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NEGLIGÊNCIA EM PARTO

"Eu sei que não vou sair com vida daqui": Morte de mulher que teve gaze esquecida no corpo completa 1 ano

Caso de negligência aconteceu em agosto do ano passado no hospital de Parobé; médico se tornou réu em processo que tramita na Justiça

Kassiane Michel
Publicado em: 23/08/2024 às 06h:33 Última atualização: 23/08/2024 às 06h:34
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“Eu só quero justiça.” A declaração já foi dita diversas vezes nos últimos 12 meses por uma família da região. A mãe, o companheiro e os filhos de Mariane Rosa da Silva Aita não se conformam com a morte da mulher, vítima de negligência durante o parto da caçula no Hospital Francisco de Assis (HSFA), em Parobé.

Mariane Rosa da Silva Aita | abc+



Mariane Rosa da Silva Aita

Foto: Arquivo pessoal

Há exatamente um ano, no dia 23 de agosto de 2023, Mariane morreu aos 39 anos. Cerca de dois meses antes da fatalidade, no dia 12 de junho, ela passou por uma cesárea e deu à luz a uma menina no Hospital São Francisco de Assis, em Parobé.

Cesárea ocorreu no Hospital São Francisco de Assis | abc+



Cesárea ocorreu no Hospital São Francisco de Assis

Foto: Kassiane Michel/GES-Especial

Após a alta hospitalar, ela começou a sentir dores no abdômen e chegou a consultar médicos no Vale do Paranhana. Até que, em 14 de agosto, procurou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, para onde havia se mudado. Parentes afirmam que um exame de ultrassom constatou que havia uma gaze na parte esquerda inferior do abdômen dela.

Então, Mariane foi transferida e voltou ao mesmo hospital onde a filha mais nova nasceu. Passou por duas cirurgias e chegou a ser encaminhada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da casa de saúde, mas não resistiu. O caso causou grande comoção na região.

O companheiro, Cristiano da Silva, 46, lembra dos últimos momentos com ela no hospital. “Ainda consciente, ela pega e diz para mim: ‘cuida bem da nossa filha, que eu sei que não vou sair com vida daqui'”, conta. Ele salienta que se sentiu de “mãos atadas” ao ver a mulher naquela situação, sem conseguir ajudá-la. 

Desempregado, Cristiano espera que os processos na Justiça possam garantir uma condição melhor para sua bebê e para os demais filhos de Mariane. “Eu ajudo como posso. Mas eu trabalho de dia pra comer de noite, é muita coisa. Eu preferia ela do que o dinheiro, ela viva aqui do meu lado, mas nós temos que ter uma reparação para as crianças, porque as coisas não estão fáceis. Eu só quero justiça”, destaca.

Mariane Rosa da Silva Aita | abc+



Mariane Rosa da Silva Aita

Foto: Arquivo pessoal

“Estava sempre de bem com a vida”, lembra a mãe

O desafio da família agora é cuidar das crianças, com idades entre 1 e 12 anos, além de um jovem de 23, que também necessita de cuidados. A avó materna, Márcia Rosa da Silva, foi quem assumiu a tarefa de cuidar de cinco dos seis netos em Novo Hamburgo. Uma das meninas, de 11 anos, mora com outra parente.

Como a filha havia se mudado para perto e chegou a passar seus últimos dias na casa da mãe, Márcia diz que há lembranças por todos os cantos. “A gente sentava, tomava chimarrão e conversava bastante”, lembra. “Quando eu sento na área para tomar um café, sempre falta alguém”, completa.

Segundo a mãe, Mariane era uma pessoa bem humorada. “Estava sempre de bem com a vida. Uma pessoa que não reclamava de nada, é uma pessoa para quem tudo estava bom”, fala.

No último ano, Márcia tem dedicado sua vida aos netos. “Ainda bem que as pessoas aqui me ajudam. Os vizinhos, o pessoal da escola. As crianças estão sendo tratadas em psicólogo e um deles no psiquiatra. Mudou totalmente a vida deles. Mudou tudo, mudou a vida de nós todos.”

Para os filhos, Mariane se tornou uma estrela para a qual eles olham todas as noites. “Digo pra eles que ela [a estrela] é a mãe deles. Eles vêm aqui no portão à noite, abanam e conversam com ela.”

É nos pequenos que a mãe de Mariane encontra força para enfrentar o desafio e seguir com a vida mesmo com o luto. Quanto ao médico responsável pelo parto, ela espera que ele responda pela negligência na Justiça. “Eu espero que ele nunca mais pegue em um bisturi.”

Médico foi impedido pela Justiça de fazer cirurgias

A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) contra o obstetra Joaquim Dellamora Mello, responsável pela cesárea de Mariane, e suspendeu a atividade cirúrgica dele até o julgamento do processo do qual é réu. O documento foi recebido pela 2ª Vara Judicial da comarca de Parobé no fim de julho.

O médico foi afastado pelo hospital dois dias após o óbito, em 25 de agosto. Em julho, a Associação Beneficente de Parobé confirmou à reportagem que ele não faz mais parte do quadro de funcionários desde o ano passado.

Investigação

Em novembro, a Polícia Civil indiciou o médico por homicídio culposo e enviou a denúncia ao MP no dia 1º daquele mês. O corpo da vítima chegou a passar por necropsia e, durante a investigação, a Polícia encontrou indícios de negligência na conduta do médico.

 

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