LOGÍSTICA COMPLICADA
Falta de mobilidade na BR-116 toma tempo, exige paciência e altera rotinas
Nos horários de pico, trafegar pela rodovia é um desafio de paciência por conta de diferentes gargalos
Última atualização: 26/02/2024 11:05
Fazer o almoço, organizar a cozinha, ir na academia, passar no supermercado, levar os filhos na pracinha, ler ou até curtir uma sonequinha. São sugestões de atividades que podem ser feitas no intervalo de meia hora. Mas para quem precisa enfrentar a BR-116 ao menos uma vez por dia nos horários mais movimentados, é o tempo que se gasta a mais porque logo à frente tem um "mar" de veículos em câmera lenta.
O pior trecho vai do viaduto da Scharlau até a ponte sobre o Rio dos Sinos, em São Leopoldo (sentido Vale do Sinos-capital). No sentido contrário, entre o viaduto da Avenida João Corrêa até o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Em Novo Hamburgo, o trânsito já começa a ficar lento na altura do viaduto da Avenida 7 de Setembro.
Para quem se desloca do Vale do Caí, a velocidade começa a diminuir na altura do Loteamento Itapema, na RS-240. Os horários críticos são das 6 às 8 horas e das 17 às 19 horas. No entanto, para quem vence a ponte do Rio dos Sinos no fim da tarde e precisa acessar a RS-240, a espera é maior, principalmente por conta do trânsito de caminhões embaixo do viaduto da Scharlau.
Seminário
O resultado desta dinâmica, que já se tornou rotina para muita gente é que, além de mais gastos, há muito tempo perdido. O tema estará em debate no Seminário de Mobilidade da Região Metropolitana do RS, que ocorre nesta sexta-feira (24) na Unisinos, em São Leopoldo. O evento é organizado pelo Grupo Sinos e vai reunir autoridades federais, estaduais e municipais para discutir os projetos e obras em andamento, com ênfase na RS-010, BR-116 e BR-488. O seminário tem patrocínio de Sicredi Pioneira e Teevo e apoio de Pavicon, Prefeitura de São Leopoldo e Unisinos.As três rodovias, com projetos de execução e ampliação, visam destravar a mobilidade na Região Metropolitana de Porto Alegre Para a BR-116, a meta é ampliar a capacidade de tráfego com três pistas em cada sentido entre a capital e Estância Velha, além do projeto de duplicação de Estância até Dois Irmãos.
Para a BR-448, a Rodovia do Parque, o objeto é a extensão até a RS-240, em Portão, com futura ligação em direção a Caxias do Sul. E já para a RS-010, o projeto é tirar a Rodovia do Progresso do papel, construindo uma nova estrada que vai ligar a BR-290, em Porto Alegre, à RS-239, em Sapiranga, cruzando a RS-118 na altura de Sapucaia do Sul.
O tempo gasto no trânsito
A TomTom (TOM2), especialista em tecnologias de geolocalização, publicou em fevereiro deste ano o TomTom Traffic Index anual, um relatório que detalha as tendências de tráfego em 389 cidades em 56 países. Conforme o levantamento, Londres, na Inglaterra, é a cidade onde o tempo médio para percorrer dez quilômetros é maior, 36 minutos e 20 segundos, com o condutor dirigindo 325 horas na hora do pico ao ano.
Do Brasil, o estudo analisou dados de nove cidades, sendo Porto Alegre uma delas. No ano passado, o motorista na capital gaúcha dirigiu por 196 horas em horários de pico - 47% desse tempo (93 horas) parado em engarrafamentos.
No caso da BR-116, não há um estudo científico apontando quantos minutos ou horas o usuário gasta para se locomover ou ficar parado em congestionamentos, mas a perda de tempo, em horários de pico, é grande.
Problema impõe novas rotinas
Motorista da Secretaria de Saúde de Novo Hamburgo há 20 anos, Claudemir da Silva, 60 anos, faz diariamente o transporte de pacientes para os hospitais de Porto Alegre. Para “vencer” a BR-116, ele montou sua estratégia de logística. “O que eu faço é antecipar o horário do paciente para que ele não chegue atrasado na consulta”, diz.
Conforme Silva, se a van passa pelo viaduto da 7 de Setembro, em Novo Hamburgo, às 6 horas, dez minutos depois o veículo ultrapassou o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). “Agora, se eu entrar ali no viaduto às 6h10, da polícia rodoviária até a ponte do Rio dos Sinos se leva de 30 a 35 minutos”, conta. Silva aponta que no trecho junto ao Zoológico de Sapucaia do Sul, onde fica o acesso à BR-448, a velocidade também cai.
Para o retorno de Porto Alegre, o condutor escapa da BR-116 antes de chegar à ponte do Rio dos Sinos e volta para Novo Hamburgo por dentro de São Leopoldo. Ele costuma sair às 12h40 da capital e chega às 15 horas. “E venho pela Mauá. Sou obrigado a fugir da BR”, diz. Silva relata que as condições do pavimento da Rodovia do Parque e o trânsito pesado de caminhões não são uma boa opção, já que ele transporta pessoas que enfrentam tratamento por problemas de saúde. “Eu trabalho com vidas, então ando com calma e com bom humor”, destaca.
De acordo com ele, já houve viagens que duraram mais de duas horas, enquanto que o esperado seria 50 minutos. Silva ainda lembra que, quando acontece um acidente de danos materiais, sem feridos, a curiosidade e mau comportamento de alguns motoristas ajudam a piorar a fluidez da via. “Pegam o celular e ficam gravando. Daí só piora”, finaliza.
Turismo também sofre
Quem chega ao Estado a turismo, com destino a Gramado, também já dá de cara com o trânsito da BR-116. O coordenador operacional de uma agência de turismo, Fabrício Klemann, 41, há 17 anos atua no ramo. “A gente já não marca nenhum compromisso para a noite porque corre o risco do turista não conseguir ir”, diz o profissional.
Para garantir que o cliente não perca o voo no retorno para casa, o deslocamento da serra para Porto Alegre começa de cinco a seis horas antes do embarque. “É preferível que ele chegue antes ao aeroporto, com a certeza que o embarque está garantindo, do que corra o risco de perder o avião porque ficou trancado na BR-116”, resume Klemann.
Ele pondera que além da retenção entre o viaduto da Scharlau e a ponte do Rio dos Sinos, obras e serviços de manutenção e capina também deixam o trânsito mais lento e, às vezes, forçam paradas de até 15 minutos. Segundo ele, uma opção seria a RS-020, mas por questões de segurança, a viagem por essa rodovia não é adotada.
Gargalo afeta viagem de moradores do Caí
O motorista que vem do Vale do Caí, pela RS-240, também sofre com o tempo perdido no deslocamento. O gerente de tráfego da Empresa Caiense, Loidimar da Silva, 43, que há 12 anos trabalha nesta função, comenta que com o passar dos anos os horários da linha São Sebastião do Caí-Porto Alegre foram diminuindo. O motivo é que as viagens passaram a se tornar cada vez mais demoradas por conta do trânsito pesado, fazendo que os passageiros chegassem atrasados aos seus compromissos.
Loidimar aponta que a saída encontrada foi ofertar mais linhas até a estação do Trensurb, opção preferida pela maioria dos usuários que precisam se deslocar até Canoas ou Porto Alegre.
Fazer o almoço, organizar a cozinha, ir na academia, passar no supermercado, levar os filhos na pracinha, ler ou até curtir uma sonequinha. São sugestões de atividades que podem ser feitas no intervalo de meia hora. Mas para quem precisa enfrentar a BR-116 ao menos uma vez por dia nos horários mais movimentados, é o tempo que se gasta a mais porque logo à frente tem um "mar" de veículos em câmera lenta.
O pior trecho vai do viaduto da Scharlau até a ponte sobre o Rio dos Sinos, em São Leopoldo (sentido Vale do Sinos-capital). No sentido contrário, entre o viaduto da Avenida João Corrêa até o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Em Novo Hamburgo, o trânsito já começa a ficar lento na altura do viaduto da Avenida 7 de Setembro.
Para quem se desloca do Vale do Caí, a velocidade começa a diminuir na altura do Loteamento Itapema, na RS-240. Os horários críticos são das 6 às 8 horas e das 17 às 19 horas. No entanto, para quem vence a ponte do Rio dos Sinos no fim da tarde e precisa acessar a RS-240, a espera é maior, principalmente por conta do trânsito de caminhões embaixo do viaduto da Scharlau.
Seminário
O resultado desta dinâmica, que já se tornou rotina para muita gente é que, além de mais gastos, há muito tempo perdido. O tema estará em debate no Seminário de Mobilidade da Região Metropolitana do RS, que ocorre nesta sexta-feira (24) na Unisinos, em São Leopoldo. O evento é organizado pelo Grupo Sinos e vai reunir autoridades federais, estaduais e municipais para discutir os projetos e obras em andamento, com ênfase na RS-010, BR-116 e BR-488. O seminário tem patrocínio de Sicredi Pioneira e Teevo e apoio de Pavicon, Prefeitura de São Leopoldo e Unisinos.As três rodovias, com projetos de execução e ampliação, visam destravar a mobilidade na Região Metropolitana de Porto Alegre Para a BR-116, a meta é ampliar a capacidade de tráfego com três pistas em cada sentido entre a capital e Estância Velha, além do projeto de duplicação de Estância até Dois Irmãos.
Para a BR-448, a Rodovia do Parque, o objeto é a extensão até a RS-240, em Portão, com futura ligação em direção a Caxias do Sul. E já para a RS-010, o projeto é tirar a Rodovia do Progresso do papel, construindo uma nova estrada que vai ligar a BR-290, em Porto Alegre, à RS-239, em Sapiranga, cruzando a RS-118 na altura de Sapucaia do Sul.
O tempo gasto no trânsito
A TomTom (TOM2), especialista em tecnologias de geolocalização, publicou em fevereiro deste ano o TomTom Traffic Index anual, um relatório que detalha as tendências de tráfego em 389 cidades em 56 países. Conforme o levantamento, Londres, na Inglaterra, é a cidade onde o tempo médio para percorrer dez quilômetros é maior, 36 minutos e 20 segundos, com o condutor dirigindo 325 horas na hora do pico ao ano.
Do Brasil, o estudo analisou dados de nove cidades, sendo Porto Alegre uma delas. No ano passado, o motorista na capital gaúcha dirigiu por 196 horas em horários de pico - 47% desse tempo (93 horas) parado em engarrafamentos.
No caso da BR-116, não há um estudo científico apontando quantos minutos ou horas o usuário gasta para se locomover ou ficar parado em congestionamentos, mas a perda de tempo, em horários de pico, é grande.
Problema impõe novas rotinas
Motorista da Secretaria de Saúde de Novo Hamburgo há 20 anos, Claudemir da Silva, 60 anos, faz diariamente o transporte de pacientes para os hospitais de Porto Alegre. Para “vencer” a BR-116, ele montou sua estratégia de logística. “O que eu faço é antecipar o horário do paciente para que ele não chegue atrasado na consulta”, diz.
Conforme Silva, se a van passa pelo viaduto da 7 de Setembro, em Novo Hamburgo, às 6 horas, dez minutos depois o veículo ultrapassou o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). “Agora, se eu entrar ali no viaduto às 6h10, da polícia rodoviária até a ponte do Rio dos Sinos se leva de 30 a 35 minutos”, conta. Silva aponta que no trecho junto ao Zoológico de Sapucaia do Sul, onde fica o acesso à BR-448, a velocidade também cai.
Para o retorno de Porto Alegre, o condutor escapa da BR-116 antes de chegar à ponte do Rio dos Sinos e volta para Novo Hamburgo por dentro de São Leopoldo. Ele costuma sair às 12h40 da capital e chega às 15 horas. “E venho pela Mauá. Sou obrigado a fugir da BR”, diz. Silva relata que as condições do pavimento da Rodovia do Parque e o trânsito pesado de caminhões não são uma boa opção, já que ele transporta pessoas que enfrentam tratamento por problemas de saúde. “Eu trabalho com vidas, então ando com calma e com bom humor”, destaca.
De acordo com ele, já houve viagens que duraram mais de duas horas, enquanto que o esperado seria 50 minutos. Silva ainda lembra que, quando acontece um acidente de danos materiais, sem feridos, a curiosidade e mau comportamento de alguns motoristas ajudam a piorar a fluidez da via. “Pegam o celular e ficam gravando. Daí só piora”, finaliza.
Turismo também sofre
Quem chega ao Estado a turismo, com destino a Gramado, também já dá de cara com o trânsito da BR-116. O coordenador operacional de uma agência de turismo, Fabrício Klemann, 41, há 17 anos atua no ramo. “A gente já não marca nenhum compromisso para a noite porque corre o risco do turista não conseguir ir”, diz o profissional.
Para garantir que o cliente não perca o voo no retorno para casa, o deslocamento da serra para Porto Alegre começa de cinco a seis horas antes do embarque. “É preferível que ele chegue antes ao aeroporto, com a certeza que o embarque está garantindo, do que corra o risco de perder o avião porque ficou trancado na BR-116”, resume Klemann.
Ele pondera que além da retenção entre o viaduto da Scharlau e a ponte do Rio dos Sinos, obras e serviços de manutenção e capina também deixam o trânsito mais lento e, às vezes, forçam paradas de até 15 minutos. Segundo ele, uma opção seria a RS-020, mas por questões de segurança, a viagem por essa rodovia não é adotada.
Gargalo afeta viagem de moradores do Caí
O motorista que vem do Vale do Caí, pela RS-240, também sofre com o tempo perdido no deslocamento. O gerente de tráfego da Empresa Caiense, Loidimar da Silva, 43, que há 12 anos trabalha nesta função, comenta que com o passar dos anos os horários da linha São Sebastião do Caí-Porto Alegre foram diminuindo. O motivo é que as viagens passaram a se tornar cada vez mais demoradas por conta do trânsito pesado, fazendo que os passageiros chegassem atrasados aos seus compromissos.
Loidimar aponta que a saída encontrada foi ofertar mais linhas até a estação do Trensurb, opção preferida pela maioria dos usuários que precisam se deslocar até Canoas ou Porto Alegre.
O pior trecho vai do viaduto da Scharlau até a ponte sobre o Rio dos Sinos, em São Leopoldo (sentido Vale do Sinos-capital). No sentido contrário, entre o viaduto da Avenida João Corrêa até o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Em Novo Hamburgo, o trânsito já começa a ficar lento na altura do viaduto da Avenida 7 de Setembro.