Pinceladas do artista
Flávio Scholles tem vida e obra retratadas em documentário
Gaúcho tem 66 anos e trabalha em um ateliê de Morro Reuter
Última atualização: 05/11/2024 15:30
É no topo de um terreno interiorano gaúcho com vista singular que a inspiração nasce. Que os dedos se entrelaçam entre pincéis e cores. Que a história do povoado daquela região é retratada em óleo sobre tela. E é naquele atelier de Morro Reuter que a sua arte é contemplada por mais de quatro décadas. Flávio Scholles, hoje com 66 anos, é um artista gaúcho que reúne mais de 8 mil obras pelo mundo afora e mais de 2 mil quadros no seu templo da arte. Qualquer frase é insuficiente para descrever a sua vida e a sua obra – que se misturam entre diferentes tons e nuances – já que o próprio artista caracteriza seu trabalho como uma literatura de Cordel, com temática sobre o Vale dos Sinos.
“Sigo todas as tendências de arte desde 1825, o ano seguinte da vinda dos imigrantes europeus para a região”, garante o artista. Desta forma, acaba criando os quadros que falam, que têm os primeiros sinais de uma nova comunicação do universo. “Por causa do novo na arte e cultura, denominado o mítico dos índios”, destaca.
Nas situações de colônia, seu estilo é expressionista; nas do êxodo, o picassiano, devido à influência do místico negro. Nas situações de cidade, o estilo é o optical. Scholles – que enxerga o mundo como uma aldeia global - sabe bem que provoca inquietação de quem tem a oportunidade de admirar seus quadros e, apesar de representar seu trabalho de forma instigante, todos contam com uma única referência em comum: a sua visão do Rio Grande do Sul, do Brasil, do mundo.
Já que sua vida e obra não se separam, nada como ter sua história eternizada em um filme. O média-metragem intitulado Scholles – Sementes da Cor foi lançado na última sexta-feira (23) e tem direção de Rejane Zilles, artista que, como Scholles, se dedica a retratar a cultura do povo desta região. A preocupação do artista em transmitir suas ideias ultrapassa a vontade de contá-las em filme. “Ter a história marcada em um filme me faz agradecer pelo privilégio em divulgar a história da nossa região para o mundo”, diz o artista, com um sorriso no rosto.
O filme foi integralmente patrocinado pela empresa Mahle, através da Lei de Incentivos Fiscais da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo/PROAC e realizado pelas produtoras Zilles Produções Culturais e Paleo TV.
Lançamento
Scholles – Sementes da Cor teve seu lançamento com sessão especial na última sexta-feira (23), em Morro Reuter. Além de Scholles e Rejane, participaram deste momento especial a equipe de filmagem e os apoiadores do documentário. A previsão é de que, depois deste lançamento na terra natal, o documentário siga carreira em festivais de cinema e circuito de exibição em canais de televisão.
Nasce um filme
Rejane Zilles já documentou a região em seu primeiro longa-metragem, intitulado Walachai. E a ideia de tornar cinematográfica a história de Scholles surgiu durante as gravações do seu filme, já que, em seu longa, o artista e sua obra revelam sequências do filme em uma intersecção da sua forma de construir arte com relação ao povo rural, a paisagem e o dia a dia deste lugar. “Percebi que eu e Flávio tínhamos uma história de vida parecida. Eu também nasci neste lugar, aprendi a falar português na escola, enfim, eram muitos pontos em comum na nossa história”, destaca.
“Em Walachai, Scholles fala muitas coisas sobre este povo e a arte que possivelmente eu diria e, como ele retrata a realidade dessa região belissimamente em sua obra, percebi que haveria um resultado plasticamente interessante em um média-metragem”, atesta a diretora. Para Rejane, o desejo de ter o seu olhar sobre a obra de Scholles só crescia na sequência de gravações do Walachai. “Eu sabia que o valor da obra e do próprio Flávio teriam que ser registrados e eternizados em filme”, conclui ela, que, assim como Scholles, deixou este povoado alemão para eternizar a sua história Brasil afora e voltou para registrar a vida e os costumes em quadros e filmes.
O processo das filmagens
Sob o olhar sensível da direção, Rejane argumenta que o cinema é uma arte delicada e demorada e, por isso, trabalhou mais de um ano com o roteiro do documentário de Scholles. “Eu tive um cuidado na etapa de pesquisa para o filme. Quando comecei a escrever o roteiro, passei a pensar no formato do filme que dissesse mais sobre o trabalho do Flávio, o que não é simples, já que ele é uma pessoa que tem muito a dizer através de seus quadros”, explica Rejane.
O documentário teve duas etapas: a primeira foi realizada na região com uma grande equipe vinda do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre ao longo de 10 dias. As filmagens aconteceram no atelier de Scholles, mas também nas colônias e mostrando a relação da realidade com os quadros do artista. A segunda etapa aconteceu em Brodowski, em São Paulo, cidade onde nasceu Candido Portinari, artista plástico brasileiro. “Aos 17 anos eu tinha uma grande influência de Portinari e todo o meu expressionismo por causa da colônia vem dele”, revela Scholles. “Hoje, vendo este filme, eu sinto a sensação de querer ver mais quando chega ao fim. É o grande barato do cinema”, finaliza a diretora.
Como tudo começou
Scholles nasceu em São José do Herval, município de descendentes alemães no Rio Grande do Sul. Ele pintou o trabalho, as pessoas e os costumes peculiares de sua aldeia. Na infância, a sua primeira referência em arte foram os vitrais da igrejinha do lugarejo e seus primeiros desenhos surgiram em bolachas de natal, feitos com açúcar confeiteiro. Depois de estudar artes em São Paulo, voltou à sua terra natal, onde ergueu seu atelier e consolidou seu estilo e sua obra. Hoje, o seu acervo é um dos mais ricos registros sociológicos, feitos em tela, sobre esse povoado.
É no topo de um terreno interiorano gaúcho com vista singular que a inspiração nasce. Que os dedos se entrelaçam entre pincéis e cores. Que a história do povoado daquela região é retratada em óleo sobre tela. E é naquele atelier de Morro Reuter que a sua arte é contemplada por mais de quatro décadas. Flávio Scholles, hoje com 66 anos, é um artista gaúcho que reúne mais de 8 mil obras pelo mundo afora e mais de 2 mil quadros no seu templo da arte. Qualquer frase é insuficiente para descrever a sua vida e a sua obra – que se misturam entre diferentes tons e nuances – já que o próprio artista caracteriza seu trabalho como uma literatura de Cordel, com temática sobre o Vale dos Sinos.
“Sigo todas as tendências de arte desde 1825, o ano seguinte da vinda dos imigrantes europeus para a região”, garante o artista. Desta forma, acaba criando os quadros que falam, que têm os primeiros sinais de uma nova comunicação do universo. “Por causa do novo na arte e cultura, denominado o mítico dos índios”, destaca.
Nas situações de colônia, seu estilo é expressionista; nas do êxodo, o picassiano, devido à influência do místico negro. Nas situações de cidade, o estilo é o optical. Scholles – que enxerga o mundo como uma aldeia global - sabe bem que provoca inquietação de quem tem a oportunidade de admirar seus quadros e, apesar de representar seu trabalho de forma instigante, todos contam com uma única referência em comum: a sua visão do Rio Grande do Sul, do Brasil, do mundo.
Já que sua vida e obra não se separam, nada como ter sua história eternizada em um filme. O média-metragem intitulado Scholles – Sementes da Cor foi lançado na última sexta-feira (23) e tem direção de Rejane Zilles, artista que, como Scholles, se dedica a retratar a cultura do povo desta região. A preocupação do artista em transmitir suas ideias ultrapassa a vontade de contá-las em filme. “Ter a história marcada em um filme me faz agradecer pelo privilégio em divulgar a história da nossa região para o mundo”, diz o artista, com um sorriso no rosto.
O filme foi integralmente patrocinado pela empresa Mahle, através da Lei de Incentivos Fiscais da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo/PROAC e realizado pelas produtoras Zilles Produções Culturais e Paleo TV.
Lançamento
Scholles – Sementes da Cor teve seu lançamento com sessão especial na última sexta-feira (23), em Morro Reuter. Além de Scholles e Rejane, participaram deste momento especial a equipe de filmagem e os apoiadores do documentário. A previsão é de que, depois deste lançamento na terra natal, o documentário siga carreira em festivais de cinema e circuito de exibição em canais de televisão.
Nasce um filme
Rejane Zilles já documentou a região em seu primeiro longa-metragem, intitulado Walachai. E a ideia de tornar cinematográfica a história de Scholles surgiu durante as gravações do seu filme, já que, em seu longa, o artista e sua obra revelam sequências do filme em uma intersecção da sua forma de construir arte com relação ao povo rural, a paisagem e o dia a dia deste lugar. “Percebi que eu e Flávio tínhamos uma história de vida parecida. Eu também nasci neste lugar, aprendi a falar português na escola, enfim, eram muitos pontos em comum na nossa história”, destaca.
“Em Walachai, Scholles fala muitas coisas sobre este povo e a arte que possivelmente eu diria e, como ele retrata a realidade dessa região belissimamente em sua obra, percebi que haveria um resultado plasticamente interessante em um média-metragem”, atesta a diretora. Para Rejane, o desejo de ter o seu olhar sobre a obra de Scholles só crescia na sequência de gravações do Walachai. “Eu sabia que o valor da obra e do próprio Flávio teriam que ser registrados e eternizados em filme”, conclui ela, que, assim como Scholles, deixou este povoado alemão para eternizar a sua história Brasil afora e voltou para registrar a vida e os costumes em quadros e filmes.
O processo das filmagens
Sob o olhar sensível da direção, Rejane argumenta que o cinema é uma arte delicada e demorada e, por isso, trabalhou mais de um ano com o roteiro do documentário de Scholles. “Eu tive um cuidado na etapa de pesquisa para o filme. Quando comecei a escrever o roteiro, passei a pensar no formato do filme que dissesse mais sobre o trabalho do Flávio, o que não é simples, já que ele é uma pessoa que tem muito a dizer através de seus quadros”, explica Rejane.
O documentário teve duas etapas: a primeira foi realizada na região com uma grande equipe vinda do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre ao longo de 10 dias. As filmagens aconteceram no atelier de Scholles, mas também nas colônias e mostrando a relação da realidade com os quadros do artista. A segunda etapa aconteceu em Brodowski, em São Paulo, cidade onde nasceu Candido Portinari, artista plástico brasileiro. “Aos 17 anos eu tinha uma grande influência de Portinari e todo o meu expressionismo por causa da colônia vem dele”, revela Scholles. “Hoje, vendo este filme, eu sinto a sensação de querer ver mais quando chega ao fim. É o grande barato do cinema”, finaliza a diretora.
Como tudo começou
Scholles nasceu em São José do Herval, município de descendentes alemães no Rio Grande do Sul. Ele pintou o trabalho, as pessoas e os costumes peculiares de sua aldeia. Na infância, a sua primeira referência em arte foram os vitrais da igrejinha do lugarejo e seus primeiros desenhos surgiram em bolachas de natal, feitos com açúcar confeiteiro. Depois de estudar artes em São Paulo, voltou à sua terra natal, onde ergueu seu atelier e consolidou seu estilo e sua obra. Hoje, o seu acervo é um dos mais ricos registros sociológicos, feitos em tela, sobre esse povoado.
“Sigo todas as tendências de arte desde 1825, o ano seguinte da vinda dos imigrantes europeus para a região”, garante o artista. Desta forma, acaba criando os quadros que falam, que têm os primeiros sinais de uma nova comunicação do universo. “Por causa do novo na arte e cultura, denominado o mítico dos índios”, destaca.