TRADIÇÃO
Família de Ivoti pinta 300 dúzias de ovos para vender na Páscoa
Preparação é feita o ano todo para a confecção dos doces típicos da Semana Santa. Conheça a história da artesã Esmilda Maria Spies
Última atualização: 01/03/2024 10:17
Um trabalho manual minucioso é o diferencial para algumas famílias da região nas semanas que antecedem a Páscoa. Cores e texturas se harmonizam com o branco da casca do ovo da galinha nas mãos dos descendentes europeus que mantêm viva a tradição, em que cada casca ganha um colorido especial quando é banhada num misturado de tintas a óleo.
Na família Spies, de Ivoti, a tradição da pintura de ovos passou de geração em geração. Hoje os netos auxiliam no processo que há 30 anos é cultivado pela artesã Esmilda Maria Spies, 80 anos. Conforme ela, a cultura trazida pelos ancestrais alemães causa uma mistura de sentimentos, orgulhando a nova geração e fazendo os mais velhos voltarem a ser crianças. "Gosto de ver a reação das pessoas quando recebem as casquinhas, para muitos é algo novo, para outros é um retorno às memórias da infância. Os olhos brilham", afirma.
Quatro meses antes da Páscoa, a família começa a pintura dos ovinhos, mas o trabalho inicia muito antes. "Passada uma Páscoa já estamos planejando a outra porque leva tempo, a secagem é um processo lento, leva em torno de quatro meses e não pode ser acelerado", explica Esmilda, que aprendeu com a irmã a transformar os ovinhos em surpresas para serem abertas no dia da Páscoa.
Artesanato
Há 20 anos, motivada por amigas do grupo de artesanato, ela decidiu investir na tradição que estava sendo deixada de lado. Hoje, enquanto a artesã prepara o amendoim e fecha os ovinhos, a filha Antonia, 48, e a neta Tauana, 26, filha de Antonia, são responsáveis pela comercialização. Em 2022, elas produziram 200 dúzias. Cada uma foi vendida por R$ 2,50. Quase todas foram comercializadas. "Por pouco não ficamos sem", brinca a diretora de recursos humanos Tauana Spies. Para ajudar a avó, ela pediu férias da empresa onde trabalha. "Tudo isso tem gostinho de infância e representa a união da nossa família", comenta.
Neste ano, a produção aumentou para 300 dúzias. "São 100 quilos de amendoim e 50 kg de açúcar, mas creio que iremos precisar comprar mais para fechar todos os ovos", avalia Esmilda.
"Cada casquinha é única, nenhuma repete a pintura", diz cozinheira de Dois Irmãos
Já na casa da cozinheira escolar Marli Casola Dahmer, 60, em Dois Irmãos, a comemoração da Páscoa envolve artesanato e decorações temáticas. Desde os oito anos de idade o costume faz parte das tradições de Quaresma da família, mas foi com o nascimento dos filhos que ela também viu nos doces uma oportunidade de renda.
"Quando meus filhos eram crianças retomei com maior escala (a produção) para que eles aproveitassem bastante a data e daí vi que iria dar certo para vender também", conta Marli. E deu muito certo. Lá se vão 30 anos pintando, recheado e comercializando as lembrancinhas temáticas. No ano passado, ela produziu 180 dúzias de ovos pintados. Todas foram vendidas.
"Cada casquinha é única, nenhuma repete a pintura, ou seja, é um presenta exclusivo", completa a cozinheira.
Herança dos imigrantes
A doutora em Diversidade Cultural e Inclusão Social do Centro Cultural Eintracht, de Campo Bom, Hebe Cardoso, conta que o costume chegou à região trazido pelos imigrantes alemães e que os povos do Hemisfério Norte tinham o hábito de pintar ovos de verdade, como parte das celebrações da Páscoa e da chegada da primavera. "Nos primeiros anos da imigração, a precariedade das condições de vida, fizeram com que muitas tradições não fossem mantidas, ou pelo menos fossem descontinuadas. E, aos poucos, da maneira mais simples, foram sendo ressignificadas e retomadas a partir do que dispunham, a fim de manter a identidade e o sentimento de pertencimento a uma cultura."
Ela explica que, originalmente, os ovos eram cozidos e pintados com corantes naturais, como cascas de frutas silvestres, de cebola, hibisco, repolho roxo e beterraba. "Os ovos cozidos eram detalhadamente decorados com diversas técnicas, usados tanto para o consumo, quanto para ser colecionado. Técnicas como o batik com uso das ceras, como na tradição ucraniana, ou com os corantes naturais feitos a partir da fervura de plantas e sementes." As casquinhas, que na Alemanha recebem confeitos de amêndoas, por aqui passaram a receber o amendoim, da tradição indígena.
Um trabalho manual minucioso é o diferencial para algumas famílias da região nas semanas que antecedem a Páscoa. Cores e texturas se harmonizam com o branco da casca do ovo da galinha nas mãos dos descendentes europeus que mantêm viva a tradição, em que cada casca ganha um colorido especial quando é banhada num misturado de tintas a óleo.
Na família Spies, de Ivoti, a tradição da pintura de ovos passou de geração em geração. Hoje os netos auxiliam no processo que há 30 anos é cultivado pela artesã Esmilda Maria Spies, 80 anos. Conforme ela, a cultura trazida pelos ancestrais alemães causa uma mistura de sentimentos, orgulhando a nova geração e fazendo os mais velhos voltarem a ser crianças. "Gosto de ver a reação das pessoas quando recebem as casquinhas, para muitos é algo novo, para outros é um retorno às memórias da infância. Os olhos brilham", afirma.
Quatro meses antes da Páscoa, a família começa a pintura dos ovinhos, mas o trabalho inicia muito antes. "Passada uma Páscoa já estamos planejando a outra porque leva tempo, a secagem é um processo lento, leva em torno de quatro meses e não pode ser acelerado", explica Esmilda, que aprendeu com a irmã a transformar os ovinhos em surpresas para serem abertas no dia da Páscoa.
Artesanato
Há 20 anos, motivada por amigas do grupo de artesanato, ela decidiu investir na tradição que estava sendo deixada de lado. Hoje, enquanto a artesã prepara o amendoim e fecha os ovinhos, a filha Antonia, 48, e a neta Tauana, 26, filha de Antonia, são responsáveis pela comercialização. Em 2022, elas produziram 200 dúzias. Cada uma foi vendida por R$ 2,50. Quase todas foram comercializadas. "Por pouco não ficamos sem", brinca a diretora de recursos humanos Tauana Spies. Para ajudar a avó, ela pediu férias da empresa onde trabalha. "Tudo isso tem gostinho de infância e representa a união da nossa família", comenta.
Neste ano, a produção aumentou para 300 dúzias. "São 100 quilos de amendoim e 50 kg de açúcar, mas creio que iremos precisar comprar mais para fechar todos os ovos", avalia Esmilda.
"Cada casquinha é única, nenhuma repete a pintura", diz cozinheira de Dois Irmãos
Já na casa da cozinheira escolar Marli Casola Dahmer, 60, em Dois Irmãos, a comemoração da Páscoa envolve artesanato e decorações temáticas. Desde os oito anos de idade o costume faz parte das tradições de Quaresma da família, mas foi com o nascimento dos filhos que ela também viu nos doces uma oportunidade de renda.
"Quando meus filhos eram crianças retomei com maior escala (a produção) para que eles aproveitassem bastante a data e daí vi que iria dar certo para vender também", conta Marli. E deu muito certo. Lá se vão 30 anos pintando, recheado e comercializando as lembrancinhas temáticas. No ano passado, ela produziu 180 dúzias de ovos pintados. Todas foram vendidas.
"Cada casquinha é única, nenhuma repete a pintura, ou seja, é um presenta exclusivo", completa a cozinheira.
Herança dos imigrantes
A doutora em Diversidade Cultural e Inclusão Social do Centro Cultural Eintracht, de Campo Bom, Hebe Cardoso, conta que o costume chegou à região trazido pelos imigrantes alemães e que os povos do Hemisfério Norte tinham o hábito de pintar ovos de verdade, como parte das celebrações da Páscoa e da chegada da primavera. "Nos primeiros anos da imigração, a precariedade das condições de vida, fizeram com que muitas tradições não fossem mantidas, ou pelo menos fossem descontinuadas. E, aos poucos, da maneira mais simples, foram sendo ressignificadas e retomadas a partir do que dispunham, a fim de manter a identidade e o sentimento de pertencimento a uma cultura."
Ela explica que, originalmente, os ovos eram cozidos e pintados com corantes naturais, como cascas de frutas silvestres, de cebola, hibisco, repolho roxo e beterraba. "Os ovos cozidos eram detalhadamente decorados com diversas técnicas, usados tanto para o consumo, quanto para ser colecionado. Técnicas como o batik com uso das ceras, como na tradição ucraniana, ou com os corantes naturais feitos a partir da fervura de plantas e sementes." As casquinhas, que na Alemanha recebem confeitos de amêndoas, por aqui passaram a receber o amendoim, da tradição indígena.