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ENTREVISTA EXCLUSIVA

Em passagem pela região, Kadu Moliterno fala sobre a volta aos palcos e etarismo na TV

Após hiato de cinco anos, ator volta ao teatro em O Futuro da Humanidade

Publicado em: 12/04/2024 às 03h:00
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O ator Kadu Moliterno veio a São Leopoldo com a peça O Futuro da Humanidade, que marca o seu retorno aos palcos após um hiato de cinco anos – sua última peça havia sido a comédia Um Casamento Feliz, em 2019 -, e mostrou que a disposição para atuar e emocionar segue tão acesa como na época em que encarnou o icônico Juba, da série de televisão Armação Ilimitada, nos anos 1980, na TV Globo.

O ator Kadu Molinterno veio até São Leopoldo para com a peça O Futuro da Humanidade



O ator Kadu Molinterno veio até São Leopoldo para com a peça O Futuro da Humanidade

Foto: Amanda Krohn/Especial

Aos 71 anos (completa 72 em junho), sem aparentar a chamada “terceira idade”, e já com 54 anos de carreira, em O Futuro da Humanidade ele interpreta o professor de filosofia Falcão, que vive nas ruas. Na trama, guia o jovem psiquiatra Marco Polo, que luta por humanização nos tratamentos psiquiátricos.

Em entrevista exclusiva ao Grupo Sinos, Kadu falou sobre sua carreira, o desejo de retornar à TV, os obstáculos pela idade e deu suas impressões sobre a peça, baseada na obra de Augusto Cury.

Entrevista

XYZ – Como é voltar aos palcos após essa pausa de cinco anos?

Kadu Moliterno – É como um recomeço, né? É uma aventura, ser ator nesse país é uma grande aventura! E eu fiquei não só fora dos palcos, mas da TV também, porque na pandemia o mercado fechou. Então, é uma alegria voltar, ainda mais com um personagem tão importante como esse.

XYZ – Em diversas entrevistas, você cita o etarismo e o fato de que as emissoras estão priorizando nomes mais jovens, que contem com mais seguidores nas redes sociais. Como isso interfere na qualidade das produções e na sociedade como um todo?

Kadu – Interfere completamente. Acho que são outros tempos, mas eu sinto que abrir mão dos veteranos, aqueles que colaboraram para construir a história da TV brasileira, é um engano. E a audiência percebe isso, sente essa falta e que deveria haver uma mescla. Porque talento não se discute: uma pessoa pode ter milhões de seguidores e ter talento, outra pode ter milhões de seguidores e não ter talento, aí é uma questão de direção. Mas os autores não estão escrevendo para os mais velhos. Aí é que está o etarismo, penso.

XYZ – Em uma entrevista, você afirmou que quem não faz novela não é conhecido, referindo-se à desvalorização do teatro. E a gente nota que o elenco de O Futuro da Humanidade é composto por atores menos conhecidos, valorizando o currículo deles. Pode comentar sobre isso?

Kadu – É um mercado de trabalho. O que eu sinto no público é o seguinte: quando você cita o nome do Guilherme Luzeda, que faz três personagens importantíssimos, ou o próprio Rodrigo Benkes, ou a Silvana, eles (o público) dizem que não os conhecem. Conhecem mais o Guilherme porque ele faz um programa de TV. A TV é o que dá visibilidade, o teatro é só para quem gosta, e ele defende essa arte. Temos um elenco que não é de iniciantes, tem poucos seguidores, mas são atores de verdade, que o público passa a conhecer no momento em assiste ao espetáculo.

XYZ – A peça na qual está atuando, O Futuro da Humanidade, aborda o excesso da medicação em tratamentos na saúde mental e a busca pela humanização em tratamentos. Na sua visão, qual é a importância de abordar assuntos como este no teatro?

Kadu – A importância é suprema, porque saúde mental é tudo, principalmente nos dias atuais: com a tecnologia avançando, existe uma pandemia de problemas. Então não adianta só você dar uma tarja preta, porque não vai resolver esse problema. O Augusto Cury consegue demonstrar isso defendendo a alma humana, o carinho, o afeto, a aproximação das pessoas. Então é um espetáculo que ao mesmo tempo em que você se diverte, você ri, você chora, você sai modificado, acaba pensando na sua trajetória de vida.

XYZ – Na peça, você interpreta o professor de filosofia Falcão, que sofre de distúrbios mentais, vive nas ruas e guia o protagonista na jornada de conhecimento da mente humana. Como foi a sua experiência para entrar na realidade deste personagem?

Kadu – Iguais ao Falcão, existem milhares. Pessoas que vivem na rua, que abandonaram a vida social por algum motivo, algum trauma. No caso do Falcão, é claro que ele tem um problema que as pessoas vão descobrir na peça, não dá para dar spoiler, mas a verdade vai estar sempre presente em suas palavras. Uma pessoa que abandona a vida social e vive na rua por opção é um ser iluminado, é um ser verdadeiro.

XYZ – E qual é a maior angústia deste personagem?

Kadu – Acho que vamos voltar ao spoiler, mas é uma questão familiar: um filho que ele não vê há vinte anos, mas o público precisa assistir à peça para saber exatamente qual é a história.

XYZ – Já que estamos falando na abordagem de temas sociais no teatro, como você enxerga o papel da cultura como um todo nessa missão de conscientização e promoção da empatia?

Kadu – A cultura é a base da civilização, quem não apoia a cultura está andando para trás, porque é na cultura e na educação que se evolui.

54 anos de carreira na TV marcados com pioneirismos

Carlos Eduardo (o Kadu) Moliterno começou a carreira de ator, após investida improvisada como modelo, como a versão jovem do personagem de Fulvio Stefanini na telenovela As Pupilas do Sr. Reitor, em 1970, na Record. Aos 20 anos, já encarnava o protagonista de O Príncipe e o Mendigo na emissora. E aí a fama veio. Estreou na Globo em Selva de Pedra (72) e fez A Viagem na Tupi (76). Mas foi como Billy (o primeiro surfista das telenovelas) que arrasou em O Pulo do Gato (Globo, em 78) e aí iniciou sua paixão pelo surfe.

Kadu Moliterno em Armação Ilimitada com Andrea Beltrão, André De Biase e Jonas Torres



Kadu Moliterno em Armação Ilimitada com Andrea Beltrão, André De Biase e Jonas Torres

Foto: Fotos Divulgação/TV Globo

E aí literalmente surfou entre vários sucessos, como Cabocla, As 3 Marias, Água Viva, Brilhante e Paraíso, na qual encarnou Zé Eleutério, o “filho do diabo”. Mas foi como Juba, de Armação Ilimitada, que conquistou a todos, em projeto jovem criado por ele ao lado de André De Biase. Foram três anos de sucesso (1985-88) e mais o spin-off Juba e Lula (89) em um programa inovador visualmente e na linguagem.

Vieram outras novelas e séries (O Dono do Mundo, Anos Rebeldes, 4 por 4, Anjo Mau, Malhação) até a fase em que o contrato coma Globo acabou e foi para a Record, onde fez A Terra Prometida, Belaventura e Topíssima (2019), sua última telenovela. Pai de três filhos (Kenui, Lanai e Kawai), descasado e hoje em uma relação com a fisiculturista Cristianne Rodriguez, o teatro marca a volta do ator Kadu. E, às vésperas dos 72 anos, ele quer mais, muito mais…

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