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SUPERANDO BARREIRAS

Escola em Canela é referência em inclusão de alunos com deficiência na rede regular de educação

Dos 575 alunos matriculados, 34 possuem alguma condição, a mais recorrente é o TEA, mas há também mobilidade reduzida, questões intelectuais, cegueira e síndrome de Down

Mônica Pereira
Publicado em: 30/08/2024 às 08h:07 Última atualização: 30/08/2024 às 08h:08
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Viver em um ambiente de diversidade é benéfico para todo mundo. Durante a infância, é ainda mais positivo. É pelas crianças que se começa a criar futuro com mais empatia e respeito às diversidades. Esse é o caminho para quebrar preconceitos e construir uma sociedade mais igualitária. Como fazer isso? Com acolhimento, afeto e, principalmente, inclusão.

Davi Pacheco dos Santos tem 9 anos e é aluno da escola João Alfredo Corrêa Pinto



Davi Pacheco dos Santos tem 9 anos e é aluno da escola João Alfredo Corrêa Pinto

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

É por isso que o Brasil inteiro promove a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, entre os dias 21 e 28 de agosto. Mas mais do que isso, essa inclusão precisa acontecer durante o ano todo, assim como na Escola João Alfredo Corrêa Pinto, em Canela.

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Com a união de esforços entre o Centro de Atenção e Desenvolvimento Integral ao Estudante (Cadie) e as escolas da cidade, 220 crianças com deficiência em Canela estão na rede municipal regular. Apesar de ser um direito garantido em lei, na prática, desafios precisam ser superados diariamente.

“Todo mundo é capaz de aprender. Precisamos criar movimentos para quebrar paradigmas, porque é a partir disso que as coisas se transformam”, destaca a psicóloga Janine Palodetti, que faz parte da equipe do Cadie, que é vinculado à Secretaria da Educação. A escola João Alfredo é a que mais tem estudantes com deficiência na rede regular.

Janine, Marilene, Deise e Ana



Janine, Marilene, Deise e Ana

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Dos 575 alunos matriculados, 34 possuem alguma condição, a mais recorrente é o Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas há também mobilidade reduzida, questões intelectuais, cegueira e síndrome de Down. “Foi um movimento natural da instituição e que começou há alguns anos”, atesta a coordenadora do Cadie, Deise Schnidger.

Janine explica que esses estudantes recebem um plano de educação específico com metas estabelecidas para cada um. Nas turmas, quando necessário, os professores buscam um pareamento para trabalhar os conteúdos. “Mesmo que seja de uma maneira diferente, esses alunos com deficiência estão aprendendo, estão tendo contanto com as disciplinas”, aponta a psicóloga.

“Tem algo histórico que a gente precisa mudar, que é a exclusão das pessoas com deficiência da sociedade. Elas são colocadas em um lugar de incapacidade, de isolamento, de impotência. O primeiro passo é que elas estejam inseridas nesses espaços sociais, começando nas escolas, em que estarão em um ambiente potente. Elas são capazes e muito, cada uma com suas possibilidades”, ressalta Janine.

“A gente não só abre as portas, mas dá boas-vindas”

Alice Fagundes tem 7 anos e é aluna da escola João Alfredo Corrêa Pinto



Alice Fagundes tem 7 anos e é aluna da escola João Alfredo Corrêa Pinto

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Ana Paula Zini é a diretora da João Alfredo. Para ela, o olhar para a inclusão é o diferencial da escola. Ela acentua o comprometimento de todos os professores e equipes nesse processo. “Aqui na escola a gente não só abre as portas, mas dá boas-vindas. Isso que é inclusão. Fazemos o possível para que todos os alunos se sintam bem, acolhidos”, declara.

Com apoio do Cadie, são oportunizadas formações aos professores e disponibilizados materiais pedagógicos para que possam aprimorar o ensino. “É clichê, mas tem que ter amor, carinho, vontade de aprender e correr atrás de conhecimento. É um trabalho cooperativo”, completa Janine.

Um dos exemplos é com a aluna Alice Vitória Fagundes, 7 anos, autista de suporte dois. A menina tem uma caixa com vários recursos que a ajudam nas aulas. Tudo feito na escola e com apoio dos professores.

“Eu não aguentava mais ouvir não”

Turma do Davi Cavallin na Escola João Alfredo Corrêa Pinto, referência em inclusão em Canela



Turma do Davi Cavallin na Escola João Alfredo Corrêa Pinto, referência em inclusão em Canela

Foto: Fotos Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

“Eu não aguentava mais ouvir não.” O relato é da manicure Marilene Pioner, de 43 anos. Ela é a mãe do Davi Cavallin, de 7 anos, que possui diagnóstico de síndrome de Down e autismo. Marilene descreve que foi difícil matricular o filho na rede regular para ingressar no ensino fundamental. “Eu ia nas escolas e diziam que não tinham mais vagas, achavam um monte de desculpas para eu não conseguir matricular o Davi”, pondera.

Foi então que o Cadie auxiliou nessa etapa e o pequeno começou a frequentar as aulas na João Alfredo. “Eu estava bem receosa, mas foi lindo ver ele no primeiro dia de aula. As crianças sabiam que ele ia vir e deram boas-vindas, fizeram festa. Elas são inspiração para o Davi e ele para elas”, avalia Marilene.

A psicóloga Janine esclarece que essa troca de vivências e experiências é importante de forma mútua. “Para além da questão do ler e escrever, a escola tem o papel de inserir a criança na sociedade”, reforça, destacando que há uma luta constante para que as escolas entendam que incluir crianças com deficiência é lei, e não uma opção.

Nas aulas, o Davi aprende a interagir, responder comandos, melhorar a parte motora, além, claro, de brincar. “É muito bom para o meu filho estar em uma escola grande, ver como o mundo é. Quero que ele seja independente, que trabalhe. Ele está sendo preparado para a vida aqui”, frisa. “É excelente que ele crie vínculos, aprenda a ter uma rotina, venha à escola todos os dias. Isso é muito importante para o Davi do futuro”, acrescenta Deise.

Autonomia e cuidado com o próximo

Davi Cavallin tem 7 anos e é aluno da escola João Alfredo Corrêa Pinto



Davi Cavallin tem 7 anos e é aluno da escola João Alfredo Corrêa Pinto

Foto: fotos Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Bruna Kindlein é a professora da turma do Davi Cavallin. Ela salienta que o processo de inclusão foi fácil, pois teve a colaboração de todas as crianças. Em relação aos conteúdos, procura alguma similaridade entre os currículos. Mesmo com finalidades diferentes, os alunos estavam realizando atividades com dinheiro. “É bonito ver o carinho deles juntos. Todos se ajudam e isso promove o desenvolvimento de autonomia, de cuidado”, enfatiza Bruna.

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Davi tem independência dentro da escola

Davi Pacheco dos Santos tem 9 anos e é aluno da escola João Alfredo Corrêa Pinto



Davi Pacheco dos Santos tem 9 anos e é aluno da escola João Alfredo Corrêa Pinto

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

É com muita naturalidade que o Davi Pacheco dos Santos, de 9 anos, locomove-se pela escola. Mesmo sem enxergar, ele conhece cada canto da estrutura e tem total independência para ir de um lugar ao outro. Davi é cego há seis anos, devido a uma retinopatia, lesão que atinge os vasos sanguíneos presentes na retina.

Atualmente no 4º ano, Davi está na escola desde o início no ensino fundamental. Ele está alfabetizado em português e em braille. Adquirida pela Secretaria da Educação, uma máquina de escrever fica à disposição dele na escola e ele recebeu treinamento para saber mexer nela sozinho. Aprendendo sobre multiplicação e fração, Davi é rápido ao responder as contas matemáticas.

Deise afirma que agora, após a ampliação da escola, o espaço passará por um processo para adaptação física para colocação de piso tátil.

Davi Pacheco dos Santos tem 9 anos e é aluno da escola João Alfredo Corrêa Pinto



Davi Pacheco dos Santos tem 9 anos e é aluno da escola João Alfredo Corrêa Pinto

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

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