O El Niño, que começou em 8 de junho, poderá ter a duração de um ano. É isso que aponta a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), departamento do governo dos Estados Unidos que acompanha o aquecimento das águas. Segundo um relatório divulgado no começo de novembro, há 62% de chance do fenômeno durar até abril-junho de 2024.
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Segundo os meteorologistas, o El Niño já atingiu o patamar de “forte”, com potencial para ser um Super El Niño. Na prática, isso significa ainda mais chuva para o Rio Grande do Sul e secas para a região Norte, além de temperaturas escaldantes para o Centro do País.
A previsão é que dezembro, janeiro e fevereiro registrem volumes de precipitação acima da média para o território gaúcho e Santa Catarina, média que já subiu neste ano por conta dos episódios extremos. “Não podemos descartar novas enchentes, mesmo não desejando que elas sejam recordes, existe essa possibilidade”, diz o climatologista e coordenador do Departamento e Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Francisco Aquino.
Conforme Aquino, os cientistas observam que há um volume de água quente no Oceano Pacífico se deslocando em direção à América do Sul, o que deve contribuir para o El Niño atingir o ápice, provavelmente, até janeiro. O pesquisador explica que se as condições seguirem se intensificando, pode se transformar em um super El Niño, embora neste momento o fenômeno seja caracterizado como intenso.
De acordo com ele, o inverno na América do Sul foi o mais quente de todos já vistos, ocorrendo o mesmo com o outono até agora. “Está difícil a gente não ter pela frente aumento da temperatura média anual e constantes recordes de temperaturas, o que não deve ser diferente no verão no Rio Grande do Sul”, observa.
Marcas históricas
No ano de 2023, quebra de marca histórica e recorde são palavras que viraram rotineiras. Em São Sebastião do Caí, por exemplo, o Rio Caí registrou 16 metros, o que jamais havia acontecido em 148 anos. A cidade do Rio de Janeiro, em 18 de novembro (enquanto o Sul no Brasil sofria com chuvas torrenciais), registrou 42,5º graus, com sensação térmica batendo os 60 graus. O Estado do Amazonas enfrenta seca severa, com o Rio Negro alcançando a pior marca em 121 anos, quando começaram as medições. Ainda no Rio Grande no Sul, Gramado viu um prédio desabar porque o terreno cedeu e há riscos de mais desmoronamentos acontecerem.
Questionado sobre o cenário que se desenha para a cidade nos próximos meses, caso a previsão climática se confirme, o prefeito de São Sebastião do Caí, Júlio Campani, declara. “Se vier outra grande enchente, nestas proporções, será igual ou pior. Essa foi a maior catástrofe já vista na nossa cidade”, salienta. “Não tem como ir contra a natureza. Mas neste momento estamos focados na limpeza para minimamente voltar à normalidade”, diz. A cidade teve 80% do seu território atingido pela cheia.
Crescimento desordenado
Ao apresentar um balanço das ações que o governo do Estado tomou para enfrentar os problemas deixados pelos eventos climáticos extremos durante o seminário Realidade das Mudanças Climáticas: os desafios da Governança e da Reconstrução, promovido pelo Ministério Público do Estado, o vice-governador Gabriel Souza disparou. “Não sei se muitas cidades não terão que mudar de lugar. Mas é algo a ser avaliado”, disse em evento no Ministério Público. De acordo com ele, a mudança de endereço do hospital de Roca Sales, recentemente reaberto, já é dada como certa, visto que a casa de saúde fica às margens do Rio Taquari.
Sobre a possibilidade de reorganizar São Sebastião do Caí a fim de escapar das enchentes, o prefeito declara que “não tem como fazer”, já que a cidade se desenvolveu durante 148 anos a partir do Rio Caí em direção à região central. “Não existe planejamento estratégico que possa minimizar os efeitos. Não tem como replanejar uma cidade. É uma coisa surreal”, enfatiza.
Necessidade extrema de ações emergenciais
Segundo o vice-governador, estudos apontam que desde 1995 o Rio Grande do Sul teve R$ 41 bilhões de perdas econômicas em razão de eventos climáticos, sendo seis estiagens severas nos últimos 20 anos, com as três piores nos últimos três anos.
Também participou do seminário do MP, a secretária estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kaufmann, que destacou a “necessidade extrema” da sociedade buscar ações emergenciais para ter adaptação e resiliência climática. “Não podemos ter a arrogância de achar que podemos mudar tudo de uma hora para outra. Não é mais uma coisa para netos ou filhos, é para a nossa vida”, comentou.
Gabinete de Crise Climática
Depois de praticamente um mês do anúncio oficial de criação do Gabinete de Crise Climática (GCC), o governo do Estado publicou na terça-feira (21) o decreto que cria o novo serviço.
A atuação do GCC será dividida em três eixos: prevenção, mitigação e preparação; resposta; e restabelecimento e recuperação. Os eixos serão divididos em comitês de adaptação e resiliência; de monitoramento e alertas; de socorro; de assistência humanitária; de restabelecimento e reconstrução; e de recuperação.
Mas na prática, as ferramentas ofertadas pelo governo para acompanhar o clima ainda continuam as mesmas. O acompanhamento da medição dos rios e do volume de chuvas, por exemplo, não ocorre em tempo real, com as plataformas tendo lapsos de registros.
Em Novo Hamburgo, por exemplo, a Defesa Civil considera os dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Mas como o sistema volta e meia fica fora do ar, o órgão troca informações com outras defesas civis para buscar dados atualizados.
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Inclusive, no Vale dos Sinos, foi criado um grupo com Campo Bom, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Esteio e Canoas, como o propósito de ajuda mútua quanto ao repasse destas informações, como informa o chefe operacional da Defesa Civil de Novo Hamburgo Arci Darci Fetter Júnior.
Eventos extremos de 2023
Ciclones extratropicais
- 15 de junho: Caraá e Maquiné
- 13 de julho: Sede Nova
Enxurradas e inundações bruscas
- 2 a 6 de setembro: Vale do Taquari
Granizo e inundações
- 23 de setembro: Bagé
- 26 a 29 de setembro: Rio Grande e Pelotas
- 4 de outubro: São Borja, Itaqui e Uruguaiana
- 3 de novembro: Barra do Rio Azul
- Desde 17 de novembro: Vale do Taquari, Vale do Caí e Serra
Fonte: Governo RS
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