ELE VEM AÍ
EL NIÑO: Entenda o fenômeno climático que deve trazer de volta chuvas com potencial para enchentes
Fenômeno chegará ao RS com o inverno e pode impactar na agricultura além de trazer problemas como alagamentos
Última atualização: 26/03/2024 19:49
Um fenômeno climático de impacto global está previsto para começar até meados do inverno no Rio Grande do Sul.
O El Niño, que deixou marcas no Estado especialmente em 2015, com altíssimos volumes de chuvas que provocaram alagamentos, perdas nas lavouras, retirou pessoas de suas casas e fechou comportas do Cais Mauá, na capital gaúcha, está nas previsões meteorológicas de começar entre a segunda semana de junho e primeira metade de julho.
"No Rio Grande do Sul, de uma forma geral, tende a ter mais chuva que a média na segunda metade do inverno, com o El Niño instalado, e ao longo da primavera e o próximo verão. Quanto à evolução do fenômeno, modelos indicam que ele vai até outono de 2024", detalha a meteorologista da MetSul, Estael Sias. O gráfico abaixo mostra seu comportamento em comparação com uma normalidade climática.
Estael salienta que no inverno gaúcho, que sob condições normais já tem aumento da chuva com a passagem mais lenta de frentes frias e atuação de ciclones, poderá ter eventos mais potentes e duradouros elevando os índices pluviométricos. "Em síntese trazendo mais chuva que o normal com risco de alagamentos e enchentes. A frequência da chuva poderá aumentar também", sustenta.
Não há uma definição técnica de super El Niño. Considera-se muito forte se as temperaturas estão ao redor ou acima de 2,5°C acima do normal na região central do Oceano Pacífico equatorial. "Há potencial que seja Super El Niño quando se fala no campo de previsão", reforça.
Prevenção
Com o aumento da potencialidade de chuvas e tempestades aumentam os riscos de cheias de rios e alagamentos. "As áreas vulneráveis terão mais problemas", acredita Estael. Por conta disso, orienta, é importante que os municípios preparem sua infraestrutura urbana, buscando atitudes preventivas, como limpezas de boca de lobo para drenar o maior volume possível de águas da chuva.
Os municípios devem saber como atender situações de emergência, conscientizar a população de como lidar quando ocorrem os episódios do fenômeno, local de abrigo para população se necessário e quais as rotas alternativas em áreas interditadas. "Deve-se usar como referência 2015", sublinha.
Melhor chuva do que estiagem
Agricultor desde a infância, Samuel Alberto Wilhelm, 27 anos, preocupa-se com a chuva em excesso. Ele planta aipim, batata-doce e milho, nas localidades Quilombo e Quebra Dentes, em Lomba Grande, Novo Hamburgo.
Ele fala dos desafios que precisam ser enfrentados com as chuvas. "Elas podem causar apodrecimento em algumas culturas e transtornos no momento de fazer a colheita", prevê, lembrando ainda de atraso no plantio da safra seguinte.
Por outro lado, diz que o efeito da estiagem é bem mais complicado. "A estiagem nos deixa de mãos atadas. Prefiro mais chuva do que estiagem", completa.
Carlos Rocha, extensionista da Emater/RS-Ascar em Novo Hamburgo, salienta que as as chuvas no inverno são bem-vindas, principalmente depois de uma longa estiagem no Estado. No entanto, ele se refere a uma chuva calma, “não a uma enxurrada”.
Ele explica que as chuvas em excesso prejudicam a agricultura causando alagamentos nas lavouras e baixadas, refletindo em erosões. Em 2015, ano de Super El Niño, relembra Rocha, o bairro rural - assim como vários pontos, foram prejudicados até com a interrupção de acessos. “A chuva é boa se são mansas, para os reservatórios de açudes ficarem cheios com uma reserva para o verão”, destaca.
Outros impactos
Desafios diante das chuvas serão enfrentados. Na agricultura a colheita do trigo e milho, por
exemplo, poderá encontrar um início de primavera com lavouras alagadas. Além disso, o excesso de umidade e água pode afetar o momento de plantar.
“Se ano passado teve que adiar (o plantio) em razão da estiagem, da terra seca esperando a chuva, este ano pode ser que tenha que esperar por excesso de chuva e umidade, mas mesmo com esses desafios há supersafra de verão”, pontua Estael.
A meteorologista também faz outros alertas. O El Niño é um vetor importante de aumento do risco de doenças infecciosas cujos vírus são transportados por insetos (como a dengue, por exemplo).
“O calor e a umidade criam um ambiente mais favorável e podem impactar na saúde
pública. Há vários estudos a respeito”, salienta. Além do mais, pode degradar estradas devido
ao excesso de chuva que afeta os transportes, por exemplo. Ela acrescenta que pode ocorrer maior necessidade de uso dos seguros devido ao risco de aumento de danos a bens materiais.