LEGADO
Ernani mantém viva a tradição do jornaleiro em Canoas
Seu Ernani, de 75 anos, trabalha há 33 anos no mesmo endereço
Última atualização: 29/02/2024 09:28
Quem desce ou sobe a passarela que liga a Rua Santos Ferreira, no bairro Marechal Rondon, com a Rua Tiradentes, no Centro de Canoas, passa por uma banca de jornais de um amarelo meio desbotado. Quem atende no local é Ernani Tabille. O jornaleiro de 75 anos mantém viva a tradição das bancas de jornais há mais de três décadas.
Há 33 anos no mesmo local, seu Ernani é de uma época em que jornais, revistas, gibis, figurinhas colecionáveis e palavras-cruzadas faziam parte do cotidiano de adultos e crianças em Canoas. Ele conta que costumava acordar às 5h30 para abrir a banca aos domingos, quando chegava a vender até 200 jornais em apenas uma manhã.
Mudanças
"Sou do tempo em que faziam fila para comprar jornal. Eu chegava a pedir mais, porque às vezes faltava e reclamavam, mas hoje as pessoas não leem mais desse jeito", desabafa. "Hoje só querem saber de vídeo na Internet. Mais fácil. Não precisa nem pensar muito. Está tudo pronto na tela".
A digitalização é considerada o ponto de partida para a queda brusca que sofreram as vendas na banca a partir do início dos anos 2000, quando os computadores e a Internet passaram a invadir os lares brasileiros, gaúchos e canoenses. Até isso acontecer, Ernani viveu anos dourados.
"Hoje as pessoas dão um clique e está tudo pronto. Se quer aprender alguma coisa, vai na Internet que está lá. Só que não era assim antes. Eles compravam revistas para aprender tricô, eletrônica, violão. Estava tudo no papel. E depois passavam aqui para me dizer que a revista ajudou muito".
Ernani disse que nem tanto pela idade, mas pela falta da necessidade, anda fechando a banca diariamente ao meio-dia. Ele conta que somente os jornais mantêm vivo o interesse da clientela pela antiga banca. "Passam e pegam um Diário de Canoas para ir lendo no trem ou quando chegar no serviço. O jornal informa e isso não muda".
Só pela promessa
Ao passar pela banca do jornaleiro, é possível observá-lo com os cabelos grisalhos compridos e a barba longa. Alguém pode achar o visual curioso, mas até os cabelos longos e a barba têm sua própria história na vida do seu Ernani.
O veterano jornaleiro explica que perdeu a mulher há três anos. Nanci Teresinha da Silva Tabille morreu aos 64 anos vítima de um câncer. E como era ela quem cortava o cabelo e fazia a barba do marido, o trabalhador resolveu deixar de se preocupar com isso: "Prometi que não corto mais e não vou cortar mesmo".