TEMPO DE PREJUÍZOS
Extremos climáticos deixam 359 cidades em emergência no RS
Ainda lutando com impacto da seca, Estado também enfrenta chuvarada, que causou estragos em municípios da região
Última atualização: 01/02/2024 17:13
O tempo anda trazendo problemas para o Estado. A estiagem do início do ano ainda está causando impactos, principalmente para os agricultores. E agora, para complicar mais o cenário, as chuvas de sábado e que são previstas até o meio da semana também fazem estragos.
Mesmo com a chuva, por enquanto o maior problema ainda é o impacto da seca. De acordo com números da Defesa Civil do Estado, 359 municípios decretaram situação de emergência. Destes, o Estado já homologou emergência em 278 e a União em 253. Na maioria dos casos, a causa é a estiagem.
Na região, quatro cidades tiveram seus decretos de emergência em razão da estiagem reconhecidos, tanto pelo governo estadual quanto federal: Salvador do Sul, São Francisco de Paula, Araricá e Brochier.
Taquara vive uma situação inusitada. O município calcula prejuízos de R$ 19 milhões na agricultura em razão da estiagem e deve buscar o reconhecimento da situação de emergência. Entretanto, em razão dos temporais, a cidade já tem o estado de emergência reconhecido no sistema do governo federal em razão dos estragos em 26 de janeiro.
Estão com emergência reconhecida: Salvador do Sul; São Francisco de Paula; Araricá; Brochier (todas pela estiagem). Em avaliação dos prejuízos: Santa Maria do Herval; Montenegro; Novo Hamburgo; São Sebastião do Caí; Rolante.
Analisadas no Estado e aguardando governo federal estão Gravataí e Nova Santa Rita. Nova Hartz está em análise pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul. Riozinho teve seu processo devolvido para complementação.
* Colaboraram: Susi Mello e Kassiane Michel
Impacto inédito na pecuária
Em Araricá, com emergência reconhecida pela falta de chuvas, o prefeito Flávio Foss relata situação inédita para a cidade, com falta de água para a criação de gado. "Este ano a produção rural foi a que mais sentiu, foi um caso inédito, perderam-se cabeças de gado em Araricá, algo que nunca tinha acontecido. Abrimos bebedouros para o gado beber, que estava bebendo praticamente lodo, e mesmo assim tivemos que levar água com caminhão pipa , porque mesmo abrindo tinha que levar água das chuvas, mas não chovia", lembra.
Em 31 de janeiro o estado de emergência da cidade foi reconhecido pelo governo do Estado e em 3 de fevereiro veio o reconhecimento federal. Graças a isso, o município conseguiu acessar R$ 32 mil em recursos estaduais, dinheiro usado para abertura de bebedouros voltados para criação bovina. Nas próximas duas semanas o governo espera a chegada.
Aumento de custos de produção reflete nos preços
Outras cidades da região buscam reconhecimento por parte do Estado e da União, o que permitiria o acesso a recursos extraordinários para combater a crise causada pela estiagem.
Sebastião do Caí é uma das cidades que já fizeram o levantamento dos prejuízos, e calcula perdas totais superiores a R$ 14,45 milhões de acordo com os cálculos apresentados pelos técnicos da Emater que atendem ao município.
Os mais prejudicados são produtores de hortaliças, como é o caso de Natan Hochscheidt e Fernando Stum. O primeiro, além de produtor rural, também possui uma agroindústria, e vem sentindo no bolso o impacto da falta de chuvas.
"Uma caixa de alface custava 15 reais. Hoje em dia está entre 30 reais e 35 reais e não tem como segurar o preço. Se fosse oscilação de uma semana não precisaria repassar, mas no contexto do que vem acontecendo, é inviável."
Stum ressalta ainda que sem chuvas, os agricultores precisam investir mais em adubos, o que encarece a produção e, mesmo assim, não garante um bom resultado final. "Precisamos de mais investimentos, a gente acaba produzindo menos e precisando de mais investimentos e colocando mais adubo. Mas nada consegue substituir uma chuva."
Período de seca diferente este ano agrava problema agrícola
Embora a escassez de água não seja uma novidade na vida dos agricultores, a situação foi diferente entre o ano passado e este ano, como avalia Natan Hochscheidt. "Na nossa região a seca sempre se iniciava ali no final de setembro, início de outubro e em janeiro as chuvas retomavam e tudo voltava ao normal. Esse ano foi o contrário, choveu até o fim de outubro." Ele conta que a seca veio na época de maturação das plantas, quando deveria haver um ganho de qualidade. "Isso influenciou mais nos preços do que nos anos anteriores."
A continuidade do cenário de incertezas a longo prazo faz Stum projetar o abandono do campo nas próximas gerações. "Cada ano está mais difícil, muitas reações adversas, tentamos segurar o que dá, talvez os filhos não vão ficar na roça", projeta ele, pai de dois filhos. Ele se prepara para ver os filhos saindo do trabalho no campo.
Para complicar, ainda tem chuva excessiva
E enquanto os governos municipais, estadual e federal debatem soluções para os estragos que já foram feitos pela estiagem, tem mais prejuízo a caminho por causa do clima, mas pelo motivo oposto.
A chuvarada do sábado causou desabamentos e destelhamentos pela região. E a meteorologia faz um alerta. A frente de instabilidade que passou pelo Vale do Sinos no sábado, no lugar de rumar para o mar, vai passar novamente por aqui.
Estragos
Após o temporal de sábado provocar alagamentos e derrubar muros, fios e postes de energia em Novo Hamburgo, a Defesa Civil da cidade fez verificação em áreas de risco no domingo (5). Segundo o coordenador do órgão, o tenente Claudiomiro da Fonseca, os bairros que mais emitiram chamados foram Guarani, Ideal, Rincão, Ouro Branco, Pátria Nova, Rondônia e Primavera.
"Tivemos muitos atendimentos em função da chuva, com um acumulado de 110 milímetros", relata.
No bairro Ideal, entre as Ruas Tapes e Aimoré, houve a queda de um muro. O barulho foi ouvido pela vendedora Claudete Souza, 63, que mora nas proximidades. "O estouro foi bem quando estava dando a pancada de chuva", comenta.
Em São Sebastião do Caí, a Defesa Civil registrou 111 milímetros de chuva em uma hora no sábado. Ruas alagaram e a água invadiu casas, embora sem desalojados.
Baixa pressão
Segundo o meteorologista Fernando Nachtigall, da MetSul, a chuva foi causada por um centro de baixa pressão que se formou na Argentina e veio para o RS. Passou no sábado pela região em direção a Santa Catarina.
Entretanto, no lugar de se deslocar para o mar, o centro fará o percurso inverso, vindo da costa catarinense para o continente. É a chamada baixa retrógrada, fenômeno raro. Trará mais chuva forte.
Alerta sobre os altos volumes
A MetSul alerta que durante esta segunda-feira o retorno do centro de baixa pressão oferece risco de chuvas excessivas principalmente nas áreas de encosta da Serra. Nachtigall aponta que o acréscimo de umidade vindo da costa pode provocar episódios de muita chuva acumulada em poucos períodos, com risco de deslizamento e alagamento. O perigo é maior no sul catarinense, nordeste do RS e encosta da Serra.
O tempo anda trazendo problemas para o Estado. A estiagem do início do ano ainda está causando impactos, principalmente para os agricultores. E agora, para complicar mais o cenário, as chuvas de sábado e que são previstas até o meio da semana também fazem estragos.
Mesmo com a chuva, por enquanto o maior problema ainda é o impacto da seca. De acordo com números da Defesa Civil do Estado, 359 municípios decretaram situação de emergência. Destes, o Estado já homologou emergência em 278 e a União em 253. Na maioria dos casos, a causa é a estiagem.
Na região, quatro cidades tiveram seus decretos de emergência em razão da estiagem reconhecidos, tanto pelo governo estadual quanto federal: Salvador do Sul, São Francisco de Paula, Araricá e Brochier.
Taquara vive uma situação inusitada. O município calcula prejuízos de R$ 19 milhões na agricultura em razão da estiagem e deve buscar o reconhecimento da situação de emergência. Entretanto, em razão dos temporais, a cidade já tem o estado de emergência reconhecido no sistema do governo federal em razão dos estragos em 26 de janeiro.
Estão com emergência reconhecida: Salvador do Sul; São Francisco de Paula; Araricá; Brochier (todas pela estiagem). Em avaliação dos prejuízos: Santa Maria do Herval; Montenegro; Novo Hamburgo; São Sebastião do Caí; Rolante.
Analisadas no Estado e aguardando governo federal estão Gravataí e Nova Santa Rita. Nova Hartz está em análise pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul. Riozinho teve seu processo devolvido para complementação.
* Colaboraram: Susi Mello e Kassiane Michel
Impacto inédito na pecuária
Em Araricá, com emergência reconhecida pela falta de chuvas, o prefeito Flávio Foss relata situação inédita para a cidade, com falta de água para a criação de gado. "Este ano a produção rural foi a que mais sentiu, foi um caso inédito, perderam-se cabeças de gado em Araricá, algo que nunca tinha acontecido. Abrimos bebedouros para o gado beber, que estava bebendo praticamente lodo, e mesmo assim tivemos que levar água com caminhão pipa , porque mesmo abrindo tinha que levar água das chuvas, mas não chovia", lembra.
Em 31 de janeiro o estado de emergência da cidade foi reconhecido pelo governo do Estado e em 3 de fevereiro veio o reconhecimento federal. Graças a isso, o município conseguiu acessar R$ 32 mil em recursos estaduais, dinheiro usado para abertura de bebedouros voltados para criação bovina. Nas próximas duas semanas o governo espera a chegada.
Aumento de custos de produção reflete nos preços
Outras cidades da região buscam reconhecimento por parte do Estado e da União, o que permitiria o acesso a recursos extraordinários para combater a crise causada pela estiagem.
Sebastião do Caí é uma das cidades que já fizeram o levantamento dos prejuízos, e calcula perdas totais superiores a R$ 14,45 milhões de acordo com os cálculos apresentados pelos técnicos da Emater que atendem ao município.
Os mais prejudicados são produtores de hortaliças, como é o caso de Natan Hochscheidt e Fernando Stum. O primeiro, além de produtor rural, também possui uma agroindústria, e vem sentindo no bolso o impacto da falta de chuvas.
"Uma caixa de alface custava 15 reais. Hoje em dia está entre 30 reais e 35 reais e não tem como segurar o preço. Se fosse oscilação de uma semana não precisaria repassar, mas no contexto do que vem acontecendo, é inviável."
Stum ressalta ainda que sem chuvas, os agricultores precisam investir mais em adubos, o que encarece a produção e, mesmo assim, não garante um bom resultado final. "Precisamos de mais investimentos, a gente acaba produzindo menos e precisando de mais investimentos e colocando mais adubo. Mas nada consegue substituir uma chuva."
Período de seca diferente este ano agrava problema agrícola
Embora a escassez de água não seja uma novidade na vida dos agricultores, a situação foi diferente entre o ano passado e este ano, como avalia Natan Hochscheidt. "Na nossa região a seca sempre se iniciava ali no final de setembro, início de outubro e em janeiro as chuvas retomavam e tudo voltava ao normal. Esse ano foi o contrário, choveu até o fim de outubro." Ele conta que a seca veio na época de maturação das plantas, quando deveria haver um ganho de qualidade. "Isso influenciou mais nos preços do que nos anos anteriores."
A continuidade do cenário de incertezas a longo prazo faz Stum projetar o abandono do campo nas próximas gerações. "Cada ano está mais difícil, muitas reações adversas, tentamos segurar o que dá, talvez os filhos não vão ficar na roça", projeta ele, pai de dois filhos. Ele se prepara para ver os filhos saindo do trabalho no campo.
Para complicar, ainda tem chuva excessiva
E enquanto os governos municipais, estadual e federal debatem soluções para os estragos que já foram feitos pela estiagem, tem mais prejuízo a caminho por causa do clima, mas pelo motivo oposto.
A chuvarada do sábado causou desabamentos e destelhamentos pela região. E a meteorologia faz um alerta. A frente de instabilidade que passou pelo Vale do Sinos no sábado, no lugar de rumar para o mar, vai passar novamente por aqui.
Estragos
Após o temporal de sábado provocar alagamentos e derrubar muros, fios e postes de energia em Novo Hamburgo, a Defesa Civil da cidade fez verificação em áreas de risco no domingo (5). Segundo o coordenador do órgão, o tenente Claudiomiro da Fonseca, os bairros que mais emitiram chamados foram Guarani, Ideal, Rincão, Ouro Branco, Pátria Nova, Rondônia e Primavera.
"Tivemos muitos atendimentos em função da chuva, com um acumulado de 110 milímetros", relata.
No bairro Ideal, entre as Ruas Tapes e Aimoré, houve a queda de um muro. O barulho foi ouvido pela vendedora Claudete Souza, 63, que mora nas proximidades. "O estouro foi bem quando estava dando a pancada de chuva", comenta.
Em São Sebastião do Caí, a Defesa Civil registrou 111 milímetros de chuva em uma hora no sábado. Ruas alagaram e a água invadiu casas, embora sem desalojados.
Baixa pressão
Segundo o meteorologista Fernando Nachtigall, da MetSul, a chuva foi causada por um centro de baixa pressão que se formou na Argentina e veio para o RS. Passou no sábado pela região em direção a Santa Catarina.
Entretanto, no lugar de se deslocar para o mar, o centro fará o percurso inverso, vindo da costa catarinense para o continente. É a chamada baixa retrógrada, fenômeno raro. Trará mais chuva forte.
Alerta sobre os altos volumes
A MetSul alerta que durante esta segunda-feira o retorno do centro de baixa pressão oferece risco de chuvas excessivas principalmente nas áreas de encosta da Serra. Nachtigall aponta que o acréscimo de umidade vindo da costa pode provocar episódios de muita chuva acumulada em poucos períodos, com risco de deslizamento e alagamento. O perigo é maior no sul catarinense, nordeste do RS e encosta da Serra.