isso se deve à contribuição enorme que a comunidade italiana deu nesses 150 anos, seja na gastronomia, na inovação ou na cultura”, afirma.
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O marco do sesquicentenário será comemorado pelo governo estadual durante o ano de 2025. Ainda em setembro de 2024, o consulado participou da primeira reunião que discutiu a organização dessa grande festa. "A relação entre Rio Grande do Sul e Itália está cada vez mais forte, e o Consulado-Geral da Itália em Porto Alegre é um parceiro do governo do Estado nessa celebração", pondera Caruso.
A divulgação da programação deve ocorrer nos próximos dias, mas uma das iniciativas já foi concretizada: as luzes do Palácio Piratini, do Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff) e da Assembleia Legislativa ficarão iluminadas durante o mês de janeiro nas cores da bandeira da Itália — verde, branco e vermelho. “Estamos nos preparando para um ano maravilhoso que possa representar um marco para milhões de pessoas que têm um legado muito forte com a Itália”, reforça Caruso.
Cultura perpetuada em organizações
Para perpetuar e celebrar ainda mais a cultura italiana, grupos de pessoas se unem de forma organizada em entidades espalhadas pelo Estado. Uma das principais delas é a Sociedade Italiana do Rio Grande do Sul, com sede em Porto Alegre. “Sem demérito a outras origens, mas os italianos tem uma característica que é a vida comunitária, e prezamos em manter isso. A cultura começa, em primeiro lugar, dentro de casa, e depois você distribui pela comunidade”, frisa o presidente Ari Rogério De Marco.
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A história da entidade é potente. Foi fundada em 1983, 18 anos após o início da imigração, como uma casa de apoio para abrigar os italianos que partiam de sua terra natal em direção ao Estado. “A Sociedade Italiana foi mudando com os anos, e com o tempo tornou-se um ponto de encontro social de famílias e amigos. Agora, mais modernamente, esse tipo de convívio tem diminuído, mas ainda estamos firmes e com um calendário ativo de iniciativas e encontros”, pontua De Marco.
Em Novo Hamburgo, uma organização também construiu sua história ao longo de quase 30 anos: a Società Italiana Santa Lucia. A sede da entidade foi fechada em abril de 2024, e efetivamente como organização deixou de existir no final do ano, mas isso não diminuiu os valores do grupo. “Decisão foi difícil, mas necessária. E ela não mudou nossos valores em manter a herança italiana”, afirma o último presidente da entidade, Edgar Luiz Fedrizzi Filho.
Para Fedrizzi, sua missão de vida é dar continuidade a essa herança cultural que tanto tem orgulho. “Vejo que alguns jovens estão incorporando isso não como uma obrigação, mas como algo que sentem orgulho e vontade de continuar. A presença da cultura italiana através da música e da gastronomia é algo muito forte, e foi isso que nos motivou a fundação da sociedade”, relembra.
Atualmente, o grupo de amizade construído ao longo da existência oficial da Società Italiana segue se reunindo esporadicamente. “Resolvemos encerrar a sociedade formalmente, mas ela continua existindo na nossa amizade, encontros e corações. Dentro disso, ainda temos alguns eventos que fazemos durante o ano, principalmente o que chamamos de domênica em família”, conclui Fedrizzi.