RELEMBRE O CASO
Familiares de casal de Cachoeirinha mantêm esperança de encontrar corpos um ano após desaparecimento
Rubem Heger e a esposa, Marlene Heger, sumiram após visita da filha e do neto do idoso em 27 de fevereiro de 2022
Última atualização: 25/01/2024 17:17
Há um ano, familiares de Rubem Heger e da esposa dele, Marlene Heger, convivem com a saudade e com o mistério acerca do desaparecimento do casal. Os moradores de Cachoeirinha sumiram no dia 27 de fevereiro do ano passado, após visita da filha e do neto do idoso naquele domingo. Na época, eles tinham de 85 e 54 anos, respectivamente.
Cláudia de Almeida Heger, 52, e Andrew Heger Ribas, 29, estão presos, acusados de matar e ocultar os cadáveres dos dois. Os corpos nunca foram encontrados.
"Estamos só na esperança da minha irmã e do filho dela dizerem onde botaram os corpos. A gente fica nessa angústia, na esperança que a gente tem de, ao menos, dar um enterro para eles", conta Clovis Heger, de 61 anos, filho do idoso.
Marcelo dos Passos Stafford, 31, um dos filhos de Marlene, relata que todos convivem com a tristeza pela ausência do casal e lamenta que ainda não puderem fazer uma despedida adequada para a mãe e para o padrasto. "A gente não tem os corpos para fazer um enterro digno, uma missa para eles descasarem", desabafa.
Para o delegado Anderson Spier, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha, o tempo corrobora com o inquérito policial que aponta que eles não estão vivos. "O casal, especialmente o seu Rubem com a debilidade de saúde que ele tinha, não ficaria um ano fora de casa, sem fazer nenhuma movimentação financeira, sem fazer contato telefônico, sem falar com os parentes, o que era do feitio. Então, tudo isso só nos aponta que estávamos no caminho certo quando concluímos o inquérito com o indiciamento dos dois [Cláudia e Andrew]."
Clóvis admite que ainda pega fotos do pai e relembra os últimos momentos dele e da madrasta com vida. "Eu fico pensando em como eles foram mortos por ela. Será que sofreram? Será que não? Isso dói muito no coração da gente."
Sem pistas
O delegado Spier afirma que a Polícia ainda não sabe como o casal foi morto e que, sem os corpos, não é possível apontar a causa das mortes.
Ainda no ano passado, a perícia localizou gotículas de sangue em uma parede da casa. Segundo a investigação, isso aponta a hipótese de que Rubem e Marlane podem ter sidos golpeados por algum objeto. Conforme Spier, a marca estava em uma altura mais elevada.
"Ele [Rubem] era bem alto, tinha 1,80m, então, a gente acha que ele tenha sofrido algum tipo de golpe e talvez desmaiado. Mas efetivamente, se ali ele morreu ou acabaram matando de alguma outra forma depois, a gente não sabe dizer."
O delegado lamenta que os corpos não tenham sido encontrados. No início da investigação, foram cerca de seis meses de buscas pelas vítimas.
Na época, os esforços se concentraram em Cachoeirinha, Gravataí, Canoas, Parobé e Taquara, com base em locais onde havia registro de imagens ou através de outras pistas que indicassem que Andrew e Cláudia estiveram a partir do dia que o casal desapareceu.
"Fizemos várias tentativas em locais suspeitos, com cães farejadores e tudo o que tínhamos ao nosso alcance, mas, infelizmente, passado esse um ano, não conseguimos identificar [onde estão os corpos]”, lamenta o delegado.
O investigador justifica que, para seguir procurando, precisam de algum novo detalhe ou informação, o que, até o momento, não surgiu.
Lembranças à espera por justiça
Enquanto os acusados seguem presos preventivamente, aguardando pelo julgamento, os familiares do casal desaparecido esperam pelo desfecho do caso. "A família quer justiça, está lutando por justiça. Temos essa esperança ainda", afirma Marcelo.
"Para lidar com a saudade, a gente não sabe lidar, foi uma mostruosidade o que fizeram com eles", desabafa o filho de Marlene.
As lembranças têm sido o refúgio da dor neste período. Marcelo lembra que a mãe e o padrasto eram pessoas queridas pela vizinhança e por quem os conhecia. "Eles sempre conversavam com todos, abriam o portão da casa deles para vizinhos irem tomar café", recorda.
"O pior é que eles poderiam estar com a gente agora. A minha mãe tinha uma saúde boa, meu padrasto tinha problema de enfizema, mas estava tocando a vida. Agora, a gente tem que tocar a vida, não podemos ficar parados, o que desejamos é que aconteça justiça. Que ela [Cláudia] pague por tudo que fez", completa Marcelo, emocionado.
Clóvis também acusa a irmã pelo crime. "É uma coisa que não tem como a gente expressar. O que ela fez, não se faz. Ainda mais um pai que deu tudo de bom pra ela." "Foi ela que esteve lá no domingo e levou eles. E o pai eu tenho certeza que não sairia com ela", conclui.
Para o filho de Rubem, a família não tem mais o que celebrar. As festas de fim de ano, por exemplo, já não foram como em outros anos. "Foi uma coisa muito triste. Eu a minha esposa nem passamos a meia-noite acordados, fomos deitar cedo, porque não tem o que comemorar."
"É uma coisa muito bruta, muito estúpida. A gente não consegue engolir isso aí. Quando perguntamos à ela [Cláudia] onde está o pai, ela disse: 'Ah, não sei, procura'", descreve Clóvis.
Investigação aponta que crime foi planejado
O inquérito policial aponta que o crime foi planejado por Cláudia e Andrew. Segundo o delegado, mãe e filho se organizaram para o assassinato de Rubem e de Marlene em casa, para retirá-los do local e para sumir com os corpos durante o feriado de carnaval do ano passado.
"Utilizaram uma data que os parentes não estariam em casa, não carregaram o telefone junto, não trocaram mensagem com ninguém no dia para evitar qualquer suspeita", detalha Spier.
"Eles se organizaram, compraram lonas, fita tape, provavelmente para enrolar os corpos. O neto também colocou uma película no carro uma semana antes, para se certificar que não apareceria nada, além de colocar o colchão na frente da casa."
Mãe e filho foram as últimas pessoas que visitaram o casal antes do desaparecimento. Imagens de câmera de monitoramento de vizinhos mostram o momento em que eles chegam à residência de Rubem e Marlene por volta das 11h25 de 27 de fevereiro de 2022. Marlene aparece abrindo o portão para que eles entrem com o Ford Fiesta, conduzido pelo neto do idoso. Eles teriam almoçado com o casal no local na data.
Cerca de quatro horas depois, imagens mostram o carro sendo posicionado de ré na garagem e um colchão com o box da cama são colocados em frente ao carro a fim de ocultar a visão de quem, por acaso, passasse pela rua.
"Todo mundo consegue entender que aquilo ali é uma forma de dissimular, de dificultar o acesso de pessoas externas de enxergar o que estava acontecendo lá dentro", indica o delegado.
Na sequência, eles retiram os objetos da frente da garagem. Andrew sai com o carro do pátio da casa do casal e quem aparece nas imagens fechando o portão é Cláudia. Rubem e Marlene não foram mais vistos com vida desde então.
Na época, a filha do idoso disse que o pai e a madrasta teriam ido para a casa dela, em Canoas, passar o restante do feriado de carnaval. A mulher relatou que, na terça-feira, 1º de março, teria ido ao médico e que nesse período fora de casa, o casal teria sumido.
Segundo a mulher, eles teriam saído para ir a casa de um suposto amigo, em Alvorada.
O que teria motivado o crime
Para a investigação, o crime foi motivado por um desentendimento familiar entre Rubem e a filha Cláudia. "Ela ficou com rancor, com ele, de uma vez que ela simulou o próprio sequestro para prejudicar o ex-marido. A partir dali, o seu Rubem cortou relações, começou a tratá-la de uma forma diferente e ela ficou muito ressentida em relação a isso, pois ela achava ele deveria ter a apoiado", afirma o delegado.
Clovis, filho de Rubem, confirma que houve o atrito familiar entre o pai e a irmã. De acordo com ele, os dois ficaram cerca de cinco anos sem se falar. "Agora, quando ela voltou esse ano [2022], era a terceira vez que estava visitando o pai, depois dessa briga toda. Na terceira vez, ela sumiu com os dois", afirma.
Outra possível motivação, segundo o delegado, foi a busca por dinheiro. "A gente sabe que a casa foi mexida e que tinha dinheiro dentro da casa da venda de um caminhão e o dinheiro não foi localizado. Estava escondido e, depois, uma neta do seu Rubem que nos falou onde estava o dinheiro e mostrou onde estava", salienta Spier.
Contradições do caso
Andrew não falou nada durante o depoimento. Spier conta que notou que Cláudia estava com "depoimento montado". De acordo com ele, apesar de a mulher apresentar um álibi, a investigação percebeu que era algo planejado, pois a história apresentada por Cláudia não se sustentava. "Só saíram de casa do nada, sem ela saber, ligaram para ela e disseram que estavam saindo, ela não voltou para ver. Ela estava num posto de saúde com dor de cabeça", comenta.
Para o delegado, essa é uma situação "dissociada da realidade, pois se tu tem um pai que tem um problema grave que está na sua casa e tu sai para ir no médico e ele diz que vai sair, tu volta imediatamente para casa, não vai ficar o resto da tarde no posto de saúde sem se preocupar com o paradeiro dele".
Outro detalhe que chamou atenção da investigação, é que a mulher teria ido num posto de saúde mais distante da casa dela e que possui um movimento maior de atendimentos em relação a unidade de saúde mais perto da sua residência. Cláudia teria ido no final da manhã e sido atendida no final da tarde.
Além disso, mensagens supostamente enviadas pelo casal a outros filhos também teriam sido forjadas pelos acusados. "Descobrimos até que as fotos que ela mandava eram da Internet. Ela mandava fotos 'Ah, hoje estamos comendo uma sopinha', aí a foto que ela colocava era uma do Google. Ela disse também que comprou um xis para eles, a foto que ela mandou era de uma propaganda de uma lancheria lá de Canoas", detalha Spier.
Os filhos da Marlene disseram à Polícia que as supostas mensagens que receberam da mãe após o sumiço, não representavam o jeito dela falar e de chamar os filhos e como ela se referia ao Rubem, por exemplo.
De acordo com o delegado, o fato dela não enviar áudios, como era de costume, também fez com que a família suspeitasse que algo estava errado na época.
Defesa dos presos
Cláudia está cumprindo prisão domiciliar em Canoas desde agosto do ano passado por conta de problemas de saúde. O advogado Jean Severo, que representa a defesa dela, disse apenas que a acusada "se considera totalmente incocente" e que "o processo está em fase de instrução".
Já o advogado André Von Berg, que atua na defesa de Andrew, lembra que o réu cumpre prisão no Instutito Psiquiátrico Forense Doutor Maurício Cardoso (IPF), em Porto Alegre. "Acredito na inocência do Andrew e que será feita a justiça ao caso concreto. A expectativa é que o réu seja absolvido por ser considerado inimputável. Há laudos que apontam que o meu cliente sofre de psicose não-orgânica não especificada e outros transtornos dissociativos (Síndrome de Ganser)", defende Von Berg.
"Ele me garantiu que não sabe onde eles estão e que não tem nenhuma participação no desaparecimento deles", completa o defensor do neto de Rubem.
Há um ano, familiares de Rubem Heger e da esposa dele, Marlene Heger, convivem com a saudade e com o mistério acerca do desaparecimento do casal. Os moradores de Cachoeirinha sumiram no dia 27 de fevereiro do ano passado, após visita da filha e do neto do idoso naquele domingo. Na época, eles tinham de 85 e 54 anos, respectivamente.
Cláudia de Almeida Heger, 52, e Andrew Heger Ribas, 29, estão presos, acusados de matar e ocultar os cadáveres dos dois. Os corpos nunca foram encontrados.
"Estamos só na esperança da minha irmã e do filho dela dizerem onde botaram os corpos. A gente fica nessa angústia, na esperança que a gente tem de, ao menos, dar um enterro para eles", conta Clovis Heger, de 61 anos, filho do idoso.
Marcelo dos Passos Stafford, 31, um dos filhos de Marlene, relata que todos convivem com a tristeza pela ausência do casal e lamenta que ainda não puderem fazer uma despedida adequada para a mãe e para o padrasto. "A gente não tem os corpos para fazer um enterro digno, uma missa para eles descasarem", desabafa.
Para o delegado Anderson Spier, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha, o tempo corrobora com o inquérito policial que aponta que eles não estão vivos. "O casal, especialmente o seu Rubem com a debilidade de saúde que ele tinha, não ficaria um ano fora de casa, sem fazer nenhuma movimentação financeira, sem fazer contato telefônico, sem falar com os parentes, o que era do feitio. Então, tudo isso só nos aponta que estávamos no caminho certo quando concluímos o inquérito com o indiciamento dos dois [Cláudia e Andrew]."
Clóvis admite que ainda pega fotos do pai e relembra os últimos momentos dele e da madrasta com vida. "Eu fico pensando em como eles foram mortos por ela. Será que sofreram? Será que não? Isso dói muito no coração da gente."
Sem pistas
O delegado Spier afirma que a Polícia ainda não sabe como o casal foi morto e que, sem os corpos, não é possível apontar a causa das mortes.
Ainda no ano passado, a perícia localizou gotículas de sangue em uma parede da casa. Segundo a investigação, isso aponta a hipótese de que Rubem e Marlane podem ter sidos golpeados por algum objeto. Conforme Spier, a marca estava em uma altura mais elevada.
"Ele [Rubem] era bem alto, tinha 1,80m, então, a gente acha que ele tenha sofrido algum tipo de golpe e talvez desmaiado. Mas efetivamente, se ali ele morreu ou acabaram matando de alguma outra forma depois, a gente não sabe dizer."
O delegado lamenta que os corpos não tenham sido encontrados. No início da investigação, foram cerca de seis meses de buscas pelas vítimas.
Na época, os esforços se concentraram em Cachoeirinha, Gravataí, Canoas, Parobé e Taquara, com base em locais onde havia registro de imagens ou através de outras pistas que indicassem que Andrew e Cláudia estiveram a partir do dia que o casal desapareceu.
"Fizemos várias tentativas em locais suspeitos, com cães farejadores e tudo o que tínhamos ao nosso alcance, mas, infelizmente, passado esse um ano, não conseguimos identificar [onde estão os corpos]”, lamenta o delegado.
O investigador justifica que, para seguir procurando, precisam de algum novo detalhe ou informação, o que, até o momento, não surgiu.
Lembranças à espera por justiça
Enquanto os acusados seguem presos preventivamente, aguardando pelo julgamento, os familiares do casal desaparecido esperam pelo desfecho do caso. "A família quer justiça, está lutando por justiça. Temos essa esperança ainda", afirma Marcelo.
"Para lidar com a saudade, a gente não sabe lidar, foi uma mostruosidade o que fizeram com eles", desabafa o filho de Marlene.
As lembranças têm sido o refúgio da dor neste período. Marcelo lembra que a mãe e o padrasto eram pessoas queridas pela vizinhança e por quem os conhecia. "Eles sempre conversavam com todos, abriam o portão da casa deles para vizinhos irem tomar café", recorda.
"O pior é que eles poderiam estar com a gente agora. A minha mãe tinha uma saúde boa, meu padrasto tinha problema de enfizema, mas estava tocando a vida. Agora, a gente tem que tocar a vida, não podemos ficar parados, o que desejamos é que aconteça justiça. Que ela [Cláudia] pague por tudo que fez", completa Marcelo, emocionado.
Clóvis também acusa a irmã pelo crime. "É uma coisa que não tem como a gente expressar. O que ela fez, não se faz. Ainda mais um pai que deu tudo de bom pra ela." "Foi ela que esteve lá no domingo e levou eles. E o pai eu tenho certeza que não sairia com ela", conclui.
Para o filho de Rubem, a família não tem mais o que celebrar. As festas de fim de ano, por exemplo, já não foram como em outros anos. "Foi uma coisa muito triste. Eu a minha esposa nem passamos a meia-noite acordados, fomos deitar cedo, porque não tem o que comemorar."
"É uma coisa muito bruta, muito estúpida. A gente não consegue engolir isso aí. Quando perguntamos à ela [Cláudia] onde está o pai, ela disse: 'Ah, não sei, procura'", descreve Clóvis.
Investigação aponta que crime foi planejado
O inquérito policial aponta que o crime foi planejado por Cláudia e Andrew. Segundo o delegado, mãe e filho se organizaram para o assassinato de Rubem e de Marlene em casa, para retirá-los do local e para sumir com os corpos durante o feriado de carnaval do ano passado.
"Utilizaram uma data que os parentes não estariam em casa, não carregaram o telefone junto, não trocaram mensagem com ninguém no dia para evitar qualquer suspeita", detalha Spier.
"Eles se organizaram, compraram lonas, fita tape, provavelmente para enrolar os corpos. O neto também colocou uma película no carro uma semana antes, para se certificar que não apareceria nada, além de colocar o colchão na frente da casa."
Mãe e filho foram as últimas pessoas que visitaram o casal antes do desaparecimento. Imagens de câmera de monitoramento de vizinhos mostram o momento em que eles chegam à residência de Rubem e Marlene por volta das 11h25 de 27 de fevereiro de 2022. Marlene aparece abrindo o portão para que eles entrem com o Ford Fiesta, conduzido pelo neto do idoso. Eles teriam almoçado com o casal no local na data.
Cerca de quatro horas depois, imagens mostram o carro sendo posicionado de ré na garagem e um colchão com o box da cama são colocados em frente ao carro a fim de ocultar a visão de quem, por acaso, passasse pela rua.
"Todo mundo consegue entender que aquilo ali é uma forma de dissimular, de dificultar o acesso de pessoas externas de enxergar o que estava acontecendo lá dentro", indica o delegado.
Na sequência, eles retiram os objetos da frente da garagem. Andrew sai com o carro do pátio da casa do casal e quem aparece nas imagens fechando o portão é Cláudia. Rubem e Marlene não foram mais vistos com vida desde então.
Na época, a filha do idoso disse que o pai e a madrasta teriam ido para a casa dela, em Canoas, passar o restante do feriado de carnaval. A mulher relatou que, na terça-feira, 1º de março, teria ido ao médico e que nesse período fora de casa, o casal teria sumido.
Segundo a mulher, eles teriam saído para ir a casa de um suposto amigo, em Alvorada.
O que teria motivado o crime
Para a investigação, o crime foi motivado por um desentendimento familiar entre Rubem e a filha Cláudia. "Ela ficou com rancor, com ele, de uma vez que ela simulou o próprio sequestro para prejudicar o ex-marido. A partir dali, o seu Rubem cortou relações, começou a tratá-la de uma forma diferente e ela ficou muito ressentida em relação a isso, pois ela achava ele deveria ter a apoiado", afirma o delegado.
Clovis, filho de Rubem, confirma que houve o atrito familiar entre o pai e a irmã. De acordo com ele, os dois ficaram cerca de cinco anos sem se falar. "Agora, quando ela voltou esse ano [2022], era a terceira vez que estava visitando o pai, depois dessa briga toda. Na terceira vez, ela sumiu com os dois", afirma.
Outra possível motivação, segundo o delegado, foi a busca por dinheiro. "A gente sabe que a casa foi mexida e que tinha dinheiro dentro da casa da venda de um caminhão e o dinheiro não foi localizado. Estava escondido e, depois, uma neta do seu Rubem que nos falou onde estava o dinheiro e mostrou onde estava", salienta Spier.
Contradições do caso
Andrew não falou nada durante o depoimento. Spier conta que notou que Cláudia estava com "depoimento montado". De acordo com ele, apesar de a mulher apresentar um álibi, a investigação percebeu que era algo planejado, pois a história apresentada por Cláudia não se sustentava. "Só saíram de casa do nada, sem ela saber, ligaram para ela e disseram que estavam saindo, ela não voltou para ver. Ela estava num posto de saúde com dor de cabeça", comenta.
Para o delegado, essa é uma situação "dissociada da realidade, pois se tu tem um pai que tem um problema grave que está na sua casa e tu sai para ir no médico e ele diz que vai sair, tu volta imediatamente para casa, não vai ficar o resto da tarde no posto de saúde sem se preocupar com o paradeiro dele".
Outro detalhe que chamou atenção da investigação, é que a mulher teria ido num posto de saúde mais distante da casa dela e que possui um movimento maior de atendimentos em relação a unidade de saúde mais perto da sua residência. Cláudia teria ido no final da manhã e sido atendida no final da tarde.
Além disso, mensagens supostamente enviadas pelo casal a outros filhos também teriam sido forjadas pelos acusados. "Descobrimos até que as fotos que ela mandava eram da Internet. Ela mandava fotos 'Ah, hoje estamos comendo uma sopinha', aí a foto que ela colocava era uma do Google. Ela disse também que comprou um xis para eles, a foto que ela mandou era de uma propaganda de uma lancheria lá de Canoas", detalha Spier.
Os filhos da Marlene disseram à Polícia que as supostas mensagens que receberam da mãe após o sumiço, não representavam o jeito dela falar e de chamar os filhos e como ela se referia ao Rubem, por exemplo.
De acordo com o delegado, o fato dela não enviar áudios, como era de costume, também fez com que a família suspeitasse que algo estava errado na época.
Defesa dos presos
Cláudia está cumprindo prisão domiciliar em Canoas desde agosto do ano passado por conta de problemas de saúde. O advogado Jean Severo, que representa a defesa dela, disse apenas que a acusada "se considera totalmente incocente" e que "o processo está em fase de instrução".
Já o advogado André Von Berg, que atua na defesa de Andrew, lembra que o réu cumpre prisão no Instutito Psiquiátrico Forense Doutor Maurício Cardoso (IPF), em Porto Alegre. "Acredito na inocência do Andrew e que será feita a justiça ao caso concreto. A expectativa é que o réu seja absolvido por ser considerado inimputável. Há laudos que apontam que o meu cliente sofre de psicose não-orgânica não especificada e outros transtornos dissociativos (Síndrome de Ganser)", defende Von Berg.
"Ele me garantiu que não sabe onde eles estão e que não tem nenhuma participação no desaparecimento deles", completa o defensor do neto de Rubem.
Cláudia de Almeida Heger, 52, e Andrew Heger Ribas, 29, estão presos, acusados de matar e ocultar os cadáveres dos dois. Os corpos nunca foram encontrados.