SÃO LEOPOLDO
Familiares e amigos se despedem de Alessandra Dellatorre: "Não era o fim que esperávamos"
Sepultamento do corpo da jovem, que estava desaparecida há quase dois anos deve ocorrer às 15 horas no Cemitério Ecumênico Cristo Rei
Última atualização: 19/06/2024 18:30
A quarta-feira (19) chuvosa é marcada em São Leopoldo pela despedida da advogada Alessandra Dellatorre. A jovem, que estava desaparecida desde o dia 16 de julho de 2022, teve sua morte confirmada pela Polícia Civil e pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) terça-feira (18), quando foram divulgados os resultados de laudos periciais que comprovaram que uma ossada, encontrada no dia 7 de junho, era de Alessandra.
CONFIRA A CRONOLOGIA DO CASO DESDE O SUMIÇO DA ADVOGADA
O velório do corpo de Alessandra ocorre desde as 10 horas no Cemitério Ecumênico Cristo Rei, em cerimônia aberta ao público. O sepultamento está previsto para as 15 horas no local.
A presença da imprensa não foi permitida dentro do salão onde está o caixão. Familiares também não concederam entrevistas. Advogado que representa a família, Matheus Trindade, comentou que a informação da comprovação da morte da advogada foi recebida com um "sentimento muito ambíguo" por parte da família.
"Por um lado, se encerrou o sofrimento de se não saber a situação em que a Alessandra estava, se estava bem, se estava em cárcere, se podia estar sendo machucada, mas ao mesmo tempo agora se abre a fase de luto, de tristeza exatamente por a gente ter a esperança de encontrar ela com vida e não ter sido o que aconteceu. Agora é encerrar a fase de luto e acompanhar a fase de investigação para determinação das causas da morte", pontua.
Conhecida da jovem, a também advogada Ana Cristina Gonçalves, 32, compareceu ao velório. "Não era o fim que esperávamos, mas agora ela vai poder finalmente descansar e estes pais também, já que foram quase dois anos de uma incerteza e um sofrimento muito grandes", comenta.
Moradora do bairro Duque de Caxias, próximo da zona de mata onde Alessandra entrou antes de desaparecer, Márcia Mendes, 48, também foi prestar solidariedade aos familiares da jovem. "Não os conhecia, mas acompanhei de perto toda a mobilização das equipes de buscas pelo bairro. A gente torcia muito para que ela fosse encontrada com vida", conta.
Ossada foi localizada por soldados do Exército
Os restos mortais de Alessandra foram encontrados por soldados do 18° Batalhão de Infantaria Motorizado (18º BIMtz) de Sapucaia do Sul durante uma limpeza. De acordo com o diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Mario Souza, a ossada foi encontrada em uma área de difícil acesso, distante cerca de 1,9 quilômetro do local onde Alessandra teria entrado na mata no dia do desaparecimento.
"O corpo estava próximo a um muro. O local onde ela estava era o de uma pessoa que não queria ser encontrada”, revelou Souza em coletiva de imprensa, sem entrar em detalhes dos motivos que teriam levado Alessandra a entrar no local “em respeito à memória dela e à família” da jovem.
Conforme a Polícia, os restos mortais não apresentavam sinais possíveis de violência. Segundo Souza, os ossos estavam inteiros, com as roupas coladas ao corpo. As vestes também não apresentavam marcas passíveis de facadas ou tiros. Titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) de São Leopoldo, a delegada Mariana Studart, destacou, durante a coletiva, que um novo inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte e que correrá de forma sigilosa.
Identificação
Diretor-geral adjunto do IGP, Maiquel Santos, explicou que foram produzidos três laudos periciais: o do local do crime, o antropológico, que segundo ele é semelhante a uma necropsia, para avaliar a situação do corpo, e o de identificação, neste caso feito pela arcada dentária.
“Já estava no nosso radar a busca pela Alessandra. Já tínhamos documentação odontológica, e material genético colhido de familiares. O IGP trabalhou na produção desses três laudos. Assim, foi possível apontar que aquele cadáver é efetivamente da Alessandra”, explica Santos.
Conforme o laudo do local onde o corpo estava, não foram encontrados vestígios que levam a crer na participação de uma segunda pessoa na morte da jovem. Entre as hipóteses não descartadas estão a de que ela possa ter tido um mal súbito durante a caminhada ou até mesmo que tenha praticado suicídio.
Pais se manifestam em rede social
Instantes após a coletiva de imprensa no final da manhã de terça-feira (18), os pais de Alessandra, Eduardo e Ivete Dellatorre, que já haviam sido informados anteriormente sobre a identificação dos restos mortais da filha única, se manifestaram em duas postagens no Facebook.
“As buscas procurando nossa Alessandra terminaram. Por mais que a razão apontasse para o pior, a fé e a esperança lutavam para não aceitar. Finalmente, o corpinho dela foi encontrado onde menos se esperava. Passaram-se 23 meses e 1 dia até termos a pior notícia possível. Agora, nada mais pode ser feito para ela a não ser orar. Esse é o nosso último pedido a todos. Se puderem, tenham ela em suas orações”, escreveram em uma primeira postagem.
A segunda, acompanhada da imagem de uma flor e da palavra “luto”, era direcionada à Alessandra. “Ale, filha amada. Jamais te esqueceremos. Tuas lembranças viverão para sempre em nossos corações e tua luz nos iluminará em cada passo de nossas vidas. Devastados, nos resignamos que teu caminho, agora, é junto a Deus. Nós ainda temos nosso tempo a cumprir aqui, mas esperamos ansiosos te reencontrar. Te amamos. Até breve. Teus pais Eduardo e Ivete”.
Relembre o caso
Alessandra sumiu quando saiu de casa, no bairro Cristo Rei, em São Leopoldo, para fazer uma caminhada. As hipóteses sobre o que teria motivado o desaparecimento dela são muitas. Desde o começo da apuração, a Polícia trabalha com evidências que apontam para um desaparecimento espontâneo, motivado por depressão.
A diferença, naquele sábado, foi o trajeto escolhido por Alessandra para a caminhada. Normalmente, segundo a família, a jovem ficava apenas na Avenida Unisinos. No dia do desaparecimento, de acordo com testemunhas, ela teria sido vista entrando em área de mata na Estrada do Horto, que liga São Leopoldo a Sapucaia do Sul.
Cartazes com a foto de Alessandra foram distribuídos por diversos pontos de São Leopoldo e também de cidades vizinhas e até do litoral norte. A família oferecia recompensa de R$ 15 mil por informações que levassem ao paradeiro da jovem.
Em janeiro do ano passado, O laudo de uma perícia feita em uma garrafa plástica usada pela advogada no dia do sumiço foi revelada. A garrafa, encontrada pelo pai de Alessandra em uma lixeira de rua no trajeto da caminhada dela no dia do sumiço, foi entregue à Polícia Civil e enviada ao Instituto-Geral de Perícias (IGP) 10 dias depois do desaparecimento. Na análise, as peritas do IGP Viviane Fassina e a Clarissa Bettoni, apontaram a presença de uma mistura de substâncias compatíveis com um medicamento chamado Venvanse, que seria utilizado frequentemente por Alessandra, e uma bebida energética com cafeína.