DO SUL AO POLO NORTE
"Falo como se eu ainda estivesse no Rio Grande do Sul": Gaúcho muda para o Ártico e vê aurora boreal no quintal de casa
Chicco Mattos soma mais de 2 milhões de seguidores nas redes sociais, onde compartilhar com brasileiros como é conviver com dias de frio de até -40°C
Última atualização: 19/09/2024 14:24
Um gaúcho pode ser reconhecido de longe. Seja pelo modo de falar, pela paixão por churrasco ou pela companhia de uma cuia de chimarrão aonde for. Um desses aventureiros que deixou o Rio Grande do Sul para conhecer o mundo é Francisco Mattos, de 43 anos, ou Chicco Mattos, como ficou conhecido nas redes sociais, nas quais soma mais de 2 milhões de seguidores. Ele mora há 13 anos no Ártico e tem um privilégio que é para poucos: ver aurora boreal sem sair de casa. (Veja o vídeo abaixo).
O gremista já está há mais de 20 anos fora do RS, mas ainda mantém tradições como assistir aos jogos do Tricolor, principalmente o GreNal, tomar chimarrão todos os dias e fazer churrasco em sua casa. "Faço as coisas como eu fazia no Rio Grande do Sul e falo como se eu ainda estivesse no Rio Grande do Sul."
Nascido em Passo Fundo, no Norte do RS, Chicco vive com a esposa em Alta, na Noruega. A cidade é uma das que estão mais ao norte do continente europeu e é um dos locais que mais tem aurora boreal. "Aqui é a capital mundial da aurora boreal."
O gaúcho é um dos 400 moradores de um pequeno vilarejo. Ao todo, a cidade tem pouco mais de 20 mil habitantes. Onde mora, tem neve por cerca de oito meses no ano. De abril até final de agosto, o sol brilha 24 horas por dia. A partir de setembro, é quando escurece e a aurora boreal pode ser vista. "Tem praticamente todo dia. Às vezes bem fraquinha, às vezes bem forte, mas sempre tem aurora. Então eu vejo aqui de trás da minha casa", conta.
Chicco acredita que o que mais o fez mudar ao morar em um lugar tão diferente do Brasil foi aprender com a forma com que os nativos vivem. "Notei que as pessoas eram muito simples. Elas se vestiam parecido. Elas repetiam a mesma roupa o tempo inteiro, não tinham aquela vaidade. As coisas que deixavam as pessoas felizes eram coisas muito simples." Outro fator sobre o estilo de vida na Noruega que o influenciador também adotou é o contato frequente com a natureza. Ele explica que costuma dedicar tempo a ver o céu e as paisagens.
Ele compartilha suas experiências nas redes sociais e participa de tours com turistas que visitam o Ártico. "Estou participando de momentos das pessoas que elas nunca mais vão esquecer." Entre as experiências que os visitantes podem ter estão: conhecer um hotel de gelo, jogar futebol com uma bola de gelo esculpida na hora, andar de moto-neve na montanha e pescar em um buraco no gelo como os esquimós.
São experiências que, segundo ele, aproximam as pessoas do mundo real. "Tu sente os perigos reais, tu libera os químicos do corpo precisa, como adrenalina. De repente, você viu um urso e ficou com medo, liberou adrenalina. Você está lá fora, você tá acordado."
Como o gaúcho foi parar no Ártico
"A neve sempre me fascinou, os lugares frios, as montanhas. Sempre achei lindo", diz o gaúcho que saiu do Estado aos 18 anos para morar em São Paulo, onde começou a trabalhar como comissário de voo. Alguns anos depois, ele saiu da cidade e morou na Bahia, no Rio de Janeiro e em Santa Catarina. Ele trabalhava como gerente em um bar quando soube de uma vaga em um cruzeiro que iria para o Alaska, nos Estados Unidos. Foi aí que sua jornada pelo mundo começou.
Da América do Norte, ele foi para a Oceania. Na Austrália, conheceu a sua esposa e, a partir da indicação de uma amiga, o casal decidiu ir passar três meses no Ártico. O que não esperavam era que iriam se apaixonar pelo destino e transformá-lo em lar. "Até tu pisar naquele lugar e tu sentir as coisas, ver como funcionam as casas, ver que tu não passa frio, que as casas são bem quentinhas, que é tudo com muito mais estrutura do que a gente tem no Brasil. Até isso, tu não acredita que tu vai morar num lugar desses."
Chicco costuma visitar o Sul do Brasil todos os anos para visitar a família e os amigos. E admite algo curioso: "eu passo muito mais frio no Rio Grande do Sul". No Ártico, já pegou dias de frio de -40°C. "Eu vou pro Rio Grande do Sul, eu tô sempre com frio." O motivo é que, onde mora, todas as casas, mesmo de madeira, são equipadas com espuma no meio das paredes para manter o calor dentro da residência. Além disso, os banheiros têm, por padrão, um sistema de aquecimento para o chão, que impede que a umidade entre e mantém o ambiente quente para a hora do banho.
O frio só se torna um desafio quando ele, que é videomaker, faz filmagens para filmes e documentários. Afinal, "tem que encostar na câmera", o que causa dor nos dedos. "Aquele frio que parece agulha na ponta do teu dedo", explica.
Participante do Acampamento Farroupilha Mais ao Norte do Mundo
Chicco foi um dos mais de 100 gaúchos que participaram do Acampamento Farroupilha Mais ao Norte do Mundo. O evento ocorreu em Oslo, capital da Noruega. A festa é organizada por um grupo de gaúchos: os Vikings de Bombacha. No último sábado (14), os participantes viveram um dia tipicamente gaúcho. A reunião com amigos do Estado ajuda a acalma o coração do gaúcho do Polo Norte, que admite ter "muita saudade do Rio Grande do Sul".