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MICROPALEONTOLOGIA

Fóssil com mais de 112 milhões de anos é encontrado por aluna de universidade leopoldense

Novo gênero de microcrinoide foi encontrado durante triagem no Sergipe

Priscila Carvalho
Publicado em: 29/05/2023 às 03h:00 Última atualização: 26/03/2024 às 15h:51
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Mais uma vez, a região se destaca na área da pesquisa científica, desta vez, na micropaleontologia. Uma aluna do curso de Geologia da Unisinos, de São Leopoldo, fez a descoberta de um novo gênero de microcrinoide, batizado de Sergipecrinus reticulatus, espécie que é parente dos atuais lírios-do-mar, mas em miniatura.

Acadêmica de Geologia, Bruna Poatskievick, 27 anos, mostra exemplares de crinoides



Acadêmica de Geologia, Bruna Poatskievick, 27 anos, mostra exemplares de crinoides

Foto: Arquivo pessoal

Apesar de ainda pouco compreensível para a população em geral, o fato é marcante para a micropaleontologia. Estima-se que o Sergipecrinus reticulatus tenha vivido há cerca de 114 a 112 milhões de anos. A nova espécie recebeu esse nome por ter sido encontrada em uma rocha vinda do Estado de Sergipe e ser a primeira deste gênero biológico.

Bruna Poatskievick, 27 anos, junto com seus dois orientadores, Gerson Fauth e Andy Gale, foram responsáveis pela descoberta.

Acadêmica de Geologia da Unisinos e triadora do ITT Oceaneon da universidade, Bruna descobriu o fóssil durante a triagem – processo de separação dos microfósseis do restante do sedimento. Feito de forma manual, com um pincel, o método é executado com muita delicadeza, para não danificar nem perder o fóssil.

O achado foi publicado no volume 145 da revista Cretaceous Research, especializada em pesquisas sobre o período Cretáceo.

Triagem

À reportagem, a estudante contou que era estagiária no ITT Oceaneon quando encontrou o fóssil, durante triagem de material no Sergipe. “A triagem é basicamente colocar o sedimento em uma bandeja e separar o sedimento dos microfósseis. É um trabalho manual. As vezes levamos um ano inteiro para triar um poço. Depois da triagem, esses microfósseis passam pelos especialistas e são utilizados para datar as rochas”, explicou.

“Eu, juntamente com a equipe, estávamos triando foraminíferos e ostracodes. Mas, sempre aparecem outras coisas, como por exemplo fragmentos de corais, pedacinhos de conchas, fragmentos de peixes, pedacinhos de matéria vegetal, entre outros. E o Sergipecrinus apareceu assim, no meio dessas coisas. Ele chamou atenção porque era diferente, em formato de estrela e maior que os foraminíferos”, detalhou.

Local onde espécie foi achada é pioneiro na produção de petróleo

Bruna comenta que o fóssil contém muitas partes que podem ser desarticuladas e, quando isso acontece, ele pode se perder e quebrar.

“Para entender, uma das pecinhas corresponde a um indivíduo – é como se encontrássemos várias ossadas humanas com crânios, assim, saberíamos que cada um corresponde a um indivíduo diferente. Dei a sorte de encontrá-los em uma preservação muito boa e de conseguir recuperar muitos indivíduos iguais. Assim, conseguimos classificar um novo gênero e espécie”, destacou a estudante.

O animal foi localizado em um furo de sondagem feito próximo a cidade de Laranjeiras em Sergipe. Conforme Bruna, o poço chegou ao itt Oceaneon e várias análises diferentes foram preparadas, incluindo a triagem. “Esse poço tem 200 metros de profundidade. Nós triamos 200 amostras. E eu encontrei o Sergipecrinus em amostras de aproximadamente 192-140 metros”.

O local onde ele foi achado é pioneiro na produção de petróleo no Brasil.

“A bioestratigrafia é um método de datação de rochas a partir dos microfósseis encontrados nelas – e isso contribui para identificar as idades das camadas de petróleo do ponto de vista geológico, uma vez que cada microfóssil existe em um período específico. No momento da perfuração de poços, isso faz toda a diferença porque, como o maquinário é muito caro, quanto mais rápido for o processo, melhor, e saber em qual idade geológica estamos é fundamental”, destaca Bruna.

Estudante fala em “conquista inimaginável”

Bruna Poatskievick, 27 anos



Bruna Poatskievick, 27 anos

Foto: Arquivo pessoal

Para identificar e nomear o bichinho, a estudante contou com o auxílio do professor britânico Andy Gale. Os microcrinóides do tipo Roveacrinidae são originários do período Albiano (113 milhões de anos atrás). O Sergipecrinus data do período anterior, o Aptiano – de 125 até cerca de 113 milhões de anos –, mostrando que os Roveacrinidae são mais antigos do que se esperava.

“Essa descoberta representou pra mim uma conquista inimaginável! Eu achava que esse microcrinóide era um gênero conhecido lá na França. Tirei foto e enviei para o Andy Gale. Ele ficou eufórico quando viu que não era o gênero que eu achava que era”, exclamou Bruna.

“Descobertas científicas são sempre empolgantes. Para quem quer seguir com a pesquisa, artigos científicos são muito importantes para o currículo. Achei que ia demorar anos para publicar algo assim. Então, fiquei muito satisfeita. Agora, temos muito trabalho a fazer para descobrir as possíveis aplicações dessa descoberta”, ressaltou.

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