ENTREVISTA
Giovani Feltes aborda os desafios de comandar a Secretaria da Agricultura do RS
Irrigação e abertura de novos mercados estão na pauta do secretário estadual da Agricultura
Última atualização: 11/01/2024 11:25
Depois de quatro anos em Brasília, onde cumpriu o mandato de deputado federal, Giovani Feltes (MDB) volta ao Rio Grande do Sul, onde comandará a Secretaria da Agricultura no segundo mandato de Eduardo Leite (PSDB). Derrotado na sua tentativa de reeleição à Câmara dos Deputados, o político terá de assumir uma secretaria da qual ele mesmo confessa ainda ter pouco conhecimento. Não será a primeira vez que o ex-prefeito de Campo Bom assumirá um cargo no qual tem pouca experiência, já que foi o escolhido por José Ivo Sartori (MDB) para comandar a pasta da Fazenda, mesmo sem experiência ou formação na área econômica ou de finanças.
Na próxima gestão, Feltes será responsável por um dos setores mais importantes da economia gaúcha, que bate recorde de produção anualmente, mas enfrenta a dificuldade do aumento de insumos, especialmente os fertilizantes devido ao impacto da guerra na Ucrânia. Além disso, o Estado enfrenta sérios problemas com a estiagem. Em entrevista exclusiva ao Grupo Sinos, Feltes falou um pouco sobre sua trajetória política, as rusgas internas do MDB e projetou os desafios da pasta que assumiu no dia 1º de janeiro.
Como está sendo o seu retorno ao governo do Estado?
Giovani Feltes - Eu me sinto privilegiado sob certos aspectos, porque é uma secretaria importante, representa mais de 40% do PIB do Rio Grande do Sul. Tantos desafios a serem enfrentados e que já vinham avançando há bastante tempo, melhorando as condições do Estado em uma sequência de outros governos. Se espera, e essa é a orientação do governador, de que a gente possa fazer mais e melhor do que foi feito neste último período. Eu ter participado de dois momentos, lá no início, quando começaram as coisas meio complicadas naquele período, de falta de consciência política e conhecimento da população de que o Estado estava realmente em dificuldade grande, e agora ser chamado a comandar a Secretaria da Agricultura... Até disse para o governador, (com sentimento) de gratidão e o compromisso de trabalhar bem. Mas também não deixa de ser um reconhecimento pessoal por este período todo, muitas eleições, muitos cargos.
Como foi não ter conseguido a reeleição à Câmara?
Feltes - Surpreendeu porque eu imaginava que, mesmo com dificuldades, que o MDB teria nominata para colocar quatro, embora temeroso que colocássemos três. Fiz a mesma votação da outra eleição, nada contra o sistema, é assim, tem lá uma dúzia de deputados que fizeram menos votos do que eu e estão na Câmara dos Deputados legitimamente eleitos. Claro, entristecido, imaginava que me elegeria, trabalhei bastante na campanha, mas reconfortado pelo número de votos expressivos e ao mesmo tempo, prejudicado pela nominata geral que ficou aquém, não fez votos suficientes na legenda para que pudéssemos colocar quatro deputados. Isso entristeceu porque fragiliza ainda mais do ponto de vista partidário. Daqui dois anos faço 50 anos de filiação no MDB, então tudo isso levo um pouco em conta.
Os fenômenos, as alterações políticas que aconteceram nesses últimos quatro, cinco anos no Brasil é um negócio fantástico. Houve uma onda em 2018, uma certa radicalização dos dois lados, e ficou pouco espaço para quem tem uma posição mais de centro, tem pouco espaço para isso. E eu sou um cara partidário, apoiei a candidatura da Simone Tebet no primeiro turno, e é com ela que fui até as urnas. Sempre fui assim, independente de quem foi o candidato vou fazer campanha para o candidato do meu partido, e acho que tem que ser assim em todos os lugares, em todos os partidos. Porque é assim que é a democracia representativa, ela se dá através dos partidos políticos, com todos os defeitos que eles possam ter, mas é o instrumento que até hoje não se encontrou outro para fazer a representação popular nos parlamentos.
O que está complicado, e ainda vai demorar um bocado de tempo, é o fato de que tínhamos uma imensidão de partidos. A proibição de coligações proporcionais já reduziu o número, as cláusulas de barreira, embora atenuadas, e a possibilidade de fazer federação partidária dá um pouco mais de fôlego a alguns partidos que não têm muita capilaridade. Ali adiante, presumo, teremos por volta de 10 a 12 partidos, o que ainda acho exagerado.
O seu partido é um dos que abarcam mais ideologias diferentes?
Feltes - O MDB originou quase como uma oposição consentida no período do regime militar, foi aí que eu entrei. O MDB abarcava a extrema esquerda à direita democrática, todos a favor da democracia. O MDB ainda tem esse componente, então o fato de alguém ter um posicionamento um pouco mais à esquerda, um pouco mais à direita, está dentro. Nós ainda somos um movimento, enquanto houver essa indefinição e essa falta de fidelidade do ponto de vista ideológico, eu te asseguro que ainda tem espaço para o MDB, o movimento, ainda defender a democracia. E nesses últimos tempos ameaçada que estava e foi a própria democracia, o MDB é necessário.
Falando do MDB, como o partido sai dessas eleições onde muitos não apoiaram nem Simone Tebet nem mesmo a candidatura de Gabriel Souza?
Feltes - Ainda é um movimento, primeiro tem que se entender que dentro dele tem margem para manifestações mais antagônicas, embora seja um partido político tão tradicional e com tanta capilaridade. Também em um movimento é possível ser mais compreensível e mais elástico nas relações locais. Naturalmente, as relações locais muitas vezes se impõem, porque você tem relações de manutenção de base de apoio, político-partidárias, eventualmente coligações para majoritária que te garantem a eleição, e muitas vezes tu está impedido de contrapor-se aquilo que te levou à eleição, sob pena de romper e perder sua base.
Falando sobre a Secretaria da Agricultura, que o senhor assume. Quais os desafios da pasta?
Feltes - Fico extremamente exultante com a expectativa que possamos ter safras recordes, como está se confirmando agora a do trigo. No entanto, as coisas são tão violentas do ponto de vista do tempo que pode nos impor, eventualmente, um revés em uma ou outra cultura.
O maior problema nosso é irrigação, e é a maior orientação do governo, de que temos que ter um programa que já comece com um certo porte do ponto de vistas de investimentos nessa área. O governo resolveu fracionar a Secretaria de Agricultura em dois espaços, voltamos a ter a Secretaria de Desenvolvimento Rural, para ter uma atenção mais detida a pequenos e médios produtores que se utilizam mais fortemente do nosso braço capilarizado no Estado e da Emater, do ponto de vista de assessoramento nessas atividades agrícolas. E dar mais atenção, pela Secretaria da Agricultura, ao restante daqueles da cadeia e das múltiplas atividades que decorrem e demandam da atividade do campo.
Outra coisa, precisamos, obrigatoriamente, observar como uma oportunidade essa questão do carbono. O governo pretende investir cada vez mais nisso para que a gente possa ter resultados positivos e facilidade na abertura de novos mercados para nossos produtos, porque isso não deixa de ser um cartão de visita. O Rio Grande do Sul é livre da febre aftosa sem vacina, há alguns anos, mas nós ainda não sorvemos todos os benefícios dessa facilidade. Precisamos ampliar a busca de novos mercados para nossas proteínas.
Depois de quatro anos em Brasília, onde cumpriu o mandato de deputado federal, Giovani Feltes (MDB) volta ao Rio Grande do Sul, onde comandará a Secretaria da Agricultura no segundo mandato de Eduardo Leite (PSDB). Derrotado na sua tentativa de reeleição à Câmara dos Deputados, o político terá de assumir uma secretaria da qual ele mesmo confessa ainda ter pouco conhecimento. Não será a primeira vez que o ex-prefeito de Campo Bom assumirá um cargo no qual tem pouca experiência, já que foi o escolhido por José Ivo Sartori (MDB) para comandar a pasta da Fazenda, mesmo sem experiência ou formação na área econômica ou de finanças.
Na próxima gestão, Feltes será responsável por um dos setores mais importantes da economia gaúcha, que bate recorde de produção anualmente, mas enfrenta a dificuldade do aumento de insumos, especialmente os fertilizantes devido ao impacto da guerra na Ucrânia. Além disso, o Estado enfrenta sérios problemas com a estiagem. Em entrevista exclusiva ao Grupo Sinos, Feltes falou um pouco sobre sua trajetória política, as rusgas internas do MDB e projetou os desafios da pasta que assumiu no dia 1º de janeiro.
Como está sendo o seu retorno ao governo do Estado?
Giovani Feltes - Eu me sinto privilegiado sob certos aspectos, porque é uma secretaria importante, representa mais de 40% do PIB do Rio Grande do Sul. Tantos desafios a serem enfrentados e que já vinham avançando há bastante tempo, melhorando as condições do Estado em uma sequência de outros governos. Se espera, e essa é a orientação do governador, de que a gente possa fazer mais e melhor do que foi feito neste último período. Eu ter participado de dois momentos, lá no início, quando começaram as coisas meio complicadas naquele período, de falta de consciência política e conhecimento da população de que o Estado estava realmente em dificuldade grande, e agora ser chamado a comandar a Secretaria da Agricultura... Até disse para o governador, (com sentimento) de gratidão e o compromisso de trabalhar bem. Mas também não deixa de ser um reconhecimento pessoal por este período todo, muitas eleições, muitos cargos.
Como foi não ter conseguido a reeleição à Câmara?
Feltes - Surpreendeu porque eu imaginava que, mesmo com dificuldades, que o MDB teria nominata para colocar quatro, embora temeroso que colocássemos três. Fiz a mesma votação da outra eleição, nada contra o sistema, é assim, tem lá uma dúzia de deputados que fizeram menos votos do que eu e estão na Câmara dos Deputados legitimamente eleitos. Claro, entristecido, imaginava que me elegeria, trabalhei bastante na campanha, mas reconfortado pelo número de votos expressivos e ao mesmo tempo, prejudicado pela nominata geral que ficou aquém, não fez votos suficientes na legenda para que pudéssemos colocar quatro deputados. Isso entristeceu porque fragiliza ainda mais do ponto de vista partidário. Daqui dois anos faço 50 anos de filiação no MDB, então tudo isso levo um pouco em conta.
Os fenômenos, as alterações políticas que aconteceram nesses últimos quatro, cinco anos no Brasil é um negócio fantástico. Houve uma onda em 2018, uma certa radicalização dos dois lados, e ficou pouco espaço para quem tem uma posição mais de centro, tem pouco espaço para isso. E eu sou um cara partidário, apoiei a candidatura da Simone Tebet no primeiro turno, e é com ela que fui até as urnas. Sempre fui assim, independente de quem foi o candidato vou fazer campanha para o candidato do meu partido, e acho que tem que ser assim em todos os lugares, em todos os partidos. Porque é assim que é a democracia representativa, ela se dá através dos partidos políticos, com todos os defeitos que eles possam ter, mas é o instrumento que até hoje não se encontrou outro para fazer a representação popular nos parlamentos.
O que está complicado, e ainda vai demorar um bocado de tempo, é o fato de que tínhamos uma imensidão de partidos. A proibição de coligações proporcionais já reduziu o número, as cláusulas de barreira, embora atenuadas, e a possibilidade de fazer federação partidária dá um pouco mais de fôlego a alguns partidos que não têm muita capilaridade. Ali adiante, presumo, teremos por volta de 10 a 12 partidos, o que ainda acho exagerado.
O seu partido é um dos que abarcam mais ideologias diferentes?
Feltes - O MDB originou quase como uma oposição consentida no período do regime militar, foi aí que eu entrei. O MDB abarcava a extrema esquerda à direita democrática, todos a favor da democracia. O MDB ainda tem esse componente, então o fato de alguém ter um posicionamento um pouco mais à esquerda, um pouco mais à direita, está dentro. Nós ainda somos um movimento, enquanto houver essa indefinição e essa falta de fidelidade do ponto de vista ideológico, eu te asseguro que ainda tem espaço para o MDB, o movimento, ainda defender a democracia. E nesses últimos tempos ameaçada que estava e foi a própria democracia, o MDB é necessário.
Falando do MDB, como o partido sai dessas eleições onde muitos não apoiaram nem Simone Tebet nem mesmo a candidatura de Gabriel Souza?
Feltes - Ainda é um movimento, primeiro tem que se entender que dentro dele tem margem para manifestações mais antagônicas, embora seja um partido político tão tradicional e com tanta capilaridade. Também em um movimento é possível ser mais compreensível e mais elástico nas relações locais. Naturalmente, as relações locais muitas vezes se impõem, porque você tem relações de manutenção de base de apoio, político-partidárias, eventualmente coligações para majoritária que te garantem a eleição, e muitas vezes tu está impedido de contrapor-se aquilo que te levou à eleição, sob pena de romper e perder sua base.
Falando sobre a Secretaria da Agricultura, que o senhor assume. Quais os desafios da pasta?
Feltes - Fico extremamente exultante com a expectativa que possamos ter safras recordes, como está se confirmando agora a do trigo. No entanto, as coisas são tão violentas do ponto de vista do tempo que pode nos impor, eventualmente, um revés em uma ou outra cultura.
O maior problema nosso é irrigação, e é a maior orientação do governo, de que temos que ter um programa que já comece com um certo porte do ponto de vistas de investimentos nessa área. O governo resolveu fracionar a Secretaria de Agricultura em dois espaços, voltamos a ter a Secretaria de Desenvolvimento Rural, para ter uma atenção mais detida a pequenos e médios produtores que se utilizam mais fortemente do nosso braço capilarizado no Estado e da Emater, do ponto de vista de assessoramento nessas atividades agrícolas. E dar mais atenção, pela Secretaria da Agricultura, ao restante daqueles da cadeia e das múltiplas atividades que decorrem e demandam da atividade do campo.
Outra coisa, precisamos, obrigatoriamente, observar como uma oportunidade essa questão do carbono. O governo pretende investir cada vez mais nisso para que a gente possa ter resultados positivos e facilidade na abertura de novos mercados para nossos produtos, porque isso não deixa de ser um cartão de visita. O Rio Grande do Sul é livre da febre aftosa sem vacina, há alguns anos, mas nós ainda não sorvemos todos os benefícios dessa facilidade. Precisamos ampliar a busca de novos mercados para nossas proteínas.