A cicloviagem de um morador de Novo Hamburgo pode ser acompanhada pelo Instagram. Sua história, no entanto, não está ligada somente aos locais que visita no País ou fora dele. Em suas andanças sobre duas rodas, o motorista profissional Claiton Gonçalves da Cunha, 50 anos, busca uma nova maneira de viver depois de conseguir desintoxicar fisicamente de sua dependência química.
Ele não fica em hotel e nem se alimenta em restaurante. No estilo “roots”, como frisa, ele acampa em campo, na beira da estrada, em posto de combustíveis e até em montanha que encontra pelo caminho. Sua refeição é preparada com equipamento próprio que carrega na bike. “É viver muito com quase nada, é viver o máximo precisando do mínimo”, relata Cunha, que conta com ajuda voluntária de amigos que lhe seguem no Insta e depositam pequenas quantias pelo Pix para seguir viagem.
A trajetória na estrada começou em 2021. Em setembro daquele ano, Cunha parou com o uso de drogas e, sem recurso de internação em clínica e terapia, passou a frequentar diariamente reuniões de irmandade anônima. “Junto com esse programa de recuperação anônimo, eu entendi que precisava de algo a mais para preencher o meu tempo, minha mente, algo que também me ajudasse a desintoxicar fisicamente mais rápido. Logo de início, descobri que ia ser fazendo cicloviagem”, explica.
Cunha está atualmente em Buta Ranquil, pequena cidade na Patagônia, região dividida entre o Chile e a Argentina. Porém, antes de realizar o sonho de viajar para fora do País, ele percorreu outros Estados brasileiros sobre sua bicicleta.
“A grande sacada da cicloviagem são os lugares incríveis e pessoas especiais que vou encontrando, conhecendo pessoas que vão se tornando amigos e até irmãos. Alguns chegam a se tornar família mesmo”, relata.
O Rio Grande do Sul representa 90% de suas viagens e, em abril do ano passado, deixou o Estado para percorrer Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Sergipe. “Foram 3.260 quilômetros de percurso, todo ele por litoral, onde conheci lugares incríveis e pessoas especiais”, comenta. Antes da viagem pelo litoral dos estados citados, ele pedalou por Minas Gerais, ingressando na ilha de Florianópolis.
Exterior
A vida de bike, fora do País, também inclui Argentina e a Ciudade Leste, na porta do Paraguai. “São muitas viagens, já são quase 24 mil quilômetros de cicloviagem nesses dois anos e quatro meses”, declara, referindo-se às pedaladas no Brasil e exterior.
A Patagônia Verde, região dos sete lagos, é seu alvo principal. “Quero ir no Parque Nacional da Patagônia, entrar um pouco no Chile, conhecer um pouco da carretera austral (rodovia ao sul do Chile), passar um tempo no Chile e voltar e descer até Bariloche”, explica Cunha, que saiu de Novo Hamburgo dia 21 de dezembro de 2023 e já percorreu aproximadamente 2,5 mil quilômetros de bike.
Diante de Tromen, o vulcão que ele pode observar na margem da Ruta 40, o morador de Novo Hamburgo volta ao tempo para contar um pouco mais sobre sua dependência química. “Comecei a fazer o uso de entorpecentes com 13 anos de idade. Foram muitas idas e vindas entre o sofrimento e uma vida razoavelmente estável. Alguns períodos bons, limpo, abstêmio de droga, de tudo, porém acabava voltando porque eu tentava sozinho e sozinho eu nunca consegui. Agora isso me ajuda”, frisa.
Visual das pedaladas no Insta
Em seu Instagram pessoal (@naestradabikeroots), ele posta vídeos e imagens do que consegue contemplar com seus próprios olhos. “Um dos grandes lances que eu falo com meus amigos é sobre ver com os próprios olhos, porque quando a gente vê na televisão é bonito, quando a gente vê a fotografia no celular é muito bonito, mas com os próprios olhos é incrível”, resume Cunha, que se sente privilegiado de sair de uma vida conturbada para viver na estrada, levando Novo Hamburgo no coração, cidade onde vive sua mãe Maria Pereira de Vargas, a mulher incrível, como ele frisa.
LEIA TAMBÉM