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FALSA VETERINÁRIA: Onde foi parar? Novos documentos revelam verdadeiro valor doado para salvar animais resgatados na enchente em Novo Hamburgo

Suspeita é de que parte deste dinheiro tenha sido desviado por uma falsa veterinária, de 31 anos, contratada para atuar no abrigo de animais montado no antigo hotel da Fenac

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Publicado em: 28/12/2024 às 14h:47 Última atualização: 28/12/2024 às 14h:55
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Novos documentos, obtidos com exclusividade por ABCmais, revelam como foi a movimentação financeira na conta bancária criada para receber doações para auxiliar no tratamento de animais resgatados na enchente de maio, em Novo Hamburgo. A suspeita é de que parte deste dinheiro tenha sido desviado por uma falsa veterinária, de 31 anos, contratada pela Prefeitura de Novo Hamburgo para atuar no abrigo de animais montado no antigo hotel da Fenac.

Mulher de 31 anos (rosto borrado) contratada pela prefeitura de Novo Hamburgo como médica veterinária teve a farsa descoberta por voluntárias da causa animal que atuavam no abrigo montado no antigo hotel da Fenac | abc+



Mulher de 31 anos (rosto borrado) contratada pela prefeitura de Novo Hamburgo como médica veterinária teve a farsa descoberta por voluntárias da causa animal que atuavam no abrigo montado no antigo hotel da Fenac

Foto: Divulgação

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Entre o dia 1º de junho e o dia 22 de junho, tempo em que a conta esteve ativa e recebeu doações via PIX de pessoas de todo o Brasil, foram depositados mais de R$ 108 mil na conta física, aberta pela falsa veterinária exclusivamente para receber doações à causa animal. Em contrapartida, saíram da conta mais de R$ 62 mil, ficando um saldo de aproximadamente R$ 45 mil. O valor que entrou na conta é 68% maior do que o valor inicialmente apresentado. Em junho, quando a farsa foi descoberta, um relatório prévio indicava que haviam entrado na conta pouco mais de R$ 64 mil.

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A falsa veterinária passou a administrar a conta bancária para onde estavam indo as doações após ganhar a confiança dos voluntários, especialmente depois que recebeu o “status” de coordenadora do abrigo montado no antigo hotel da Fenac pela Secretaria de Meio Ambiente de Novo Hamburgo. Na época em que a farsa foi descoberta, na última semana de junho, a prefeitura admitiu ter contratado a mulher como médica veterinária sem consultar se, de fato, ela tinha registro para atuar como tal.

Somente R$ 20 mil são encontrados na conta; valor está bloqueado

Embora o saldo seja de cerca de R$ 45 mil, somente R$ 20 mil foram encontrados pela Justiça na conta da vaquinha, que era administrada pela falsa veterinária. A Justiça determinou o bloqueio deste valor em uma ação judicial movida por voluntárias ligadas à causa animal de Novo Hamburgo, o que impede qualquer tipo de movimentação por parte da falsa veterinária.

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O bloqueio foi determinado pelo juiz Flávio Curvello Martins de Souza, da comarca de Novo Hamburgo, e mantido pelo desembargador Roberto José Ludwig, da 15ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça (TJRS), que analisou o agravo de instrumento interposto pela falsa veterinária para tentar cassar a decisão do magistrado da comarca local.

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Ao decidir manter o bloqueio da conta bancária vinculada à vaquinha, o TJRS expõe o fato de a suspeita ter se passado por médica veterinária e, ainda, poder ter desviado o dinheiro doado para salvar os animais resgatados na enchente. “Há, ainda, indícios contrários à versão da agravante, em especial a circunstância de que, em tese, agiu como se fosse veterinária sem ter, aparentemente, o respectivo registro, não se descartando a hipótese de prática de conduta penalmente relevante que pode ter envolvido desvio de recursos destinados ao socorro de animais, o que tudo está por merecer a devida apuração e explicação pela ré/agravante”, aponta o desembargador Roberto José Ludwig.

Polícia Civil segue investigando possível desvio de dinheiro destinado à causa animal

Assim que o caso veio à tona, após denúncia feita por voluntárias ligadas à causa animal de Novo Hamburgo, que culminou na detenção da falsa veterinária, a Polícia Civil instaurou dois procedimentos policiais para apurar os fatos.

O primeiro procedimento buscava confirmar se a suspeita, de 31 anos, era mesmo médica veterinária. Após a verificação dos fatos, a delegada Marina Goltz, da 2ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo, concluiu que a mulher praticava o exercício ilegal da profissão, confirmando que ela não é médica veterinária, como alegava aos voluntários e à imprensa. A ausência de registro profissional, apontada inicialmente pelos próprios voluntários, foi confirmada pela investigação policial. O registro profissional junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV/PR) apresentado por ela à Prefeitura no ato da efetivação é falso.

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Com a conclusão dessa fase, a Polícia Civil encaminhou o termo circunstanciado à Justiça em agosto. O procedimento tramita no Fórum de Novo Hamburgo desde então. Em outubro, uma primeira audiência sobre o caso foi realizada pela Vara do Juizado Especial Criminal, que é vinculada à 2ª Vara Criminal da Comarca de Novo Hamburgo.

Desvio dos valores doados

Além de estar sendo processada por atuar como médica veterinária sem qualificação técnica, a mulher também é alvo de outra investigação. Conforme a delegada Marina Goltz, a Polícia apura se houve apropriação dos valores das doações feitas pela população. “Neste inquérito, estamos verificando o possível desvio ou utilização para fins pessoais de valores recebidos como doação para animais resgatados da enchente”, detalhou Marina, em recente consulta feita por ABCmais.

Mulher atuava no abrigo municipal para animais resgatados | abc+



Mulher atuava no abrigo municipal para animais resgatados

Foto: Isaías Rheinheimer/GES-Especial

Conforme a delegada, essa é uma investigação mais demorada e que demanda de provas mais robustas e técnicas. Uma dessas provas será alcançada com a quebra de sigilo bancário da acusada, que já foi autorizada pela Justiça. “O inquérito segue em andamento, sem atualizações, e está sob sigilo”, sintetiza a delegada, após contato feito pela reportagem em busca de novidades sobre o caso, na tarde desta sexta-feira (27).

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